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Dia Internacional da Mulher: 15 filmes com personagens marcantes

Conheça as histórias de personagens femininas reais e fictícias de todas as idades e de vários lugares do mundo

Whoopi Goldberg interpreta a jovem Celie em "A Cor Púrpura"Whoopi Goldberg interpreta a jovem Celie em "A Cor Púrpura" - Foto: Divulgação

O Dia Internacional da Mulher é comemorado nesta quarta-feira (8) e traz uma reflexão acerca do papel da mulher na sociedade, seus avanços e desafios. No entanto, a trajetória delas foi marcada por inúmeras situações de conflito, seja com as pessoas próximas ou com as autoridades. Algumas dessas histórias foram retratadas em biografias, outras, inspiraram criações ficcionais.

Aqui, selecionamos 15 obras audiovisuais que trazem mulheres de diferentes idades, cores, situações financeiras e de várias partes do mundo, além de personagens reais e imaginários - tudo para promover uma reflexão sobre o que é e o que já foi ser mulher e desafiar os padrões em busca da liberdade de ser. Confira:

A cor púrpura (1985)
Baseado no romance homônimo da escritora afro-americana Alice Walker, o filme dirigido por Steven Spelbierg e estrelado por Whoopi Goldberg foi indicado ao Oscar em dez categorias, incluindo “Melhor Filme” e “Melhor Atriz”. A trama conta a história de Celie (Whoopi), uma jovem negra de 14 anos que é estuprada pelo pai e vendida como esposa para o violento “Mister”. Na nova casa, Celie terá que cuidar de todas as obrigações domésticas, cuidar dos dois filhos de seu marido e lidar com a paixão que ele nutre pela cantora de blues Shug Avery, uma mulher livre das amarras sociais.

Para suportar sua vida, a protagonista escreve cartas, que são direcionadas a Deus e à sua irmã Nettie, de quem foi separada quando casou. E é devido à amizade dela com sua irmã e com Avery que Celie começa a entender o que liberdade e amor. Além de retratar a situação de discriminação contra os negros norte-americanos no começo do século XX, o filme tem a forte característica de tratar da afetividade e amizade entre mulheres.



Ardida como pimenta (1953)
Nesse musical, a célebre Doris Day dá vida à pistoleira Calamity Jane, uma moça que faz jus ao seu trabalho e se veste totalmente fora dos padrões “femininos” da época. Sempre coberta de poeira e carregando sua arma, Calamity não é exatamente fã da higiene pessoal. A trama se passa na cidade de Deadwood Stage, um lugar que agrupa vaqueiros e mineiros, e que convive com a tensão dos conflitos com os indígenas.

Numa confusão, a pistoleira confunde a famosa cantora Adelaide com sua criada Katie Brown e a leva para ser a principal atração num saloon, mas o equívoco é descoberto e o público se volta contra Katie e Calamity a protege. A amizade nasce entre as duas e a cantora se dispõe a ajudar a pistoleira a conquistar seu grande amor, o tenente Danny Gilmartin.

Para isso, Katie transforma Calamity numa moça atraente e que se comporta como uma dama. Após uma desilusão, no entanto, Calamity descobre que pode ser quem é e ser admirada e amada por isso. A canção “Secret Love”, entoada pela protagonista, levou o Oscar de melhor canção e foi uma das mais tocadas da década de 1950.


As Sufragistas (2015)
Uma das questões pelas quais o feminismo ganhou espaço no mundo foi a luta das mulheres pelo voto, sobretudo no começo do século XX. A pauta é uma analogia a poder de escolha daquelas que eram relegadas a viver para suas famílias, dentro de casa. O longa metragem se ambienta em Londres, na Inglaterra, na mesma época, e retrata o momento em que as chamadas “sufragistas” deixaram seus protestos pacíficos para aderir a formas de manifestação mais agressivas.

A trama traz a operária Maud (Carey Mulligan), que se depara com um desses protestos e passa a questionar sua situação como mulher trabalhadora naquela sociedade, sobretudo situações que ela acreditava serem naturais, como os abusos. O filme também faz um resgate histórico da prisão dessas mulheres e das condições a que eram submetidas pelas autoridades.

Destaque para a atuação de Meryl Streep no papel de Emmeline Pankhurst, uma das fundadoras do movimento sufragista na vida real. O filme foi realizado e produzido apenas por mulheres, com direção de Sarah Gavron e produção de Aison Owen e Faye Ward. O longa-metragem ganhou, entre outros, o Prêmios do Cinema Europeu e o British Independent Film Awards.



A vida secreta das abelhas (2008)

Ambientada no Sul dos Estados Unidos, na década de 1960, o auge dos conflitos raciais do país, o filme dirigido por Gina Prince-Bythewood conta a história de Lilly (Dakota Fanning), uma adolescente introspectiva que se culpa pela morte da mãe e vive com o pai, um homem violento. Sua única amiga é Rosaleen (Jennifer Hudson), uma jovem negra que também é empregada da família.

Quando o presidente Lyndon Johnson anuncia direitos civis para os negros, Rosaleen e Lilly se encaminham para a cidade, onde a primeira vai em busca de um título de eleitor. No caminho, moradores do lugar agride Rosaleen por andar com uma pessoa branca. O episódio é o estopim para que as duas fujam de uma vida repleta de violências físicas e psicológicas.

Elas acabam amparadas por uma família de irmãs negras – May (Sophie Okonedo), June (Alicia Keys) e August (Queen Latifah) -, que são famosas pelo seu comércio de mel no local. A relação das duas com as irmãs vai abrir os olhos das jovens para questões como o afeto, a liberdade, lações familiares e perdão. O filme é baseado no best seller homônimo de Sue Monk Kidd e tem produção dos atores Will Smith e Jada Pinkett Smith.



Clube da felicidade da sorte (1993)
Uma trama sobre a relação entre mães e filhas. Essa é a proposta da obra de Amy Tam, que foi adaptada para as telonas por Wayne Wang. O longa conta a história de quatro mulheres e suas mães, discutindo os conflitos geracionais e de experiências das mulheres criadas em épocas e lugares diferentes. As matriarcas foram criadas na China, e trazem consigo histórias de tragédias vividas no meio do século XX.

Já as filhas foram criadas na liberdade dos Estados Unidos e são frutos de uma geração mais moderna. Temas como relacionamentos, casamentos, maternidade e submissão são tratados com delicadeza, e o trunfo da obra é não dividir as mulheres, mas mostrá-las como seres que podem ser compreendidos e perdoados. Outro ponto importante do longa é a participação masculina, que é quase nula, abrindo espaço para que o universo feminino e as relações entre mulheres ganhem mais visibilidade.




Girls Rising (2013)
No documentário dirigido por Richard Robbins, as histórias de nove meninas que lutam pelo direito à Educação são escritas por autoras que vivem no mesmo país que elas, e narradas por artistas renomadas, como Meryl Streep, Selena Gomez e Anne Hathaway. As meninas vivem em nove lugares diferentes - Camboja, Nepal, Índia, Egito, Peru, Haiti, Serra Leoa, Etiópia e Afeganistão -, onde nascer mulher torna a situação de quem vive nesses países pobres ainda mais vulnerável, pois elas são submetidas ao trabalho infantil, casamento precoce, violência sexual ou são proibidas de frequentar a escola. “Girls Rising”, o título d filme, também é o nome de um projeto mundial que leva educação para milhões de meninas no mundo.



Legalmente Loira (2001)
Com uma trama que, a princípio, poderia facilmente se passar por mais uma comédia romântica, a história da jovem loira, rica e consumista Elle Woods (Reese Witherspoon) dá uma reviravolta ainda no início do longa. Seu namorado, pelo qual é apaixonada, a deixa porque ela seria “fútil demais”, e também porque ele vai estudar Direito numa das universidades mais disputadas do país, a Universidade de Harvard, lugar onde ela não teria capacidade de ingressar, segundo ele.

No entanto, Elle surpreende a todos quando consegue sua aprovação no mesmo lugar e prova que é possível unir inteligência, sagacidade e manter sua vaidade. O sucesso da advogada vestida de rosa choque rendeu tanto que o filme ganhou uma sequência em 2003. O filme tem roteiro de Karen McCullah Lutz e Kirsten Smith, e é dirigido por Robert Luketic.



Mulan (1998)
Lançado numa década em que a Disney começou a investir em personagens femininos mais marcantes, como Bela (A Bela e a Fera, 1991) e Pocahontas (Pocahontas, 1995), a animação é inspirada na lenda chinesa de Hua Mulan, uma guerreira imortalizada no poema “A balada de Mulan”, no século VI. A trama da Disney conta a história da personagem homônima, que deixa sua casa e vai para a guerra fingindo ser um garoto.

A saga começa porque Mulan busca levar honra para sua casa, já que não leva jeito para a vida matrimonial. Ainda como homem, a jovem se torna uma das melhores guerreiras do exército e faz amigos entre os soldados, ganhando sua confiança. Com praticamente nada do romance característico das tramas da Disney, a história gira muito mais em torno da descoberta de Mulan como pessoa e seu valor como mulher diante da família e da sociedade.

O sucesso do filme rendeu a sequência “Mulan 2: A Lenda Continua”, em 2004, e abriu as portas para outras personagens mais marcadas pela força feminina, como Tiana (A Princesa e o Sapo, 2009), Merida (Valente, 2012) e Elsa (Frozen - Uma Aventura Congelante, 2013) e, mais recentemente, Moana: Um Mar de Aventuras (2016).



Nausicaä do Vale do Vento (1984)
A animação japonesa do célebre diretor e ilustrador Hayao Miyazaki traz uma mulher que salva o seu povo mais de uma década antes de Mulan. Inspirada no conto japonês “A princesa que amava insetos”, Nausicaä também é uma princesa, mas se aproxima muito mais de uma figura militar devido à grande responsabilidade que, apesar de tão jovem, tem pelo seu povo.

O cenário do filme é pós-apocalíptico, num mundo distópico que foi atingido por uma tragédia climática resultante do colapso de uma sociedade industrial. Fungos tóxicos se proliferavam, tornando diversos pontos inabitáveis por humanos, e havia uma constante ameaça de que insetos gigantes atacassem os povos. Paralelamente à trama que envolve o meio ambiente, o reino de Nausicaä, o Vale dos Ventos, e ela mesma são fundamentais para garantir a paz entre dois outros povos que estão em guerra, o Reino de Torumekia e o Império de Dorok, que podem levar a uma dizimação da vida.

Famoso por personagens femininos fortes, como San, (A Princesa Mononoke, 1997), e Chihiro (A viagem de Chihiro, 2003), Miyazaki traz com Nausicaä uma trajetória de responsabilidade mesclada à doçura, uma forte característica da princesa.



Nise: O Coração da Loucura (2016)
Longa-metragem brasileiro de Roberto Berliner traz Glória Pires para viver Nise da Silveira, uma das primeiras mulheres a se formar em Medicina no país. Natural de Alagoas, no Nordeste, ela foi pioneira no tratamento das doenças psiquiátricas. A história se passa na década de 1940 e conta a trajetória de Nise no Centro Psiquiátrico Nacional Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, um lugar que aplicava eletrochoques e lobotomia em seus pacientes. A médica, no entanto, discorda dos colegas de trabalho e trata seus pacientes de forma mais humana, investindo numa nova técnica, a arteterapia. 



Pequena Miss Sunshine (2006)

Lidar com padrões de beleza e comportamento é um desafio para as mulheres, mas pode ser especialmente confuso para as meninas, que ainda estão aprendendo sobre seus limites, potenciais e sobre as relações sociais. No filme dirigido pelo casal Jonathan Dayton e Valerie Faris, Olive (Abigail Breslin) é uma criança que vive num lar recheado de problemas, e as diferenças entre os membros serão postas à prova durante uma viagem de três dias, feita dentro de uma Kombi, com destino à California, onde Olive participará de um concurso de beleza infantil.

No entanto, diferente das garotinhas magras, maquiadas e “adultizadas” que ensaiam números artísticos que beiram a sexualização, a protagonista é apenas uma menina comum, bela como qualquer criança e cheia de encantos assim mesmo. Através do papel de Olive e de sua família, o filme faz pensar sobre o discurso de vencedores e perdedores, critica a indústria e o culto da beleza e mostra a importância de educar as meninas para amarem quem elas são – porque elas são maravilhosas e especiais por isso. O filme foi indicado ao Oscar em quatro categorias, incluindo “Melhor Filme”, e venceu o “Melhor Roteiro Original” e “Melhor Ator Coadjuvante”.



Preciosa (2009)
Claireece "Preciosa" Jones (Gabourey Sidibe) é uma adolescente que une em si as características de muitas minorias sociais que sofrem preconceitos todos os dias. Ela é negra, gorda, pobre, não sabe ler nem escrever. Aos 16 anos ela sofreu abusos da mãe e do pai, com quem tem um filho, “Mongo”, uma criança com síndrome de Down.

Grávida de seu segundo filho, Preciosa é expulsa da escola e enviada para uma que trata de jovens com problemas sociais. Apesar de introvertida, Preciosa é dona de uma imaginação rica, e faz dela o seu mecanismo de defesa. Na nova escola, uma professora vai ajudá-la a expressar seus sentimentos e ideias, o que faz com que ela também enfrente e mostre quem são os seus “demônios”.

Dirigido por Lee Daniels, o roteiro é baseado no livro “Push” (no Brasil, “Preciosa”), da autora Sapphire. O filme foi indicado ao Oscar em cinco categorias, e venceu duas, “Melhor Roteiro Adaptado” e “Melhor Atriz Coadjuvante” para Mo'Nique, que interpreta a mãe. A atriz também ganhou o Globo de Ouro e o Prêmio do Sindicato dos Atores na mesma categoria.



Thelma e Louise (1991)
Uma das mais famosas histórias de amizade do Cinema foi escrita por uma mulher, Callie Khouri, apesar de ter sido dirigido por um homem, Ridley Scott (Blade Runner). Indicado ao Oscar em seis categorias, ele levou o de “Melhor Roteiro Original” pelo texto concebido por Callie. Na trama, Thelma (Geena Davis), uma jovem dona de casa que vive um relacionamento abusivo com seu marido, e sua amiga Louise (Susan Sarandon), uma garçonete de cerca de quarenta anos, saem para um fim de semana de descanso longe de casa. No caminho, Thelma atira num homem que tentou estuprar Louise, e elas resolvem não contar às autoridades porque os policiais, homens, não acreditariam que se tratava de um abuso. O caso é descoberto e vira uma grande perseguição policial pelo país. As duas planejam fugir para o México e os percalços do caminho, as situações em que elas precisam se proteger, se tornam uma ode à amizade e a liberdade feminina. Atualmente, Geena Davis é ativista da representatividade feminina e dirige o “Instituto Geena Davis de Gênero na Mídia”, que ela mesma fundou.



Tomates verdes fritos (1991)

Baseado no livro “Fried Green Tomatoes at the Whistle Stop Cafe” da escritora estadunidense Fannie Flag, “Tomates verdes fritos” é outra icônica história de amizade entre mulheres. Dirigido por Jon Avnet, a trama é construída em “mosaico”, com trechos atuais onde a idosa Ninny (Jéssica Tandy) conta para Evelyn (Kathy Bates) a história de Idgie (Mary Stuart Masterson), uma mulher que viveu na década de 1920 e não obedecia aos padrões de mulher recatada e feminina de sua época. Idgie era amiga da jovem Ruth (Mary-Louise Parker), que era exatamente o seu oposto e vivia um relacionamento abusivo com seu marido. Após uma agressão, Idgie resgata a amiga, que está grávida, e ambas empreendem um negócio, o restaurante que leva o mesmo nome do filme/livro. Nos fundos do restaurante, ambas também amparavam os negros que sofriam com o racismo institucionalizado no país e com as violências do grupo Ku Klux Klan. A história das amigas que desafiaram seu tempo e ousaram ser livres e serem felizes juntas inspira Evelyn a transformar a própria vida. Além de tratar da amizade e do amor entre as mulheres, a obra é um retrato da situação no sul dos Estados Unidos na época.



What happened, Miss Simone? (2015)

Dirigido pela estadunidense Liz Garbus, o documentário resgata a história de um dos expoentes da música norte-americana, a cantora Nina Simone, que é conhecida também pelo seu ativismo na causa da discriminação racial do país. A obra traz raros registros da cantora, seja através de seus diários e cartas ou de gravações não divulgadas, além de coloca-la sob a ótica de quem viveu próximo a ela. Apesar de não se aprofundar na produção artística da cantora, o filme expõe seus conflitos pessoais, como a relação com o marido violento, que a espancava. A obra também foi indicada ao Oscar de Melhor Documentário.

 

 

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