Ernesto Júnior expõe seus desenhos no restaurante Cá-Já
A primeira exposição individual do artista pernambucano, batizada de 'Ceratocone', revela o fazer artístico com enfermidade na visão
Aos 18 anos, Ernesto Júnior foi diagnosticado com ceratocone. A doença genética atinge a córnea, tornando a visão embaçada e irregular. Isso alterou sua percepção visual, mas não o impediu de continuar desenhando. É a enfermidade que dá nome à primeira mostra individual do artista, que terá vernissage nesta quarta-feira (17), às 19h, no restaurante Cá-Já.
Uma das consequências do ceratocone para Ernesto foi o uso constante de lentes de contato especiais. Foi quando precisou suspender a utilização, em função de um período estendido de exames, que ele alcançou novos delineamentos de traços e paletas de cores. "Acho que o fato de desenhar sem lente me trouxe outras nuances que eu não percebia", afirma. O resultado foi tão instigante que a prática de trabalhar sem as lentes acabaram se tornando parte do método de criação do artista.
Com 25 peças, a exposição é um apanhado de obras produzidas entre 2004 e 2019. O acervo reúne peças de três séries, batizadas de "Garatujas", "Rebotalhos" e "Refojos". Autodidata, Ernesto não fica preso a uma única técnica. Alguns de seus desenhos apresentam traços crus e linhas mais simples, enquanto outros esbanjam cores abertas. "Como nunca estudei, uso o material de acordo com a minha percepção e intuição. Tenho meu próprio tempero", diz.
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Os quadros criados pelo artista exibem, na maioria das vezes, figuras femininas. O erotismo é uma temática que permeia boa parte da sua produção. "Sempre tive muito interesse por esse universo erótico das histórias. No desenho, minhas referências começam com os 'catecismos' do Carlos Zéfiro, que eram quadrinhos pornôs desenhados entre os anos 1950 e 1970. Depois, conheci a obra do ilustrador filipino Alfredo Alcala, que quando desenhava personagens femininas tendia a erotizar. O que gosto de fazer é ir misturando rostos que vejo nas ruas, com corpos de outras mulheres, e poses que observo em livros. Esse amalgama é uma característica minha", conta.
Além das artes visuais, Ernesto também vem se dedicando a outra linguagem. Entre os projetos do qual já fez parte é o grupo de choro Pouca Chinfra, com o qual atuava na percussão e na voz. Ainda hoje, mesmo sem fazer parte de uma banda, a música continua exercendo influência no seu processo criativo. "Costumo desenhar escutando música, principalmente bossa nova, samba e jazz. A poesia é outra inspiração. Autores como Cacaso, Adélia Prado e Chacal são fundamentais para mim", revela.
A mostra tem produção de Paula Van der Linden, que ajudou o artista na seleção do acervo exposto. Já a montagem tem apoio de Alberto Santana, Rafael Maia e Yuri Bruscky, este último autor do texto de apresentação da mostra. O designer gráfico Eduardo Padrão assina a identidade visual. As obras estarão à venda no local.
Antes de "Cerotocone", o Cá-Já expôs trabalhos de artistas como Aslan Cabral, França Bonzaion e Sâmia Emerenciano. "Sobretudo nesse momento nebuloso que a cultura vive no Brasil, acho muito importante que lugares como restaurantes e cafés estejam dispostos a abrir espaço para a arte. Espero que essa iniciativa tenha vida longa. Estamos precisando disso", defende.
Serviço
Mostra "Ceratocone", por Ernesto Júnior
Abertura nesta quarta-feira (17), às 19h
No Cá-Já Restaurante (rua Carneiro Vilela, 648, Aflitos)
Informações: (81) 3126-0648


