Crítica: 'Papillon' é refilmagem sem a força do material original
Longa com Charlie Hunnam no papel principal, 'Papillon' é baseado em uma história real: um homem é condenado injustamente à prisão perpétua, na Ilha do Diabo
Seguindo a tradição dos filmes de prisão, com o cotidiano brutal no cárcere e as tentativas mirabolantes de fuga, estreia nesta quinta-feira (4) o longa-metragem "Papillon", refilmagem da obra de mesmo nome dos anos 1970. O enredo, baseado em fatos reais, conta a história de Henri Charrière, que é injustamente condenado à prisão perpétua e enviado para a Guiana Francesa. Os dois filmes são adaptações da autobiografia de Henri, disponível também em português.
Henri (Charlie Hunnam) é apresentado como um criminoso boêmio e romântico. Na primeira cena, rouba diamantes para um chefão de Paris e vai celebrar com sua namorada, Nenette (Eve Hewson). Ao perceberem que nem todos os diamantes roubados foram entregues, os bandidos incriminam Henri, que acaba recebendo prisão perpétua na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, acusado de assassinato. Nesses primeiros dez minutos é notável a quantidade de clichês, com um roteiro que recorre a soluções banais e previsíveis para o enredo avançar.
No primeiro dia na prisão, Henri traça seu plano para escapar: precisa juntar uma grande quantidade de dinheiro e recursos. Para isso, se aproxima de Louis Dega (Rami Malek), homem frágil que compra a proteção de Henri. A base do filme é justamente a amizade que surge entre Henri e Dega (interpretados no longa original respectivamente por Steve McQueen e Dustin Hoffman). Aos poucos, diversas situações sugerem a forma como um se sacrifica para ajudar o outro, mas a falta de empatia entre os atores diminui o impacto dessas cenas.
Leia também:
Crítica: 'Crimes em Happytime' é uma comédia vulgar e inusitada
Crítica: 'Buscando...' é um empolgante filme de suspense
Crítica: 'Maniac' mistura drama, humor e ficção científica
O cotidiano na prisão é o que o filme apresenta de mais interessante: os desafios diários para se manter vivo, a ruína gradual de um homem que se diz inocente, levado à loucura por força externa, com violências e humilhações. É também quando "Papillon" se assemelha a tantos outros projetos mais interessantes, como os clássicos "Alcatraz: fuga impossível" (1979) e "Um sonho de liberdade" (1994).
Dirigida por Michael Noer, cineasta dinamarquês que tem neste filme sua primeira chance em um projeto de maior alcance, esta nova versão de "Papillon" é o tipo de filme que tende ao esquecimento: não há nada de particularmente notável ou mal feito, um longa morno que em momento algum esfria ou esquenta. Depois da sessão, o que resta são lembranças vagas de uma adaptação sem a força do material original, apenas repetindo com pouca emoção um conteúdo histórico relevante, sem no entanto ter uma intensidade própria equivalente.
Cotação: regular

