Cinema da UFPE mais próximo de ser inaugurado
Equipamento, localizado no campus da Universidade Federal de Pernambuco, já está na etapa final de obras. Estreia deve ser em outubro
Paulo Cunha começou, em junho de 2014, a trabalhar em um projeto de grandes proporções: criar um cinema na Universidade Federal de Pernambuco. Pouco mais de quatro anos depois, o professor da UFPE tem em seu celular um arquivo de texto com 31 pendências: é tudo que falta para o equipamento ficar pronto. "Ontem dei baixa em várias. É minha lista de conclusão. Há aqui a parte da iluminação que falta, as duas portas de entrada, a limpeza das poltronas", lista Paulo. "Tem coisa que é bobagem. Quando tiro uma pendência é uma felicidade", brinca.
Um passo importante para finalizar o projeto foi a compra do projetor Christie, com qualidade 4K, e o sistema de som Dolby 7.1, efetuadas em junho. "Queria que a estreia do cinema fosse no começo de outubro, mas estou pensando na eleição e acho que as pessoas vão ficar muito ligadas nisso, já que a eleição presidencial é uma situação que sempre atrai a atenção. Então estou na dúvida se a gente faz a estreia no dia 15 de outubro, depois do primeiro turno, ou se a gente aguarda", explica Paulo. "O que falta na verdade é só a questão do acabamento", destaca.
No dia que recebeu a reportagem da Folha de Pernambuco, o Cinema da UFPE seria visitado por técnicos de São Paulo, que fariam a vistoria da tela e a instalação de caixas de som. "Serão dois amplificadores por trás da tela, quatro à direita, quatro à esquerda e duas atrás. Então teremos o som frontal e o surround, que envolve o espectador", detalha Paulo. A sala, que terá 198 lugares, tem formato "arquibancada", ou "stadium", com um degrau separando cada fila de poltronas. Os ingressos custarão R$ 12 e R$ 6.
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Perfil
Com o fim das obras se aproximando, o Cinema da UFPE vai lidar com o delicado processo de criar um perfil. "Queremos uma programação de qualidade, que atenda tanto a comunidade universitária, com estudantes, professores e técnicos, quanto ao entorno", diz Paulo. "Gostaria que fosse visto como um cinema que tivesse identidade própria. Um cinema acolhedor, inclusivo. A gente está preparando uma janela para audiodescrição, terá lugar para cadeirante, obeso, projeção para cegos e pessoas com baixa visão, para surdos", detalha.
Paulo ressalta a importância de trabalhar com os bairros vizinhos. "A universidade é pública, então as pessoas que estão no entorno precisam reconhecer a Universidade como uma coisa delas. E ainda mais que as pessoas da UFPE se vejam aqui. Isso seria talvez o grande prêmio. O menino que diz 'vou chegar duas horas antes da minha aula para assistir a um filme'. Ou uma menina que depois da aula vai ao cinema. Ou um professor que vai trazer a turma dele porque tem um filme que permite que ele discuta o tema que está tratando em classe", explica.
Nessa construção do perfil entra o papel da curadoria. "A ideia é que a gente tenha um conselho misto, com estudantes, técnicos e professores, e tenha, além do conselho, uma curadoria profissional. Não está resolvido ainda, mas a gente tem uns alinhamentos. Por exemplo, a gente imagina que um cinema na universidade tem que ter uma visão que seja da qualidade da produção. Ou seja, a gente não vai passar o mesmo tipo de cinema que as pessoas encontrariam no shopping", explica.
"Esse cinema tem peculiaridades. Por exemplo, geográficas. Ele está na Cidade Universitária, que fica ao lado da Várzea, uma área do Recife que não tem praticamente nenhum equipamento cultural a não ser o Instituto Ricardo Brennand. Portanto, a gente acha que vai atender não só à Universidade como também o entorno. E qual será o filme de qualidade que vai atrair quem mora na Várzea? A gente tem conversado com grupos culturais, muita gente jovem, mas quero também saber do aposentado, que não vai ao cinema porque é em Casa Forte ou em Boa Viagem. É um equilíbrio que precisa ser buscado e adquirido ao longo do tempo", argumenta.
Investimento
O orçamento do cinema passou de R$ 2 milhões. A lista inclui equipamentos de som e projeção (R$ 1,2 milhão), poltronas (R$ 300 mil), ar-condicionado central (R$ 450 mil) e a obra em si (em torno de R$ 300 mil). "Fora as coisas pequenas que aparecem", ressalta Paulo. "É um investimento alto; me preocupo muito porque é um investimento público, dinheiro da universidade, ou seja, dinheiro de todos nós. Os equipamentos, que foram a última liberação pesada, foi de um recurso que veio diretamente carimbado do MEC [Ministério da Educação]", diz Paulo.
"Por isso, penso primeiro em controlar os gastos. Não tem nada excessivo, nem luxuoso. É tudo básico, mas de alta qualidade", explica. "É público, mas tem que ser no melhor padrão, o melhor padrão de som, melhor padrão de projeção, melhor tela, as melhores poltronas que a gente pode achar no mercado. Conforto acústico, refrigeração de primeira qualidade, ou seja, bom, robusto e que dure bastante", reforça.
Resultados
A expectativa é que, quando o cinema se estabelecer, quando tiver um perfil reconhecível e com público fiel, possa ganhar força na bilheteria. "A fidelidade de uma plateia é o que garante também o financiamento do cinema. O sucesso, que bota 200 pessoas na sala, durante duas semanas, isso é esporádico. O cinema funciona na faixa de 30% de ocupação na média. Significa que vai ter dias que não vai ter nem 10 pessoas. E vai ter dia que vai estar lotado. Na média, se a gente garantir 30%, a gente garante o financiamento. Essa conta a gente já simulou", ressalta.
"A gente não pode ter o cinema vazio, portanto a programação tem que ser atrativa. Não só para cinéfilos. Claro que vai ter que atender também essas pessoas. É um equilíbrio complicado", explica Paulo. "A gente sabe também que um cinema que não pega no primeiro mês, nem no segundo, nem no primeiro ano. Conversar com Kleber [Mendonça Filho, cineasta que atuou como curador do Cinema da Fundação, no Derby] me tranquilizou, ele disse que o cinema passou seis, sete anos para pegar", explica.
A expectativa, quando tudo estiver pronto e funcionando é um "cinema amplo, público, de altíssima qualidade, que respeite o investimento que foi feito". "Porque não foi pouco dinheiro. E se tivessem colocado esse dinheiro todo em outra coisa? Não colocaram. Colocaram no cinema. Por isso é importante que a gente faça uma coisa que valha a pena. Socialmente, vale a pena", ressalta.

