Livro traz o relato da última sobrevivente do bando de Lampião
A ex-cangaceira Dulce, com atualmente 94 anos, contou sua história ao genro, o historiador Sebastião Pereira Ruas. Ele lança a obra no Recife neste domingo (11)
A última remanescente do bando de Lampião tem 94 anos e vive atualmente em São Paulo, depois de ter passado mais de sete décadas morando em Jordânia, no Vale do Jequitinhonha (na fronteira entre Minas Gerais e Bahia). Dulce Menezes estava presente no dia em que os soldados cercaram os cangaceiros, em Angicos, no estado de Sergipe, matando Lampião, Maria Bonita e outros sete membros do bando.
Leia também:
Livro traz novo olhar sobre o cangaço de Lampião
XXI Missa do Cangaço relembra os 80 anos de morte de Lampião
Lampião e a caçada que mudou a Polícia Militar de Pernambuco
Livro traz a passagem de Lampião pelo Sertão do Pajeú
Sebastião conseguiu convencer a sogra, Dulce, a partilhar sua história sofrida nos tempos do cangaço - Crédito: Divulgação
Sebastião Ruas veio ao Recife lançar seu livro sobre a cangaceira Dulce - Crédito: Anderson Stevens / Folha de Pernambuco
Ela sobreviveu, junto com seu marido e algoz, o cangaceiro Criança. Tinha apenas 15 anos. Discreta, sempre evitou falar sobre o assunto e muitos a davam como morta. Mas seu genro Sebastião Pereira Ruas, casado com sua filha Martha, acabou convencendo-a a dar os depoimentos que servem como base para "Dulce, a boneca cangaceira de Deus", que será lançado no Recife neste domingo, na Livraria Jaqueira.
Segundo Sebastião Pereira Ruas, o livro tem pedaços romanceados, mas se firma em informações verdadeiras. A forma como ele viabilizou sua confecção por si só parece novela: historiador, Sebastião descobriu o passado que Dulce, envergonhada, passou a vida tentando esconder a todo custo.
O pesquisador passou pelo menos dois anos na busca de convencer a família a permitir o acesso à senhora idosa, que vivia com Martha e seu então marido em São Paulo. Este era contrário à ideia do livro. Mas quando Martha se separou, ligou para Sebastião e finalmente deu o aval para que as entrevistas fossem feitas. Eles se conheciam desde a infância, e esta foi a deixa para que um romance se delineasse na vida real.
O atual genro não esconde a admiração pela sogra, que se tornou evangélica e é uma pessoa muito querida na região de Jordânia. A confiança possibilitou que Dulce contasse ao autor momentos dolorosos de sua vida. Órfã de pai e mãe antes dos dez anos, Dulce foi sendo criada pelas irmãs mais velhas. Uma delas migrou para São Paulo e deixou a mocinha de traços delicados aos cuidados de uma segunda irmã.
O cunhado, João Félix, era "coiteiro" do bando de Lampião e numa dessas visitas, o cangaceiro João Lourenço Xavier, mais conhecido como Criança, se apaixonou por Dulce. Não houve flerte: ele simplesmente "comprou" a menina, na época com 14 anos, por um punhado de joias. Durante uma festa, arrastou Dulce para o terreiro e estuprou-a na frente de todos.
Dulce integrou o bando de Lampião por vários meses, até que ocorreu o cerco em Angicos (SE) - Crédito: Divulgação
Em seguida, e contra a vontade de Dulce, levou-a consigo para o cangaço, onde precisou enfrentar todo tipo de dissabor e ainda saiu marcada como criminosa perante a lei e a sociedade.
Contrariando as perspectivas, Dulce sobreviveu, separou-se de Criança, casou-se novamente, teve vários filhos e netos e continua firme e lúcida, testemunhando sua força e fé.
Após o fim do cangaço, Dulce foi viver em Jordânia, na fronteira entre a Bahia e Minas Gerais - Crédito: Acervo de família
Serviço:
"Dulce, a boneca cangaceira de Deus"
Editora Lexia, 228 páginas
Preço médio: R$ 39,90
Lançamento
Onde: Livraria Jaqueira (rua Antenor Navarro, 138, Jaqueira)
Quando: neste domingo (11), às 17h


