Sex, 05 de Dezembro

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Luis Fernando Verissimo era apaixonado pelo bom futebol e pé-quente em Copas do Mundo

Escritor morreu neste sábado, aos 88 anos, em decorrência de uma pneumonia

Morre Luis Fernando VerissimoMorre Luis Fernando Verissimo - Foto: Lindomar Cruz/Agência Brasil

Apaixonado pelo futebol, Luis Fernando Verissimo, morto neste sábado aos 88 anos, era torcedor fanático do Internacional. A escolha ainda criança ocorreu na volta a Porto Alegre após dois anos morando nos Estados Unidos. Ele justificou a opção no livro “Internacional: autobiografia de uma paixão” (Ediouro): “Só achava mais simpático aquele time dos pobres que regularmente batia no time dos ricos (o Grêmio)”. No Rio, torcia pelo Botafogo. Pelo Globo, acompanhou as Copas de 2002, 2006 e 2010. Em todas elas exibiu duas de suas principais características: a simplicidade e o senso de humor apurado.

A estreia aconteceu em grande estilo, na Copa de 2002, a primeira disputada na Ásia e tendo dois países organizadores, Coreia do Sul e Japão. Verissimo se juntou à equipe do Globo na sem graça Ulsan, uma cidade industrial coreana. Ele estava na Austrália, para participar de uma feira literária, e na véspera de voar, ligou para um dos integrantes da equipe avisando de sua chegada. No dia seguinte, Tadeu de Aguiar, que coordenava a cobertura nos países-sede, e eu fomos recepcioná-lo no aeroporto da cidade.

Bom humor e generosidade
Nós estávamos tensos, principalmente Tadeu, que tinha a missão de comunicar ao escritor que ele e Lúcia, sua adorável mulher, teriam que passar a noite num motel, já que não havia quartos disponíveis na cidade naquele dia, só no seguinte. Tadeu adiou ao máximo a conversa. Um exagero. Verissimo e Lúcia foram supersimpáticos, brincaram com a situação e foram logo elogiando o quarto quando chegaram ao tal motel. A cumplicidade estava selada.

O casal se entrosou tão bem com todos que pareciam trabalhar na redação do Globo há anos. E as relações se estreitaram ainda mais durante as viagens de ônibus pelo Japão. Havia um karaokê no veículo e a cantoria rolava solta. Verissimo acompanhava tudo calado, mas sempre com um sorriso no rosto. Era a simpatia e a timidez em pessoa.

Na antevéspera da final contra a Alemanha, Verissimo foi escalado para fazer uma entrevista com seu conterrâneo Luiz Felipe Scolari, o Felipão. O papo dos gaúchos foi conduzido pelo repórter Felipe Awi, que num determinado momento perguntou ao treinador quais livros do escritor o técnico já tinha lido. Felipão ficou pálido, começou a gaguejar. Sentindo que o técnico da seleção estava em apuros, Verissimo disse que o treinador tinha mais coisas com que se preocupar àquela altura da Copa do Mundo. Salvou Felipão com a categoria de costume.

Em 2006, na Alemanha, lá estavam Verissimo e Lúcia novamente na equipe do Globo. Como sempre, a participação do cronista foi brilhante. Entre outras coisas, fez, ao lado do repórter Marceu Vieira, uma longa entrevista com Ronaldinho Gaúcho, na época ainda o maior jogador do mundo.

O título não veio, mas a equipe do Globo brilhou. E como em time que está ganhando não se mexe, quatro anos depois, na África do Sul, Verissimo estava mais uma vez pronto para entrar em campo. Enfrentou o frio glacial de Johannesburgo no inverno sem reclamar uma única vez. Aliás, jamais alguém do Globo viu Verissimo se queixar de alguma coisa. Ele era assim.

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