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Exposição que debate história de quilombo indígena é inaugurada no Museu da Abolição

"Tiririca dos Crioulos: pessoas fortes na luta", aberta neste sábado, traz ao público parte da história dos moradores de Carnaubeira da Penha, no Sertão pernambucano

Exposição "Tiririca dos Crioulos: pessoas  fortes na luta"Exposição "Tiririca dos Crioulos: pessoas fortes na luta" - Foto: Carmelo Fioraso/Divulgação

A exposição "Tiririca dos Crioulos: pessoas fortes na luta", que integra o projeto "Do Buraco ao Mundo: percepções sobre o patrimônio cultural da Tiririca dos Crioulos", surgiu de uma cooperação entre Nivaldo Aureliano, biólogo e antropólogo cearense radicado em Pernambuco; Larissa Isidoro, arte educadora paulista; Alecksandra Sá, moradora da comunidade, onde atua como professora, e os próprios habitantes de Tiririca dos Crioulos, quilombo-indígena do município de Carnaubeira da Penha, no Sertão de Pernambuco, a 500 km do Recife.

A mostra, que será inaugurada neste sábado (5), no Museu da Abolição, às 17h, foi contemplada pelo Rumos, do Itaú Cultural, e representa as conquistas do projeto "Do Buraco ao Mundo". Antes, às 14h, haverá uma roda de diálogo sobre arte, patrimônio e políticas culturais e, às 17h, um ritual de abertura da mostra, realizado por integrantes da comunidade.

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"Esse momento é a culminância dos três anos de pesquisa que nós desenvolvemos", comemora Nivaldo. "A premissa nesse trabalho foi que não seríamos nós, externos à comunidade, que diríamos o que era e o que não era importante para os moradores. Seriam os próprios moradores que diriam o que é importante para eles", destaca.

O material que compõe a exposição foi reunido em conjunto entre os pesquisadores e os moradores de Tiririca dos Crioulos, selecionado através de diálogos, pesquisas e oficinas. "A exposição foi colaborativa, um sistema de coautoria, construída a muitas mãos e cabeças pensantes", explica Nivaldo. "Tem de 30 a 50 pessoas, desde criança que fez desenho até ancião que contou sua história. São todos pesquisadores e pesquisadores de si, de sua própria história. Ninguém vai para canto nenhum se não souber de onde vem", ressalta.

"Na exposição vai ter fotografias, vídeos, músicas, objetos que eles selecionaram como importantes, como potes de barro, a primeira máquina de costura, o primeiro rádio da comunidade, as roupas utilizadas em rituais religiosos. Através desses objetos uma determinada história é contada e narrada. Não é a história que está oficialmente nos livros. A exposição permite isso ao visitante: perceber a diversidade que há no Estado de Pernambuco", detalha Nivaldo, ressaltando a oficina de audiovisual feita na comunidade.

Editais

"Do Buraco ao Mundo" tem três anos. "Conseguimos editais sucessivos. O do Ministério da Cultura (MinC), em 2014; no mesmo ano, ganhamos um prolongamento através do Funcultura; em 2015, ganhamos dois prêmios do Iphan; em 2016, conseguimos o patrocínio do Itaú Cultural", detalha Nivaldo. "A gente fez um livro sobre a história da comunidade e gravamos um CD duplo com músicas que cantam lá, que estão para download gratuito nosso blog", diz.

O projeto surge para suprir lacunas históricas. "A intenção foi fazer um material didático para ser utilizado nas escolas, para o estudo dos quilombolas indígenas. Há leis que falam sobre a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas, mas muitas vezes não tem a efetivação dessa lei, porque falta formação profissional e material didático. Ainda existe preconceito e racismo para aceitar e reconhecer o conhecimento da história afro-brasileira", sugere.

Política

A importância da mostra passa por um sentido de identidade e debate político. "Essa exposição permite a visibilidade e reconhecimento da Tiririca dos Criolos, que sofre com racismo. Ainda hoje luta por seus direitos. Por isso o nome da exposição tem 'Pessoas fortes na luta'. Luta inclusive por seus direitos à vida, para poder existir e continuar existindo", diz Nivaldo.

"No dia 16 de agosto vai ter a votação, em Brasília, que ameaça a política de delimitação territorial das comunidades quilombolas. A bancada ruralista questionou a política de delimitação territorial dos quilombolas. Assim, as comunidades vão passar fome, não vão ter condições de continuar suas aulas, seu processo de ensino. Eles dependem da terra", diz o pesquisador. "Há anos que eles são silenciados e abafados. Queremos reverter isso", destaca.

Serviço:

Exposição "Tiririca dos Crioulos: pessoas fortes na luta"
Onde: Museu da Abolição (rua Benfica, 1150, Madalena)
Quando: Abertura neste sábado (5), às 17h
Blog: www.culturadigital.br/tiriricadoscrioulos

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