Jane Birkin, a inglesa preferida dos franceses
Birkin conquistou a fama na década de 1960, quando a relação cultural entre a França e a Grã-Bretanha estava em um período particularmente fértil
Com seu sotaque britânico, o sorriso eterno e o amor pela cultura francesa, Jane Birkin, encontrada sem vida neste domingo (16) em sua residência de Paris, aos 76 anos, foi a inglesa preferida dos franceses, musa e parceira de um de seus cantores mais famoso, Serge Gainsbourg.
"Quando vejo os franceses ouvindo músicas de 40 anos atrás, sei que elas passaram a fazer parte da sua história. E eles também fazem parte da minha", explicou a artista em 2018, quando publicou as memórias "Munkey Diaries".
Birkin conquistou a fama na década de 1960, quando a relação cultural entre a França e a Grã-Bretanha estava em um período particularmente fértil.
De silhueta andrógina e beleza adolescente, Birkin encarnou como poucos o estilo entre boêmio e chique, que anos depois seria herdado por sua filha, Charlotte Gainsbourg, uma das principais atrizes do cinema francês.
- "Je t'aime, moi non plus" -
Filha de destacado oficial da Marinha Real e espião durante a Segunda Guerra Mundial, Dave Birkin, e de uma atriz, Judy Campbell, Jane Birkin nasceu em 14 de dezembro de 1946 em Londres.
Ela iniciou uma carreira artística no cinema. Em seu quarto filme, “Blow Up”, do cineasta Michelangelo Antonioni (Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1967), ela provoca o escândalo ao aparecer nua.
Antes de completar 20 anos se casou com o compositor inglês John Barry, 13 anos mais velho que ela.
O casal teve uma filha, Kate (falecida em 2013). Jane Birkin deixa a família para trás e se muda para Paris. Em 1968, quando rodava o filme "Slogan", de Pierre Grimblat, conheceu Serge Gainsbourg.
A paixão é imediata e ambos encarnaram o casal tipicamente parisiense dos anos 1970, com alguma arrogância, além de muita criatividade e cheio de sensualidade.
Em 1969, Jane Birkin grava "Je t'aime, moi non plus", de Gainsbourg. Seus gemidos na canção provocam um novo escândalo.
Serge Gainsbourg escreveu a música pensando em Brigitte Bardot, com quem teve um romance turbulento.
Bardot proibiu a versão inicial da canção, com sua voz, e decidiu abrir a porta para que Jane Birkin entrasse para a história.
Em 1971, ela dá à luz a Charlotte. Serge e Jane lançam um novo álbum, "Histoire de Melody Nelson", que a princípio é um fracasso comercial, mas com o tempo vira uma produção cultuada.
Leia também
• Aos 76 anos, morre atriz e cantora Jane Birkin
• Jane Fonda diz que seu câncer está em remissão
Gainsbourg enfrentou problemas com o alcoolismo e era violento em várias ocasiões. Jane Birkin o abandonou em 1980.
A atriz reconstruiu a vida com o cineasta Jacques Doillon, com quem foi casada por 13 anos. Do relacionamento nasceu a terceira filha de Jane, Lou Doillon.
"Apesar das aparências, carrego dentro de mim algo infinitamente triste, um terrível sentimento de culpa que não me abandonou desde a infância. Jacques percebeu isso", explicou em uma ocasião.
Jane Birkin participou de quase 70 filmes durante a carreira, com cineastas como Jacques Rivette, Bertrand Tavernier, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, James Ivory e Agnès Varda.
Humilde, em uma entrevista, declarou que tinha "instinto" de atriz, mas não "talento".
Apesar do distanciamento, ela seguiu colaborado com o ex-parceiro. Serge Gainsbourg escreveu "Baby Alone in Babylone" para ela e o álbum foi disco de ouro na França em 1983.
Ela inspirou uma bolsa emblemática da marca Hermès, a Birkin. Em 2008 lançou o primeiro álbum com canções de sua própria autoria, "Enfants d'hiver". Mas seu sucesso baixou irremediavelmente ligado a Serge Gainsbourg, como causou a turnê "Arabesque" e o álbum de mesmo nome, de 2002.

