"Caçador de marajás": personagens envolvidos com Fernando Collor que não dão entrevista na série
Produção documental do Globoplay tem sete episódios
Jovem, bonito, político carismático e, segundo a Justiça, corrupto. A história do primeiro presidente eleito pelo voto popular pós-regime militar no Brasil, que renunciou ao cargo para fugir de um impeachment, voltou às rodas de conversa com a série documental "Caçador de marajás".
No ar no Globoplay desde 16 de outubro, os sete episódios contam detalhes da vida pessoal e pública de Fernando Collor de Mello, que conquistou o Brasil na mítica eleição nacional de 1989 com uma plataforma anticorrupção e acabou derrubado após denúncias do irmão, Pedro Collor, de envolvimento com esquemas escusos de financiamento pessoal.
Com roteiro e direção de Charly Braun, "Caçador de marajás" reúne depoimentos de nomes como o da cunhada Thereza Collor, viúva de Pedro; do ator e ex-deputado Alexandre Frota, que fez campanha para Collor na eleição de 1989; do ex-presidente e ex-senador Fernando Henrique Cardoso; e dos jornalistas mario Sergio Conti, Eduardo Oinegue, Luís Costa Pinto, Eduardo Bueno, Dora Kramer, Joyce Pascowitch e Ali Kamel; entre outros personagens importantes nas décadas de 1980 e 1990.
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Mas quem ficou de fora das entrevistas? Veja a lista abaixo.
Rosane Collor
A ex-mulher de Collor, hoje conhecida como Rosane Malta, aparece na série apenas em imagens de arquivo e entrevistas antigas. Numa delas, inclusive, a alagoana da pequena cidade de Canapi detalha os sacrifícios religiosos de animais que aconteciam na Casa da Dinda, a residência oficial do casal em Brasília durante o exercício da presidência.
"Mata galinha, boi, vaca. Lá na Casa da Dinda, tem um porão embaixo que ele ficou durante três dias, isolado mesmo. Como se fosse se consagrando. Ele acreditava que, fazendo isso, o mal que as pessoas mandavam para ele, voltava", disse ela numa entrevista dada a Renata Ceribelli.
Claudia Raia
Juntamente com o marido da época, Alexandre Frota, a atriz foi um dos principais nomes da campanha presidencial de Fernando Collor. "Caçador de marajás" mostra diversas peças publicitárias e programas de campanha em que a artista aparece — num deles, ela até entrevista eleitores. Segundo Frota, Renan Calheiros, do núcleo político do candidato a presidente, foi quem procurou o casal". "A gente estava estourado nas novelas", disse o ator.
"Minha gente, só um grande homem pode ser um bom político", diz ela, num dos vídeos da época. "E o Collor é um grande homem. Ele tem dignidade, educação. Ele tem cultura, ele é sério, íntegro. Ele é um homem bem-nascido, que não precisa do dinheiro do povo".
Zélia Cardoso de Mello
Ministra da Fazenda de Collor aos 36 anos, Zélia foi a responsável pelo chamado "Plano Collor", que visava a reduzir a hiperinflação do período a partir da redução da circulação de dinheiro, o que forçaria os preços para baixo. A medida consistia em impedir saques de valores em contas (corrente ou poupança) maiores do 50 mil cruzeiros novos.
O Plano causou rebuliço no país, e a série mostra como Zélia se tornou vidraça. Até a vida pessoal da ministra virou assunto e motivo de escândalo no governo: o envolvimento amoroso com Bernardo Cabral, ministro da Justiça, dizem entrevistados, ajudou a derrubá-la.
à economista vive em Nova York desde que começou a se relacionar com o humorista Chico Anysio. Mesmo após a separação, seguiu na cidade, onde trabalha como consultora.
Lula e Lurian
Luiz Inácio Lula da Silva foi derrotado na disputa direta com Collor no segundo turno da eleição de 1989 mesmo com altas chances de vitória na reta final, como mostra a série. Dois fatores foram preponderantes: o primeiro deles, a aparição de Miriam Cordeiro, mãe de Lurian, filha mais velha de Lula, no programa eleitoral de Collor. Na TV, ela disse que o sindicalista queria que ela fizesse um aborto. A campanha do petista acabou tendo que colocá-lo ao lado da menina, em cadeia nacional, desmentindo a história.
O segundo fator foi um compacto do último debate presidencial, exibido no Jornal Nacional, que dava mais tempo de tela a Collor e uma sensação ao telespectador de que o "caçador de marajás" havia "vencido" a disputa na TV. O próprio Ali Kamel, ex-diretor de jornalismo da TV Globo, comenta na série como o episódio foi um aprendizado na emissora para que debates não sejam mais editados.
Renan Calheiros
Atual senador pelo MDB de Alagoas, Renan fez parte do grupo político de Fernando Collor, sendo um dos principais articulares da candidatura do "caçador de marajás". Quando eleito, Renan fez parte do que se chamou de "República das Alagoas", o grupo dos principais nomes do presidente.
Os dois, no entanto, começam a romper por causa do governo do Estado em 1990, época em que eleição presidencial e estadual aconteciam em anos diferentes. Concorriam ele e Geraldo Bulhões (que tinha o apoio financeiro de PC Farias, tesoureiro da campanha de Collor), com o segundo saindo vitorioso. Renan não perdoou o esforço de PC, que tinha o aval do presidente, e renunciou à posição de líder do governo na Câmara. A partir daí, ele rompeu com o presidente e foi uma das vozes na denúncia de que Fernando estava envolvido nas maracutaias de PC Farias.
Bernardo Cabral
Ex-ministro da Justiça de Fernando Collor, o carioca tem 93 anos atualmente e é considerado um dos mais respeitados advogados do Brasil. Casado, ele teve um romance com Zélia considerado um escândalo para o governo. Na época, a notícia vazou na imprensa por causa da dança dos dois na festa de aniversário dela, quando dançaram o clássico "Besame mucho".
Cabral teve que renunciar ao cargo após o desgaste com o caso; Zélia, pouco depois, foi demitida.

