"É louco que ainda escutamos pessoas falando em anistia total e irrestrita", diz Kleber Mendonça
"O agente secreto", filme de abertura do Festival de Brasília, tem como pano de fundo os anos de repressão da ditadura militar
Filme de abertura da 58ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, “O agente secreto”, de Kleber Mendonça Filho, contou com grande recepção por parte do público presente no Cine Brasília na noite de sexta-feira (12).
Na manhã deste sábado, a equipe do filme se reuniu para coletiva de imprensa mediada por Eduardo Valente, diretor artístico do evento. A conversa contou com a presença do diretor, da produtora Emilie Lesclaux e das atrizes Maria Fernanda Cândido, Isabél Zuaa, Alice Carvalho e Laura Lufési.
Estrelado por Wagner Moura, que não compareceu ao festival por estar ensaiando uma nova peça, em Salvador, “O agente secreto” se passa no final dos anos 1970, em meio ao regime militar. Kleber Mendonça Filho lembra do período:
— Tinha nove anos em 1977. Lembro bem desse período, porque passamos por uma crise familiar na época. Minha mãe estava doente. Para nos proteger, eu e meu irmão, meu tio passou a nos levar muito ao cinema. Acabou desenvolvendo minha relação com o cinema e o centro do Recife.
O diretor destaca o fato do filme, ainda que seja uma obra de época, também encontra ressonância nos dias de hoje, em que o Congresso tenta colocar em pauta a discussão sobre a anistia aos envolvidos na trama golpista do 8 de janeiro.
— O Brasil tem um trauma com a lei da anistia de 1979 e é louco que ainda hoje escutamos pessoas falando em anistia total e irrestrita. Existe uma ruptura no Brasil que repercute ainda hoje pelo fato de termos esquecido todos os assassinatos, estupros e torturas cometidos na ditadura — defende.
Maria Fernanda Cândido lembra que se aproximou de Kleber no Festival de Cannes de 2019, quando ele apresentou “Bacurau” e ela lançou “O traidor”, de Março Bellocchio. Após o encontro, o cineasta começou a pensar em uma personagem para a atriz e o convite veio pouco depois. A atriz conta que não pensou duas vezes antes de assumir o desafio. Alice Carvalho e Isabél Zuaa também disseram “sim” assim que a oportunidade chegou.
Outra atriz, ausente no debate, que se destacou na tela foi Tânia Maria, citada pela revista Variety como um possível nome na corrida pelo Oscar de melhor atriz coadjuvante. Sem formação como atriz, ela já havia participado de “Bacurau”.
— Tânia é uma pessoa que amo muito desde “Bacurau”. Ela é uma atriz do Rio Grande do Norte e virou uma grande amiga. Escrevi pensando nela — diz Kleber. — Em qualquer lugar onde o filme passa, não importa a língua, ela é um dos grandes destaques.
A produtora Emilie Lesclaux aponta que “O agente secreto”, orçado em R$ 28 milhões, é o filme mais ambicioso feito por ela e Kleber, fruto das voltas das políticas públicas para o audiovisual e das parcerias internacionais (o filme é uma coprodução Brasil, França, Alemanha e Holanda).
O Festival de Brasília acontece até o dia 20. “O agente secreto” chega aos cinemas brasileiros no dia 6 de novembro.

