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Autora recifense lança livro de moda que mistura cronologia e guia de estilo

A jornalista Mônica Ayub assina a obra "Estilo & Atitude - Reflexos da moda: século 19 ao século 21", que ganha sessão de autógrafos nesta quarta-feira (4)

Livro  Estilo & Atitude – Reflexos da moda: século XIX ao século XXILivro Estilo & Atitude – Reflexos da moda: século XIX ao século XXI - Foto: Divulgação

Publicações cronológicas sobre a história da moda não faltam no mercado editorial. Algumas são narrativas muito aprofundadas, que só interessam a estudantes e pesquisadores da área ou iniciados. 

No livro "Estilo & Atitude - Reflexos da moda: século 19 ao século 21", a jornalista Monica Ayub, portanto, não descobriu a roda, mas soube misturar com boa dosagem informação de moda contextualizando historicamente na medida certa para iniciantes. A obra é ainda um guia de estilo, outro filão do mercado editorial de moda que nunca deixa de ser tendência literária.

Consultora de imagem, pessoal e corporativa, Mônica já colaborou com as revistas Marie Claire e Elle, e fazia o quadro "Certo e Errado" do NE TV, da Rede Globo Nordeste. A sua grande dica de estilo? Liberdade. A obra será lançada no dia 4 de outubro, das 19h às 21h30, na Livraria Cultura do Shopping RioMar. A seguir, confira entrevista com a autora para a Folha de Pernambuco:

Qual a principal função da moda para você?
Tenho um olhar diferente para com a moda e respeito muito toda essa indústria que gera bilhões de dólares em divisas e cria centenas de milhões de empregos em todo o mundo. Além do aspecto econômico, o universo da moda é livre, aberto. Cada pessoa tem total liberdade de criar seu modo de vestir (estilo) e sentir-se confortável e segura. Esse é o objetivo da moda: conforto, autoestima, o que leva para a sensação (real) de segurança e a autovalorização. Não importam as tendências. O que importa é como você se sente dentro da roupa que veste. A opinião dos outros não interessa.

O que acha das camisetas como instrumento de exibição de identidade? Ela cabe em todas as ocasiões?
As camisetas passaram a exibir identidade ou rebeldia ou movimentos sociais muito fortemente a partir da década de 1960. Tivemos aqui no Brasil um presidente que fazia uso delas para mostrar seus pensamentos aos brasileiros ou mesmo provocar partidos adversários, na década de 1990. Esse tipo de "cartaz" é válido para muitas das ocasiões, mas há determinados lugares que uma "camiseta atitude" não vai bem. Em um ambiente de trabalho mais sóbrio, em um casamento, deve sempre haver bom senso; seja com uma camiseta, seja com salto 12.

 

Jornalista Monica Ayub lança livro sobre moda

Jornalista Monica Ayub lança livro sobre moda - Crédito: Divulgação

 

Quais são seus ícones de moda?
Chanel, sempre. Ela nunca esqueceu suas origens humildes e tirou partido disso. Suas roupas sempre foram de linhas simples e confortáveis. Sua inspiração eram as roupas do orfanato em que ela viveu na infância. Suas joias sempre misturavam pedras preciosas e bijuterias. Coco Chanel criou muito mais que um estilo. Criou uma forma de vestir que se adapta a todas as mulheres, desde a década de 1920 até hoje. Yves Saint Laurent foi outro gênio. Bebeu da fonte de Christian Dior e popularizou a arte. Sua coleção Mondrian fez com que o mundo todo vivesse e vestisse arte. A partir dele, a arte está nas roupas, nos objetos, permeia toda nossa vida. 

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Quais são as peças mais clássicas da história da moda e que estão em alta no momento?
Algumas peças são atemporais e vieram das classes trabalhadoras: o jeans; a camiseta, que hoje se transforma conforme você muda de acessórios.

Essa cultura da magreza, como você vê? Não acha que a própria indústria torna difícil que as mulheres acima do peso sejam elegantes?
A cultura da magreza foi muito marcante no final da década de 1990 e início dos anos 2000. O problema chegou ao ponto de não mais se permitir meninas magérrimas nas passarelas. Isso não é saudável, e ninguém quer ficar ligado a imagens doentias de meninas pálidas com olheiras profundas.

O mundo hoje vive a sustentabilidade, a vida saudável, o respeito ao meio ambiente. Esse novo olhar melhorou muito a forma como a modelo é vista. As brasileiras Isabeli Fontana, Carol Trentini, Izabel Goulart, Beatriz Barros, Gisele Bündchen não se tornaram famosas pela magreza.

São exemplos de mulheres fisicamente saudáveis e fazem questão de mostrar essa atitude. Preconceito existe e sempre haverá. Continua , claro, sendo um enorme desrespeito às pessoas. Volto ao tema LIBERDADE. Somos pessoas comuns. O "modelo de beleza" somos nós mesmos : altos, baixos, magros, gordos, brancos, negros. A beleza vem de cada um, individualmente. O resto é besteira.
Você vê a sustentabilidade como caminho economicamente irreversível para a moda? Ainda há espaço para essa indústria pensada por estação e mudança de closet a cada seis meses?
Hoje temos exemplos mundiais de famosos que têm respeito verdadeiro ao meio ambiente, às energias sustentáveis, à alimentação saudável. Estilistas estão nesse meio: Alexandre Herchcovitch, Stella McCartney, para citar apenas dois. E as modelos usam essa necessidade de ser sustentável em benefício da própria indústria, do planeta, de suas famílias.

A Semana de Moda de Milão e a de Paris são exemplos atuais dessa atitude. Acabou aquela história de não repetir roupas (isso há anos), de mudar todo o guarda-roupa a cada estação. Ninguém se sujeita mais a regras tolas e ultrapassadas. O mundo requer um outro olhar: mais consciente, mais leve, menos sujeito a "ordens". Essa atitude não é mais tendência; é o caminho para a solução de continuarmos a viver neste planeta.

 

Livro  Estilo & Atitude – Reflexos da moda: século XIX ao século XXI

Livro Estilo & Atitude – Reflexos da moda: século XIX ao século XXI - Crédito: Divulgação 

 

O que a moda reflete hoje? Não acha que ela está muito alienada diante da crise sócio-política-econômica que estamos atravessando? Quais foram os desfiles recentes que abordaram questões sobre esses problemas?
A política permeia a moda, não faz a moda. O que dá o tom é a economia. Se temos liquidez, a moda é vibrante, alegre, colorida. Se temos crise, a moda torna-se mais sisuda. Temos de entender que o vestuário é reflexo de seu tempo. Exatamente por isso, as pessoas se vestem como querem: protesto, indignação, desesperança, alienação.

É um mix de tudo isso que se expressa na moda, como num espelho. Voltamos ao Alexandre Herchcovitch: sua coleção ‘À La Garçonne’ é um bom exemplo: sustentável, reflete o momento econômico, social com alguns toques políticos. Afinal, as camisetas - atitude são perfeitas para este tipo de consciência.

Que item(s) de moda não pegou de jeito nenhum?
Como em todos os segmentos econômicos temos sucessos e fracassos. Sucesso: jeans, minissaia, rasteiras, sapatilha, saltos altos, camiseta. Fracassos: saia balloné e plataformas de mais de dez centímetros de altura.

O que acha da moda genderless (sem definição de gênero)?
Gosto muito. Traz mais liberdade (minha palavra favorita quando o assunto é moda) para cada um criar seu próprio estilo e adotar suas atitudes diante da vida. É uma maneira inteligente de quebrar paradigmas e chutar preconceitos para bem longe.

Você escreveu que ser "você" é um luxo. Quem é Mônica?
Acredito na definição de Voltaire ( 1694/1778), em seu poema “Le Mondain” : “luxo é rir de si mesmo, ter amigos, gargalhar, ter esperança”. Essa é minha visão de luxo também. O resto é bobagem.

Serviço:
"Estilo & Atitude - Reflexos da moda: século 19 ao século 21"
Editora Labrador, 232 páginas 

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