Ter, 23 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
Cultura+

Livro traz o relato da última sobrevivente do bando de Lampião

A ex-cangaceira Dulce, com atualmente 94 anos, contou sua história ao genro, o historiador Sebastião Pereira Ruas. Ele lança a obra no Recife neste domingo (11)

Livro terminou unindo Sebastião à filha de dona Dulce, MarthaLivro terminou unindo Sebastião à filha de dona Dulce, Martha - Foto: Anderson Stevens / Folha de Pernambuco

A última remanescente do bando de Lampião tem 94 anos e vive atualmente em São Paulo, depois de ter passado mais de sete décadas morando em Jordânia, no Vale do Jequitinhonha (na fronteira entre Minas Gerais e Bahia). Dulce Menezes estava presente no dia em que os soldados cercaram os cangaceiros, em Angicos, no estado de Sergipe, matando Lampião, Maria Bonita e outros sete membros do bando.

Leia também:
Livro traz novo olhar sobre o cangaço de Lampião
XXI Missa do Cangaço relembra os 80 anos de morte de Lampião
Lampião e a caçada que mudou a Polícia Militar de Pernambuco
Livro traz a passagem de Lampião pelo Sertão do Pajeú


Sebastião conseguiu convencer a sogra, Dulce, a partilhar sua história sofrida nos tempos do cangaço

Sebastião conseguiu convencer a sogra, Dulce, a partilhar sua história sofrida nos tempos do cangaço - Crédito: Divulgação

Sebastião Ruas veio ao Recife lançar seu livro sobre a cangaceira Dulce

Sebastião Ruas veio ao Recife lançar seu livro sobre a cangaceira Dulce - Crédito: Anderson Stevens / Folha de Pernambuco

Ela sobreviveu, junto com seu marido e algoz, o cangaceiro Criança. Tinha apenas 15 anos. Discreta, sempre evitou falar sobre o assunto e muitos a davam como morta. Mas seu genro Sebastião Pereira Ruas, casado com sua filha Martha, acabou convencendo-a a dar os depoimentos que servem como base para "Dulce, a boneca cangaceira de Deus", que será lançado no Recife neste domingo, na Livraria Jaqueira. 


Segundo Sebastião Pereira Ruas, o livro tem pedaços romanceados, mas se firma em informações verdadeiras. A forma como ele viabilizou sua confecção por si só parece novela: historiador, Sebastião descobriu o passado que Dulce, envergonhada, passou a vida tentando esconder a todo custo.

O pesquisador passou pelo menos dois anos na busca de convencer a família a permitir o acesso à senhora idosa, que vivia com Martha e seu então marido em São Paulo. Este era contrário à ideia do livro. Mas quando Martha se separou, ligou para Sebastião e finalmente deu o aval para que as entrevistas fossem feitas. Eles se conheciam desde a infância, e esta foi a deixa para que um romance se delineasse na vida real.

O atual genro não esconde a admiração pela sogra, que se tornou evangélica e é uma pessoa muito querida na região de Jordânia. A confiança possibilitou que Dulce contasse ao autor momentos dolorosos de sua vida. Órfã de pai e mãe antes dos dez anos, Dulce foi sendo criada pelas irmãs mais velhas. Uma delas migrou para São Paulo e deixou a mocinha de traços delicados aos cuidados de uma segunda irmã.

Aos 14 anos, Dulce foi vendida pelo cunhado ao cangaceiro Criança

Aos 14 anos, Dulce foi vendida pelo cunhado ao cangaceiro Criança - Crédito: Divulgação

O cunhado, João Félix, era "coiteiro" do bando de Lampião e numa dessas visitas, o cangaceiro João Lourenço Xavier, mais conhecido como Criança, se apaixonou por Dulce. Não houve flerte: ele simplesmente "comprou" a menina, na época com 14 anos, por um punhado de joias. Durante uma festa, arrastou Dulce para o terreiro e estuprou-a na frente de todos.

Dulce integrou o bando de Lampião por vários meses, até que ocorreu o cerco em Angicos (SE)

Dulce integrou o bando de Lampião por vários meses, até que ocorreu o cerco em Angicos (SE) - Crédito: Divulgação

Em seguida, e contra a vontade de Dulce, levou-a consigo para o cangaço, onde precisou enfrentar todo tipo de dissabor e ainda saiu marcada como criminosa perante a lei e a sociedade. 

Contrariando as perspectivas, Dulce sobreviveu, separou-se de Criança, casou-se novamente, teve vários filhos e netos e continua firme e lúcida, testemunhando sua força e fé.

Após o fim do cangaço, Dulce foi viver em Jordânia, na fronteira entre a Bahia e Minas Gerais

Após o fim do cangaço, Dulce foi viver em Jordânia, na fronteira entre a Bahia e Minas Gerais - Crédito: Acervo de família

Serviço:
"Dulce, a boneca cangaceira de Deus"
Editora Lexia, 228 páginas
Preço médio: R$ 39,90

Lançamento

Onde: Livraria Jaqueira (rua Antenor Navarro, 138, Jaqueira)
Quando: neste domingo (11), às 17h


Veja também

Newsletter