Confira entrevista com o diretor Rosemberg Cariry, do longa-metragem "Os pobres diabos"
Cineasta diz que filme homenageia os artistas dos pobres circos que perambulam pelos interiores do Brasil, em situações precárias
É carinhoso e simpático o olhar de Rosemberg Cariry para os personagens do filme "Os pobres diabos", que estreia nesta quinta-feira (5). O ponto forte do filme é o elenco, composto por atores que adicionam cargas extras aos perfis reconhecidos desse ambiente (o velho palhaço, o artista sonhador). Estão no filme nomes de destaque como Chico Diaz, Silvia Buarque e Gero Camilo.
Cada imagem deixa clara a paixão do diretor cearense pelos integrantes do Gran Circo Teatro Americano, que chega a uma pequena cidade do interior cearense. É um cotidiano de arte e suor que sugere a vontade de Rosemberg ressaltar o valor cultural desses artistas que não costumam ser devidamente reconhecidos. Enquanto tentam erguer as lonas e ativar a magia do circo, os integrantes do grupo sugerem suas próprias emoções, gestos que indicam dramas e segredos de uma existência.
Leia entrevista com Rosemberg Cariry:
Como foi a criação dessa história?
Esse filme homenageia os artistas dos pobres circos que perambulam pelos interiores do Brasil, em situações precárias, mas levando o encantamento e a magia da sua arte. O roteiro foi escrito para ser um road movie, mas terminei por fazer uma adaptação mais realista.
A história é aparentemente simples, mas reflete sobre a arte e os artistas que resistem até hoje, apesar do domínio da indústria cultural e do entretenimento. Em tempos de crises, essas artes populares dos circos mambembes, dos artistas de rua, dos poetas cordelistas e cantadores de feira, ressurgem com grande força.
Como percebe a presença do regionalismo em suas obras?
O que é em geral entendido como cultura nordestina, por vezes me incomoda um pouco, sobretudo quando resvala para estereótipos próximos do preconceito. A solução que encontrei neste filme para fugir desses perigos reducionistas foi pensar o circo mambembe como originário de qualquer lugar do Brasil, ou pelo menos experimentado em tantos deslocamentos migratórios que a coisa territorial cede lugar a uma vivência de muitos lugares e códigos culturais.
Os personagens têm essa característica comum a viajantes e nômades: com o passar do tempo, vão adquirindo características de tantos lugares por onde passaram que já não é possível identificar de onde eles vieram, ou que lugar ou cultura representam. O que nota como inspirador e intrigante no universo do circo? O circo fascina pela magia e pela graça. Traz um sabor do desconhecido, embora já sejam bem conhecidos os números de acrobacias e as gags dos palhaços. Traz uma magia que se renova sempre.
Nesse filme, eu mostro o cotidiano ordinário de um circo pobre e a luta desses artistas pela sobrevivência, suas dificuldades, seus sonhos, suas resistências. Embora tenha pitadas de humor, o filme se constrói como um drama vivido por esses artistas, que são os "pobres diabos", divididos entre a pobreza e o sonho do reconhecimento pelo público e mesmo pelo pão de cada dia.

