Luis Fernando Verissimo era apaixonado pelo bom futebol e pé-quente em Copas do Mundo
Escritor morreu neste sábado, aos 88 anos, em decorrência de uma pneumonia
Apaixonado pelo futebol, Luis Fernando Verissimo, morto neste sábado aos 88 anos, era torcedor fanático do Internacional. A escolha ainda criança ocorreu na volta a Porto Alegre após dois anos morando nos Estados Unidos. Ele justificou a opção no livro “Internacional: autobiografia de uma paixão” (Ediouro): “Só achava mais simpático aquele time dos pobres que regularmente batia no time dos ricos (o Grêmio)”. No Rio, torcia pelo Botafogo. Pelo Globo, acompanhou as Copas de 2002, 2006 e 2010. Em todas elas exibiu duas de suas principais características: a simplicidade e o senso de humor apurado.
A estreia aconteceu em grande estilo, na Copa de 2002, a primeira disputada na Ásia e tendo dois países organizadores, Coreia do Sul e Japão. Verissimo se juntou à equipe do Globo na sem graça Ulsan, uma cidade industrial coreana. Ele estava na Austrália, para participar de uma feira literária, e na véspera de voar, ligou para um dos integrantes da equipe avisando de sua chegada. No dia seguinte, Tadeu de Aguiar, que coordenava a cobertura nos países-sede, e eu fomos recepcioná-lo no aeroporto da cidade.
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Bom humor e generosidade
Nós estávamos tensos, principalmente Tadeu, que tinha a missão de comunicar ao escritor que ele e Lúcia, sua adorável mulher, teriam que passar a noite num motel, já que não havia quartos disponíveis na cidade naquele dia, só no seguinte. Tadeu adiou ao máximo a conversa. Um exagero. Verissimo e Lúcia foram supersimpáticos, brincaram com a situação e foram logo elogiando o quarto quando chegaram ao tal motel. A cumplicidade estava selada.
O casal se entrosou tão bem com todos que pareciam trabalhar na redação do Globo há anos. E as relações se estreitaram ainda mais durante as viagens de ônibus pelo Japão. Havia um karaokê no veículo e a cantoria rolava solta. Verissimo acompanhava tudo calado, mas sempre com um sorriso no rosto. Era a simpatia e a timidez em pessoa.
Na antevéspera da final contra a Alemanha, Verissimo foi escalado para fazer uma entrevista com seu conterrâneo Luiz Felipe Scolari, o Felipão. O papo dos gaúchos foi conduzido pelo repórter Felipe Awi, que num determinado momento perguntou ao treinador quais livros do escritor o técnico já tinha lido. Felipão ficou pálido, começou a gaguejar. Sentindo que o técnico da seleção estava em apuros, Verissimo disse que o treinador tinha mais coisas com que se preocupar àquela altura da Copa do Mundo. Salvou Felipão com a categoria de costume.
Em 2006, na Alemanha, lá estavam Verissimo e Lúcia novamente na equipe do Globo. Como sempre, a participação do cronista foi brilhante. Entre outras coisas, fez, ao lado do repórter Marceu Vieira, uma longa entrevista com Ronaldinho Gaúcho, na época ainda o maior jogador do mundo.
O título não veio, mas a equipe do Globo brilhou. E como em time que está ganhando não se mexe, quatro anos depois, na África do Sul, Verissimo estava mais uma vez pronto para entrar em campo. Enfrentou o frio glacial de Johannesburgo no inverno sem reclamar uma única vez. Aliás, jamais alguém do Globo viu Verissimo se queixar de alguma coisa. Ele era assim.

