Gloria Kalil faz homenagem ao ex-marido Arnaldo Jabor: 'Imposível falar sem usar todos os adjetivos'
Jornalista e consultora de estilo foi casada com o cineasta, cronista e escritor, morto aos 81 anos em decorrência de complicações de um AVC
A jornalista e consultora de estilo Gloria Kalil, que foi casada por quatro anos com o cineasta Arnaldo Jabor, usou as redes sociais para prestar uma homenagem ao ex-marido, morto aos 81 anos, em decorrência de complicações de um AVC.
"O diretor de cinema audacioso, o escritor brilhante, o comentarista exuberante, o mais angustiado, mais multifacetado e desafiador da mídia brasileira, foi-se. Impossível falar dele sem usar todos os adjetivos grandiosos da língua portuguesa", escreveu Gloria Kalil, em post no Instagram.
"Ele era grande, alto, espaçoso, desajeitado, ansioso, engraçado, amoroso. Irrestrito amigo dos amigos. Tinha duas grandes paixões: os filhos e o Brasil, que ele quis abraçar para entender", acrescentou a consultora de estilo, no mesmo texto.
Morreu, na madrugada da última terça-feira (15), o cineasta e cronista Arnaldo Jabor, aos 81 anos. Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desde o dia 17 de dezembro, em decorrência de um acidente vascular cerebral. O velório, aberto ao público, está marcado para esta quarta (16), a partir das 11h, no Museu de Marte Moderna (MAM) do Rio. O cineasta será cremado.
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Ex-mulher de Jabor e mãe de um de seus filhos, João Pedro, a produtora de cinema Suzana Villas Boas escreveu, numa rede social: "Jabor virou estrela, meu filho perdeu o pai, e o Brasil perdeu um grande brasileiro". O cineasta deixa três filhos — João Pedro, Carolina e Juliana — e o filme inédito “Meu último desejo”, inspirado no conto “O livro dos panegíricos”, de Rubem Fonseca.
Nascido em 12 de dezembro de 1940 no Rocha, bairro da Zona Norte carioca, Arnaldo Jabor era filho de um oficial da Aeronáutica e de uma dona de casa. Em uma crônica, descreveu o pai como “exemplo de resistência espartana, de chorar sem lágrimas”. “Claro que virei artista, claro que enquanto ele me deu um livro nunca aberto sobre mineração de carvão eu ia ler Rimbaud e escrever poesia”, confessou.
Em mais de 50 anos de carreira, Jabor, que foi colunista do GLOBO de 1995 a 2016, viveu entre o cinema, o jornal, a TV e o rádio, ora tratando de política, ora contando histórias da juventude — ou juntando as duas coisas, como um malabarista. Em seus filmes e textos, procurava observar a sociedade brasileira, compreender suas contradições e criticar suas hipocrisias.
Jabor começou a chamar atenção ainda no tempo do Cinema Novo. Em 1967, inspirado pelo “cinema verdade” de Jean Rouch, levou a câmera às ruas e lançou “A opinião pública”, documentário que expõe a ignorância política da classe média carioca após o golpe militar de 1964.
No filme, já estavam presentes características que Jabor cultivaria por toda a vida, como o interesse em dissecar as contradições da classe média brasileira e a disposição para intervir criticamente no debate público. Para o cineasta Luiz Carlos Barreto, o filme já anunciava a “veia jornalística” de Jabor, cujo “tema preferido era o amor”.
Em entrevista ao GLOBO, em 2014, ao lançar "O malabarista: os melhores textos de Arnaldo Jabor", o cineasta afirmou enxergar semelhanças entre o Brasil contemporâneo e aquele retratado em "A opinião pública".
— Naquela época, o Brasil também estava dividido em dois e ninguém falava da classe média. Fiz o filme para mostrar a perplexidade de um grupo que não tinha a menor ideia do caminho que deveria seguir. É uma sensação que continua hoje.— declarou.
Nos anos 1970, Jabor tornou-se um dos mais bem-sucedidos diretores do país graças a filmes como “Toda nudez será castigada” (1973), que conquistou o Urso de Prata no Festival de Berlim e foi o primeiro vencedor do Festival de Cinema de Gramado. Adaptado da obra teatral homônima de seu amigo Nelson Rodrigues, o drama acompanha um conturbado triângulo amoroso formado por um viúvo, sua amante e seu próprio filho.
Em 1975, novamente inspirado por textos de Rodrigues, Jabor lançou "O casamento" (1975), sátira dos anseios da classe média que rendeu o Kikito de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante a Camila Amado.
Na mesma linha, mais um estouro: "Tudo bem" (1978), com nomes como Paulo Gracindo, Fernanda Montenegro e Zezé Motta. A obra, aliás, está na lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, editada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Ao GLOBO, Fernandona descreveu o filme como “louco” e cheio de “transcendência poética”.
As crises amorosas e existenciais voltaram a ser objeto do diretor em "Eu te amo" (1980), com Paulo César Pereio, Sônia Braga, Tarcísio Meira, Vera Fischer e Regina Casé no elenco. Intimista e sensual, o filme culmina num grande delírio musical em celebração ao amor e à vida. Foi indicado ao prêmio de Melhor Filme no Festival de Gramado em 1981 e saiu vencedor em três categorias: Melhor Atriz (Sonia Braga), Melhor Som e Melhor Cenografia.

