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Chico Buarque: Maestro Luiz Cláudio Ramos fala sobre a relação com o cantor

Violonista autodidata, que acompanha Chico desde 1989, diz que arranjos foram atualizados para o show, mas sem a preocupação em fazer diferente

Chico Buarque, cantor Chico Buarque, cantor  - Foto: Leo Aversa

Como um bom carioca, Luiz Cláudio Ramos, 68 anos, tem em seu sotaque o “s” chiado. Ao contrário dos estereótipos vigentes, no entanto, ele não é dado a extravagâncias. Muito pelo contrário, inclusive. Sua voz carrega um tom tímido e ponderado. Tais atributos parecem servir de combustível para alimentar um caráter de observador. Desde 1989, ele é o responsável por assinar a direção musical de Chico Buarque de Hollanda.

Do primeiro trabalho, juntos, até o show que será apresentado ao público pernambucano entre os dias 3 e 6 de maio (de quinta-feira a domingo), no Teatro Guararapes, no Centro de Convenções de Pernambuco, já contabiliza uma história de mais de 50 anos. Sendo assim, propriedade para tamanha afirmação, existe: “Finalmente o Chico assumiu o seu merecido papel de estrela. Ele está mais solto no palco, sabe”. O estranhamento foi imediato.

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Explico: o cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda foi educado musicalmente na escola João Gilberto de se portar. Um banquinho. Um violão. Apenas. Mais que isso, já seria um exagero. Pelo visto, no entanto, algo mudou. “O que tem me chamado mais atenção, nesta turnê, é a forma do Chico. Porque ele sempre foi uma pessoa tímida no palco. Eu acompanho o Chico há muito tempo. E tenho percebido a evolução dele tanto como cantor quanto como artista. De fato, assumiu o papel de estrela. Até porque as pessoas têm de assumir, não é?”, disse Luiz Cláudio Ramos.

“Três nomes deixa tudo tão formal”, brincou. Diante disso, arrisquei-me: “Posso chamá-lo apenas de ‘Maestro’, como os mais íntimos gostam de se referir a você?”. Recebo, então, um “é lógico” como resposta, seguido de um riso amigo.

Luiz Cláudio Ramos, maestro

Luiz Cláudio Ramos, maestro - Crédito: Divulgação

Pois bem! A primeira vez que o caminho do “Maestro” se cruzou com o do “Poeta” foi durante o encontro de Chico e Maria Bethânia, em 1975, no Canecão. Ali, elaborou as harmonias de algumas canções e acabou fazendo os arranjos de base do disco, gravado ao vivo. À época, Luiz Cláudio Ramos se sentia um intruso naquele ambiente musical. Violonista autodidata, passou a se debruçar sobre escalas, pois não compreendia as técnicas usadas por alguns de seus colegas para improvisar.

“Eu também improvisava. Mas era coisa intuitiva. Não entendia muito bem aquilo que eles faziam”, contou. “Até que um dia eu percebi que esses módulos cabiam em quatro escalas apenas. Então, isso pra mim, foi a minha alforria. Como eu sou autodidata, então eu me achava um pouco ‘bicão’, me sentia um pouco penetra, no baile. Nem entendia mesmo o que eu estava fazendo ali. Não me sentia seguro. Quando eu descobri a tal fórmula, fui salvo.”

O ano era 1986. Até aquele momento, já haviam se passado 17 anos como profissional. Segundo o próprio, eram tempos difíceis. Até que, tarde da noite, em um dia e um mês que já fugiram de sua memória, encontrou o que tanto procurava. Comemorou apenas comunicando à então mulher que havia decodificado a música. “Que bom”, falou a companheira. E o conceito funcionou. Foi usado em um álbum de Miúcha e depois nos discos posteriores de Chico Buarque. Luiz Cláudio também assina duas composições: "Outra Noite" ("Paratodos") e "Cecília" ("As Cidades").



“A minha relação com Chico é de troca. O processo criativo sempre sofre interferências. Como arranjador e produtor, claro que tenho uma participação maior do que os outros músicos. Mas, em comum, sempre procuramos preservar o espírito do que o Chico quer”, contou. A turnê do álbum "Caravanas" (2017) conta com as nove composições do disco, além de outras 19 de outros álbuns e de artistas que Chico homenageia.

Para essas canções, o Maestro garantiu que há atualizações, sem grandes mudanças estruturais. “Eu acho que as músicas do Chico estão estabelecidas. Eu não me preocupo em modernizar. Eu procuro refazer do meu jeito. Procuro, claro, atualizar e não modernizar. Atualizar no sentido de a gente fazer um arranjo novo, mas sem essa preocupação de fazer diferente”, contou.

   Wilson das Neves

Há, no entanto, um componente ausente na química musical da banda: o baterista Wilson das Neves, que morreu em agosto do ano passado, vítima de câncer. Todos os shows, inclusive, são dedicados a ele, com Chico fazendo o anúncio com um chapéu Panamá e passinhos de samba.

“O das Neves era uma pessoa inteligente, engraçada, então a gente lembra toda hora dele. Agora, a vida continua. E o Julinho Moreira, que é quem está substituindo o das Neves, está desempenhando super bem. A gente não deve comparar, até porque são pessoas diferentes, de estilos diferentes. O das Neves era muito ligado ao samba, já o Julinho é mais eclético, digamos. É diferente. Cada um é diferente. Então, o Julinho está se saindo muito bem. Agora, a saudade de das Neves continuará eterna”, finalizou.

Serviço:
Turnê "Caravanas", show com Chico Buarque e banda
Quinta e sexta-feiras (dias 3 e 4 de maio), 21h30; sábado (dia 5 de maio), às 21h; domingo (dia 6 de maio), às 20h
Teatro Guararapes (Centro de Convenções de Pernambuco)
Ingressos: Plateia - R$ 490 e R$ 245 (meia-entrada)
Balcão - R$ 250 R$125 (meia-entrada), à venda na bilheteria do Teatro Guararapes
e Bilheteria Virtual (www.bilheteriavirtual.com)

 

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