Confira entrevista com a diretora e a atriz de "A Melhor Mãe do Mundo", que estreia nesta quinta (7)
A primeira exibição do longa aconteceu no CinePE 2025; onde ganhou o Prêmio de Melhor Filme
Anna Muylaert retoma relações entre mãe e filhos e discute o papel da mulher na sociedade com "A Melhor Mãe do Mundo", filme estrelado por Shirley Cruz que estreia no circuito comercial nesta quinta-feira (7).
Cruz foi no CinePE de 2025 para receber a Calunga de Prata de melhor atriz e melhor filme.
O enredo gira em torno de Gal (Shirley Cruz), catadora de materiais recicláveis, em São Paulo. Ela é vítima de um relacionamento abusivo e decide prestar queixa contra o marido Leandro (Seu Jorge), mas não encontra ajuda nem proteção. Determinada a dar uma nova vida paraos dois filhos pequenos Gal decide abandonar a casa da família, levando as crianças na carroça com que trabalha. Para preservar os pequenos da dura realidade de não ter um teto, ela cria uma aventura imaginária pelas ruas da metrópole.
Confira entrevista de Anna Muylaert e Shirley Cruz para a Folha de Pernambuco:
Por que seus filmes sempre voltam a essa temática de maternidade?
Anna: Eu acho que é uma evolução ao longo do tempo. A minha primeira mãe é a do é a do “Durval Discos”, a Etty Fraser, que é uma mãe louca, uma mãe controladora, uma mãe doente que prende o filho. E aí eu vou explorando elas até chegar na Gal. Uma mãe forte. Eu acho que é o personagem mais forte que eu já fiz.
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Seus trabalhos costumam permear mais o ramo da classe média. O que te levou a fugir dessa premissa?
Anna: É uma situação que eu não vivo. Nunca vivi, mas eu entendi que a história é uma história universal. Então, a partir daí, eu fui fazer pesquisa, fui conhecer as mulheres, fui na casa, fui na cooperativa, fiquei amiga e ajudei. Fiquei anos entre o roteiro e a filmagem, nesse contato e me permeando das dificuldades financeiras e também da força. Então, eu acho que eu saí de uma zona de conforto. Eu mudei de bairro completamente, mas para fazer uma história que eu acreditava ser universal.
Quando foi que surgiu a primeira ideia para o longa?
Anna: A semente inicial foi quando uma amiga minha, Ana Flávia Cavalcanti (atriz) me falou sobre essas duas catadoras, a Loura e a Fabiana, que trabalhavam na região central e levavam as crianças na carroça catando papel. Isso me interessou muito e aí eu estava querendo falar de violência doméstica e misturei as duas coisas e disse: "Vou fazer um road movie onde ela está fugindo do marido”. E aí a partir daí eu fui pesquisar, conhecer e aprofundar a história junto com a Shirley.
Como foi essa pesquisa?
Shirley: Não tinha possibilidade nenhuma de fazer um filme sem abraçar mulheres que inspiraram ele. Não só aprender o ofício, com a mão no lixo, sem frescura, né? Caindo para dentro, mas, também, o material humano ali que que era muito rico, que era fascinante. Assim, são muitos Gals. Porque você vai conversar com uma ou com outra, são histórias muito parecidas. E eu tinha um pensamento de honrá-las, sabe? Elas são responsáveis por São Paulo não nadar num mar de lixo, porque se tirar as catadoras do circuito a situação vai ficar de calamidade pública.
Além do que você aprendeu com elas, o que você aprendeu com Gal?
Shirley: Eu aprendi que qualquer mulher, de qualquer classe social, de qualquer raça se encontra. Então, aparentemente, você pode pensar: Ela é mãe, uma mulher negra, uma mulher forte, etc. Mas eu não sou uma mulher periférica, por exemplo. Além de que eu sou bem casada há 12 anos. Mas eu também venho de situação de abuso. De ter sobrevivido uma tentativa de feminicídio, o que me fez também, como a Gal. Essa personagem me ajudou muito reforçando minha auto estima, reforçando a minha força, reforçando a minha palavra, reforçando as minhas vontades e me ensinando que, às vezes, precisamos dar dois passos para trás para dar 10 para frente. Recuar também é avançar.

