“Manchester à beira-mar" se esquiva de melodramas ao acompanhar o solitário Lee Chandler
Protagonista da história trabalha como zelador em um condomínio
O protagonista da história trabalha como zelador em um condomínio. Sua rotina tediosa de fazer pequenos consertos e recolher o lixo dos moradores é abalada com a notícia de que, no testamento, seu irmão deixou a guarda do filho para ele.
Para atender ao pedido, Lee precisaria voltar a morar na pequena e litorânea cidade que dá título ao filme, localizada no estado de New Hampshire. É aí que está o impasse da trama, uma vez que um trauma do passado faz com que o rapaz prefira manter distância daquele lugar.
Sem dúvida, estamos falando de um drama sobre perdas e a impossibilidade de recomeçar. O grande trunfo do filme está na maneira com a qual essas temáticas são tratadas. Não há cenas de choros intermináveis, personagens baseados em arquétipos, frases feitas ou um desfecho que pretende passar mensagens de superação. Não há um final feliz, com reconciliações e sentimentalismo. Por isso mesmo, há uma sensação de total sintonia entre o que é visto na tela e a realidade.
Com diálogos curtos, “Manchester...” consegue dizer tudo o que precisa por meio do silêncio. A tristeza que envolve os personagens está implícita e paira nebulosa em cada cena. Muito dessa sensação é transmitida através do clima gélido de um cenário de inverno rigoroso. Ainda assim, há lugar para um tipo de humor sútil e involuntário.
O elenco consegue levar adiante a proposta naturalista do diretor com atuações equilibradas. Vale destacar as ótimas participações de Michelle Williams, como a ex-mulher de Lee, e Lucas Hedges, no papel do sobrinho adolescente. Casey Affleck (irmão mais novo do astro Ben Affleck), em especial, vive seu melhor momento no cinema.
Graças a esse papel, ele venceu o Globo de Ouro de melhor ator de filme dramático e está entre os favoritos à estatueta do Oscar. Lee Chandler é um homem enigmático, lacônico e que evita qualquer aproximação com as pessoas. Olhar sempre vazio e postura levemente encurvada, Casey usa a linguagem corporal para expressar a carga emocional que o texto prefere ocultar.