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Blues

Disco traz reencarnação de Baco Exu do Blues

Rapper de 22 anos, o baiano Baco Exu do Blues, que se intitula o “Kanye West da Bahia”, lança o segundo disco,"Bluesman", um ano após o sucesso do primeiro trabalho musical

Baco Exu do BluesBaco Exu do Blues - Foto: Divulgação

Faixa três do disco “Esú” (2017), um dos melhores produzidos no Brasil, ano passado, a música “En Tu Mira” deixa um recado perturbador. “Isso é um pedido de socorro/ você está aplaudindo/ eu tô me matando, porra!”. Baco Exu do Blues, nome artístico de Diogo Moncorvo, então, comete o suicídio de sua face autodestrutiva. “O deus que habita em mim, eu tô libertando”.

Um ano depois, ele reencarna como um “Bluesman” (2018). Bravo! O mais recente disco do rapper baiano, de 22 anos, lançado há uma semana, não só dialoga como também supera sua cria de estreia - algo, de fato, surpreendente. A dificuldade em lidar com as expectativas não existe mais. Baco, agora, expõe uma personalidade fortalecida como homem negro e artista.

“Morri como rapper em ‘En Tu Mira’/Voltei como Bluesman/E agora eu me sinto bem, bem, bem”. Baco Exu do Blues não tem intimidades com a guitarra. Mesmo assim, ele garante, na música que abre o trabalho: “A partir de agora considero tudo Blues”. Seria, então, o ritmo cunhado pelo lamento dos negros norte-americanos a raiz de “tudo que quando era preto era do demônio/ E depois virou branco e foi aceito/ Eu vou chamar de Blues/ Jesus é Blues”.

Em "Bluesman" há mais ódio ao racismo. Há mais dor e amor. Blues não há. Mas... Se tudo é Blues?! Seu rap é blues. O álbum também materializa uma carreira promissora. Na última faixa, intitulada “B. B. King”, Baco canta que “entrou duas vezes para a história em dois anos, só com 22 anos”.


Antes da notoriedade alcançada com “Esú”, alavancada pelo hit “Te Amo Disgraça”, o baiano foi o responsável, em parceria com o pernambucano Diomedes Chinaski, pela track “Sulicídio”, em 2016, considerada atualmente um marco do rap nacional. A música usa de xingamentos diretos a rappers do eixo Rio-São Paulo para colocar em xeque seus privilégios em detrimento à falta de holofotes para o Nordeste. O sucesso funcionou como um parto a fórceps, e o mercado acabou aberto, em todo Brasil.

O pouco receio de Baco em se arriscar dá o ritmo do álbum. Ao se intitular “Kanye West da Bahia”, na faixa com as participações de DKVPZ e Bibi Caetano, ele revela uma admiração à postura do controverso rapper norte-americano. “O Kanye é uma pessoa que não se rotula a nada e isso em sua essência é ser bluesman”, justificou, em seu Instagram.

A música apresenta uma dose de latinidade. Assim como no toque de samba em “Minotauro de Borges” - uma das melhores do álbum -, citando o autor argentino Jorge Luis Borges. Com bom humor, também declara o desejo em ser Jay-Z, pelos sonhos eróticos com Beyoncé, na música “Me Desculpa, Jay-Z”.

   Erotismo romântico

Superar “Esú” parece ter sido possível. Ainda é cedo, no entanto, esperar uma substituta para “Te Amo, Disgraça”. Em "Bluesman", há o erotismo romântico de Baco em ouvir Exalta (samba) na quebrada, gritando “eu me apaixonei pela pessoa errada”, na letra da música “Flamingos”, em parceria com a banda curitibana Tuyo. Ou então, pode caber ao potencial radiofônico da faixa “Queima Minha Pele”, gravada com Tim Bernardes. Ou ainda em “Girassóis de Van Gogh”, inspirada nas impressões do cantor ao observar a tela "Doze girassóis numa jarra" (1888), do pintor holandês Vicent Van Gogh.

Naturalmente, um disco, de rap, com tantas experimentações, tendem a causar estranhamento a ouvidos desavisados. Diante disso, os tranquilizo. Na música "Preto e Prata", Baco retoma ao estilo mais agressivo. A faixa, inclusive, com outras duas músicas do álbum, faz parte da trilha sonora de um curta-metragem lançado pelo rapper. Com oito minutos, o filme é protagonizado pelo ator Kelson Succi e dirigido por Douglas Ratzlaff Bernardt, e faz uma inteligente relação entre a Prata, o Outro, o Preto e o Branco. Spoiler: a narrativa também é Blues.

Serviço:
"Bluesman", de Baco Exu do Blues
Gravadora: EAEO Records
Disco disponível nas plataformas digitais

 

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