Bordadeiras de Passira fazem exposição no Museu Cais do Sertão
Mostra investe em recursos multissensoriais para humanizar o trabalho das mulheres que resistem à tradição secular em contraponto à produção em série das confecções
Na exposição multissensorial "Bordados de Passira", os bordados ganham status de arte, e aparecem para o público em um local especial, o Museu Cais do Sertão, no Bairro do Recife, de 5 de julho a 5 de agosto. As 40 obras foram produzidas pelas integrantes da Associação das Mulheres Artesãs de Passira (Amap).
Passira, no Agreste de Pernambuco, quer dizer 'acordar suave' em tupi-guarani. Lá o bordado nasceu e virou carteira de identidade do município. Bordar vem de bordo, que por sua vez se origina de proteger.
De fato, mal comparando, tal como os povos indígenas, os bordados resistem bravamente e tentam se proteger da injusta concorrência com a rapidez da máquina industrial da confecção.
Por isso, além das telas, há uma mostra de fotos delas, e uma instalação sonora com seus depoimentos.
A presidente da associação, Maria Lúcia Firmino, 61 anos, diz que aprendeu a bordar quando criança, vendo a mãe fazer o mesmo. Desde 2007, ela e as outras mulheres estão juntas nessa lida gratificante que resulta em vestidos infantis e adultos, além de peças de cama e mesa.
Lúcia conta que elas fazem tudo, da compra do tecido, passando pela modelagem até o bordado. "Vendemos nossos produtos aqui em Passira, no Centro de Artesanato aí do Recife, no Marco Zero, e pela internet, no site www.bordadosdepassira.com.br. Também enviamos pelo correio encomendas que recebemos de pessoas de São Paulo", conta Lúcia.
O cotidiano do trabalho dessas mulheres, em forma de ensaio fotográfico, foi assinado pela fotógrafa Hélia Scheppa, que esteve na cidade duas vezes para fazer os cliques. "Não sabia o que ia encontrar. Só sabia que queria tirá-las do ambiente da associação. Elas bordam em todos os lugares - na calçada, em casa, em cima da cisterna...
São prova de um trabalho manual que resiste ao tempo e à tecnologia, e são também resistentes do ponto de vista feminino, pois bordam e ainda fazem os trabalhos domésticos", declara Hélia.
A fotógrafa resolveu fazer o ensaio em forma de portraits (retratos). "Todas as imagens foram copiadas em canvas (papel-tecido à prova d'água), pois queríamos que a impressão fosse também em um tecido, para fazer um link com o trabalho das mulheres", explica a fotógrafa.
Com nove horas de aula, o workshop será realizado nos dias 25, 26 e 27 de julho, das 14h às 17h, e é gratuito (basta pagar a entrada do museu). Mas é bom correr para se inscrever pelo Facebook do museu, pois apenas 15 vagas estão disponíveis.
E uma feirinha foi armada para tornar possível levar para casa a produção das meninas passirenses.

