Seg, 15 de Dezembro

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Literatura

Editoras independentes: afetividade e liberdade editorial para alcançar seus leitores

Em meio à crise editorial, coletivos independentes crescem e publicam livros de forma autoral

Chuvisco, comandada por Gabriela L’Amour e Manuela SobralChuvisco, comandada por Gabriela L’Amour e Manuela Sobral - Foto: Divulgação

Assim como não há fórmula para uma boa história escrita, não há uma única forma de se conectar com o leitor. Este tem sido um dos grandes desafios do mercado editorial nos últimos anos, que vê seus números oscilando com o crescente avanço dos e-commerces na venda de livros. Entretanto, as editoras independentes de Pernambuco têm se colocado em outros caminhos para levar suas narrativas ao público: firmando elos, pluralizando novas vozes na produção literária, e tendo uma curadoria mais afetiva em suas histórias.

O historiador Fred Caju, editor da Castanha Mecânica, pontua que a liberdade editorial e a troca afetiva são valores que diferenciam as editoras independentes. “Minha editora possui um crivo editorial, que considero íntimo e intuitivo. Não penso em desvirtuá-lo para angariar espaços onde não me sinto confortável em ver a literatura que edito circulando”, explica.

Caju enfatiza o fato de que a maior parte dessas publicadoras são formadas por uma única pessoa ou por coletivos que não têm o objetivo centrado no lucro. Por isso, ele está desenvolvendo o projeto “Diagnósticos e prognósticos de coletivos editoriais em Pernambuco", aprovado pelo LAB de formação e pesquisa da Lei Aldir Blanc. A pesquisa entregará análises sobre o desenvolvimento de projetos editoriais e quais carências do setor no Estado.

Um ponto levantado por Caju é a necessidade do contato físico com o leitor, que foi alterado na pandemia. “As feiras de livros tradicionais não comportam totalmente a diversidade do mercado independente. Ou as editoras alternativas se reconfiguram para estes cenários ou criam seus próprios espaços, o que pra mim é o mais interessante e me levou a estar à frente da MOPI - Mostra de Publicações Independentes”, conta.

Mulheres na formação

Uma das coisas que chamam a atenção é a frente tomada por mulheres nos coletivos editoriais. Enquanto elas foram minoria nos escritos entre 1965 e 2016, de acordo com levantamento da Universidade de Brasília (UNB), as mulheres são cada vez mais presentes em projetos independentes, como é o caso das editoras Chuvisco e Alvoroça, de autoras pernambucanas.

A Chuvisco, comandada por Gabriela L’Amour e Manuela Sobral, foi fundada em 2017 por causa de algumas inquietações de Gabriela com o ramo de design. “A ideia surgiu em 2016, por parte de angústias com o mercado de trabalho, principalmente, em design, onde tinha rotina com empresas. E eu estava sentindo falta desse tipo de mercado aqui em Pernambuco, de trazer coisas mais autorais e publicar coisas com quem a gente já tinha um afeto”, afirma L’Amour.

Ela enfatiza que a maior vantagem de estar à frente do projeto é a liberdade editorial, apesar do grande volume de trabalhos. “A principal vantagem é que pode ter o controle de tudo. A gente abraça a editora. Há uns tempos que são muito trabalhosos, que é que a gente faz tudo, mas ao mesmo tempo a gente tem o controle de marketing, a gente tem o controle de produção, a gente tem o controle de venda. Então, acaba tudo que a gente faz, fica realmente do jeito que a gente quer.

Não precisa de aprovação de ninguém”, salienta Gabriela. Em janeiro, elas lançaram o livro “Tática Operacional para Sobreviver ao Cotidiano”, de Lara Ximenes, o primeiro projeto do ano.

Já a Alvoroça nasceu a partir de um ateliê de encadernação artesanal, liderado pela pesquisadora de Literatura e Feminismo, Raíza Hanna. A publicadora feminista lançou a primeira obra, “Gilda”, da escritora paulista Sofia F. Souza, em dezembro de 2020. 

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