Fernando Molica lança livro ao lado do pai, José Amélio, que estreia na literatura aos 92 anos
Pai e filho lançarão suas obras nesta sexta-feira (15) no Galeto Sat's de Botafogo, Zona Sul do Rio
O carioca Fernando Molica é jornalista e escritor calejado. Entre ficção e não ficção, tem nove livros publicados — incluindo três finalistas do Jabuti, o mais prestigiado prêmio literário do país, e dois romances traduzidos para França e Alemanha. Mesmo assim, vive agora uma experiência rara na indústria editorial: está lançando sua mais recente obra, “Meninos que brincaram na Lua”, ao lado do pai, José Amélio Molica — que, aos 92 anos, estreia na literatura com “O mundo começa em Cajuri”.
Cajuri, diga-se, é a cidade de Minas Gerais onde Amélio nasceu. Ele começou a trabalhar ainda criança: foi boiadeiro, agricultor e vendedor de doces, sempre fazendo algo para reforçar o orçamento da casa. A família vivia bem, mas era humilde, e os pais dele fizeram de tudo para que os 12 filhos estudassem. Resultado:
— Escrever o livro era uma obrigação minha — diz Amélio hoje, reforçando a importância dos estudos.
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E foram os estudos que fizeram Amélio vir para o Rio, em 1954. Ganhou a vida como contador e, ao lado da Dona Therezinha, criou dois filhos. Mesmo na correria, nunca deixou de ler muito (com atenção especial às crônicas de Nelson Rodrigues) e de contar historinhas da família, as chamadas “Molicadas”. Aposentado há mais de duas décadas, mantém a cabeça cheia de projetos. Há dois anos, começou a escrever as crônicas que resultaram em “O mundo começa em Cajuri”.
A prosa de Amélio ecoa a tradição oral dos bons contadores de causos, equilibrando-se entre o humor e o lírico. Mais que isso, tem seu valor como registro histórico da região, quase no mesmo jeitão narrativo de Pedro Nava (1903-1984), graças à sua memória privilegiada.
Muitas paixões
Fernando Molica, por sua vez, reuniu 69 crônicas em “Meninos que brincaram na Lua”. Jornalista desde 1981, ele tem a manha de usar a palavra exata para designar o que vê e o que sente ao redor. Nos textos, abre reflexões sempre originais sobre seis grandes temas: Rio, Brasil, música, livros, amor e futebol — com justo e supremo apreço ao Botafogo de Futebol e Regatas, time que o levou a Buenos Aires para testemunhar a vitória alvinegra na Copa Libertadores, ano passado. No fim das contas, são paixões que rendem boa literatura, o que nem sempre acontece.
E será que Fernando foi influenciado pelo contador de histórias Amélio?
— Eu, criança, ia com frequência a Viçosa, em Minas Gerais, onde a família Molica se radicou. Fica bem pertinho de Cajuri. Ouvir tantas histórias deve ter me influenciado, mas é difícil saber — diz Fernando.
E sobre a tal experiência de lançar um livro ao mesmo tempo que o pai?
— Nunca tinha imaginado algo assim. E as duas obras acabando se complementando: a dele trata de um universo rural, tem uma pegada memorialística; a minha é urbana, sendo principalmente suburbana, focada na atualidade.
O lançamento dos dois livros será nesta sexta-feira (15), no Galeto Sat’s de Botafogo (Rua Real Grandeza 212), no Rio de Janeiro, a partir das 19h.

