Carlos Malta e Pife Muderno celebra Edu Lobo em novo álbum, lançado nesta terça (11)
"Edu Pife" reúne 13 canções apresentadas em 12 faixas garimpadas na rica discografia do artista, desde seu primeiro compacto, lançado em 1962
A obra do compositor, multi-instrumentista, arranjador e cantor Edu Lobo foi a matéria-prima para “Edu Pife”, novo álbum de Carlos Malta e Pife Muderno em tributo ao compositor carioca, lançado hoje nas plataformas digitais.
Idealizado pelo também multi-instrumentista, arranjador e compositor Carlos Malta, fundador do grupo Pife Muderno, o álbum reúne 13 canções apresentadas em 12 faixas garimpadas na rica discografia do artista, desde seu primeiro compacto, lançado em 1962, quando tinha 19 anos.
“Edu fez 80 anos recentemente e a gente resolveu fazer esse presente para ele. A música do Edu há muitos anos frequenta o meu imaginário criativo”, conta Carlos Malta.
“Desde o primeiro disco do Pife Muderno [1999], quando a gente gravou uma versão linda de ‘Ponteio’, e lá atrás, quando pequeno, fiquei encantado com o Edu cantando 'Ponteio' no Festival de Música Popular Brasileira, na Record, em 1967”, conta Carlos Malta, que lembra de ouvir, aos sete anos, a canção vencedora daquele festival.
Sobre o álbum
Com direção musical e os arranjos assinados por Carlos Malta, que gravou junto com a banda no estúdio da Biscoito Fino, o disco traz elementos da música popular brasileira, bossa nova, jazz e referências da cultura popular nordestina.
“Fazer essa transposição da música do Edu para uma banda como a nossa é sempre desafiador. E ele tem uma admiração enorme pelo Pife Muderno, nunca escondeu isso, declarou isso várias vezes, falando que é uma das coisas mais lindas da música popular, uma obra-prima”, lembra Malta.
Além de celebrar as oito décadas de Edu Lobo, o disco marca ainda os 30 anos do Pife Muderno, com participações especiais de Hermeto Pascoal (voz no copo, percussão corporal e escaleta, em “Vento Bravo”); Jaques Morelenbaum (violoncelo em “Repente”), além do próprio Edu Lobo, que faz um dueto em vocalises com o talentoso cantor da nova geração Matu Miranda, nos clássicos “Zanzibar”, “Casa Forte” e “Água verde”.
Pife Muderno
A música de Edu faz parte do DNA musical de Malta, que estudava flauta tocando com seus álbuns “Cantiga de longe”, “Missa breve”, “Limite das águas” e o “Grande Circo Místico”, fontes de inspiração para as releituras do Pife Muderno.
Fundado em 1994, no Rio de Janeiro, o grupo tem uma formação minimalista: dois flautistas (Carlos Malta e Andrea Ernest Dias) e quatro percussionistas (Marcus Suzano, Bernardo Aguiar, Durval Pereira e o estreante Fofo Black).
"Edulobês"
Além das participações de Hermeto Pascoal e Jaques Morelenbaum, o álbum conta com vozes do jovem cantor e compositor mato-grossense Matu Miranda que, para abrir vozes junto com Edu Lobo, precisou decupar o “edulobês”, que é como Carlos Malta chama a fonética que Edu criou para suas músicas instrumentais, a exemplo de “Zanzibar”.
“Ele sai cantando fonemas. Então, essas músicas nunca tiveram letra e ele gosta que elas não tenham letra e, sim, essa coisa assim ‘Padabadá’. Então, a gente brinca que é 'edulobês' o idioma que ele sai inventando. Matu Miranda, nosso jovem convidado, dobrou as vozes com o Edu, decupou esse idioma todo, escreveu e ficou muito lindo, porque as duas vozes timbraram muito bem”, relata.
Instrumentação
Andrea Ernest Dias gravou flautas (picolo, soprano, alto e baixo) e pífanos e é a parceira dos metais de Carlos Malta, que também toca o saxofone soprano e triângulo.
O naipe de percussão é formado por Marcos Suzano (pandeiros e cuíca), Bernardo Aguiar (Pandeiros, sementes), Durval Pereira (zabumba, reco-reco, pandeiro) e Fofo Black (caixa, pratos, berimbau), que estreia no grupo e traz a força sonora do Maranhão, enriquecendo ainda mais a sonoridade do Pife.
Carlos Malta e Edu Lobo | Foto: Maria Mazillo/DivulgaçãoEdu Lobo por Carlos Malta
“Eu tinha apenas 7 anos quando, de repente, fui tomado por um sentimento, uma emoção que nunca havia experimentado. Assistia ao Festival da Canção, 1967, e o jovem Edu Lobo tocava sua viola e cantava seu “Ponteio” contando “era 1 era 2 era 100, era o mundo chegando e ninguém....
A cada verso eu viajava com o violeiro e seu cantador, criador de melodias que vêm da nascente mais pura da música do Brasil e do planeta. ‘Ponteio’ é para mim um mapa de vida, carta náutica para navegar nos mares bravios da missão de ser músico.
Edu é meu mestre e timoneiro desde então, trazendo em sua obra a estética sonora dos grandes compositores-arranjadores, revelando sonoridades, estilos e instrumentos-instrumentistas. Seus discos são verdadeiras aulas de arte musical, popular e erudita, tradicional e moderna.
Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar, Ponteio!” virou um mantra em minha vida, e eu só troquei a viola pela flauta. Aliás, a flauta é quem emula o ponteado da viola nessa música emblemática. Além de surgir em vários outrosmomentos marcantes, como uma porta-voz na obra de Edu Lobo.
Hermeto Pascoal estava junto com Edu em 67, e aquela flauta marcou minha alma. Que sorte encontrar meus guias musicais com 7 anos de vida! A Música me levou a encontrá-los em palcos e estúdios: com Hermeto num ciclo de 12 anos, e com Edu desde 1997, em diversos projetos, incluindo a comemoração dos seus 70 anos, e agora com a maior homenagem que eu poderia fazer a ele, Edu Todo.
E seguimos um ciclo em aberto, de amizade e parceria... Ô sorte! Homenagear meu mestre é agradecer por tudo o que ele cria e realiza em sua admirável trajetória de beleza e música linda!”
ENTREVISTA
Quais as interseções da obra de Edu Lobo e o Pife Moderno que estão presentes nesse álbum?
O Pife moderno tem essa coisa que, ao mesmo tempo, exalta o regional e tem uma pegada universal. Então, a gente tem essa essa linha bem entendida entre o que é popular e o erudito. A gente fica nesse meio do caminho, porque o popular precisa de erudição, porque erudição é estudo.
Então, a música do Edu é uma música que requer um aprofundamento no repertório dele. E fazer esse disco foi muito lindo, compor os arranjos e trazer para o Pife moderno a sonoridade de canções que às vezes pegam pela letra, mas como não tem a letra, a gente traz um ambiente sonoro surpreendente. Eu acho que a parte surpresa do álbum está aí.
Como se deu a escolha das músicas em que Edu Lobo participa?
O Edu participa de três faixas. Faixas que nunca tiveram letra. Essas músicas dele mesmo falando ‘Não faço questão de botar letra’. Em “Casa Forte”, “Zanzibar” e “Água Verde”, em que ele canta o “Edulobês”.
Como é sua relação pessoal com Edu Lobo?
Sou bem próximo a ele. Trabalhei com o Edu no show de 70 anos, no show de 80 anos, gravei muita coisa com ele, gravei álbum de trilhas sonoras, de coisa para teatro, para cinema. Gravei muita coisa com o Edu, ele é fã do meu som e eu sou fã dele.
Então, a gente tem essa relação de amizade e a música é nosso elo de ligação. Para mim, ele é um dos mais sofisticados compositores. Mesmo uma música pequena dele, para pequena formação, você já sente o tamanho sinfônico da obra. Você pega uma melodia como ‘Beatriz’ e você fala: ‘Nossa, é um gigante”.
Tem algo mais sobre esse novo álbum que você gostaria de destacar?
Gostaria de destacar, claro, sempre a qualidade artística dos meus companheiros, amigos [do Pife Muderno], que vão para 30 anos de parceria. Então, o trabalho impecável do Marcos Suzano, nas percussões, Bernardo Aguiar também nas percussões, do Durval Pereira também nas percussões, Andrea Ernest Dias nas flautas e o Fofo Black que também é a percussão que tá estreando na banda…
A gente gravou esse repertório num toque como se fosse um toque de mestre, sabe, foi uma beleza o trabalho dentro do estúdio, o rendimento muito eficiente, criativo e de muita personalidade. Acho que é esse é o grande barato do Pife Muderno.
Repertório do álbum "Edu Pife":
1. "Abertura do Circo" (Edu Lobo)
2. "Uma vez um caso" (Edu Lobo e Cacaso) e "Viola fora de moda" (Edu Lobo e Capinan)
3. "Zanzibar" (Edu Lobo) Feat: Edu Lobo e Matu Miranda
4. "Vento Bravo" (Edu Lobo e Paulo César Pinheiro) Feat: Hermeto Pascoal
5. "Água Verde" (Edu Lobo e Ruy Guerra) Feat: Edu Lobo e Matu Miranda
6. "Repente" (Edu Lobo e Capinan) Feat: Jaques Morelembaum
7. "Lero-lero" (Edu Lobo e Cacaso)
8. "Casa Forte" (Edu Lobo) Feat: Edu Lobo e Matu Miranda
9. "A história de Lilly Brown" (Edu Lobo e Chico Buarque)
10. "Bate boca" (Edu Lobo)
11. "Na carreira" (Edu Lobo e Chico Buarque)
12. "Frevo Diabo" (Edu Lobo e Chico Buarque)
Ficha Técnica:
Realização: MALTAVENTO Produções Artísticas
Curadoria, direção musical e arranjos: Carlos Malta
Produção executiva e direção artística: Daniele Yanes
Músicos: Carlos Malta, Andrea Ernest Dias, Marcos Suzano; Durval Pereira; Bernardo Aguiar e Fofo Black
Músicos Convidados: Edu Lobo, Hermeto Pascoal, Jaques Morelenbaum e Matu Miranda
Gravação: Estúdio Biscoito Fino
Mixagem: Lucas Ariel, Carlos Malta e Marcos Suzano
Masterização: Lucas Ariel
Capa: Leliene Rosa

