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LUTO

O samba brasileiro se cala sem Arlindo Cruz; cantor e compositor faleceu nesta sexta (8)

O artista morreu, aos 66 anos, no Rio de Janeiro, deixando um legado de inovação no samba brasileiro

Arlindo Cruz estava internado tratando de uma pneumoniaArlindo Cruz estava internado tratando de uma pneumonia - Foto: Divulgação

O samba brasileiro perde um de seus grandes bambas. Faleceu, nesta sexta (8), aos 66 anos, o cantor e compositor Arlindo Cruz. O músico estava internado desde abril, no hospital Barra D'Or, no Rio de Janeiro (RJ), tratando de uma pneumonia.

Arlindo também enfrentava uma infecção causada por uma bactéria resistente e, desde julho, já não vinha respondendo a estímulos.

Foi frequentador assíduo do Cacique de Ramos, introduzindo o banjo nas rodas de samba do “templo do samba carioca” e, nos anos 1980, fez parte do Fundo de Quintal, deixando o grupo em 1993 para seguir carreira solo.

Arlindo Cruz deixa dois filhos: Arlindo Neto (o Arlindinho) e Flora, frutos do seu casamento com a porta-bandeira Bárbara Cruz, a Babi.

O velório será aberto ao público e acontece neste sábado (9), na sede da Império Serrano, em Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro. O artista era imperiano e foi homenageado pela escola de samba no Carnaval de 2023.

O “sambista perfeito”
Nascido Arlindo Domingos da Cruz Filho, em 14 de setembro de 1958, em Piedade (RJ), Arlindo Cruz tem uma história respeitada não apenas como cantor de samba – uma voz de timbre marcante, por sinal – mas, especialmente, como compositor. São mais de 500 músicas suas gravadas por nomes da envergadura de Beth Carvalho, Alcione e Zeca Pagodinho. 

Vem de uma canção sua, composta em parceria com Nei Lopes, a alcunha de “o sambista perfeito”, apelido pelo qual também é conhecido por amigos e admiradores, e também título da biografia escrita pelo jornalista Marcos Salles e lançada este ano, durante a Bienal do Rio de 2025.

A narrativa da obra começa nos dias que antecederam o AVC sofrido por Arlindo, em 2017. Em seguida, o escritor volta no tempo, até a infância do músico.

Um erudito no samba
Criado em Madureira, na capital fluminense, desde pequeno Arlindo demonstrava aptidão para a música. Aos sete anos de idade, ganhou do pai, Arlindão, seu primeiro cavaquinho. Aos 12, conseguia tirar inúmeras músicas de ouvido.

Junto ao irmão Acyr Marques fez aulas de violão e, posteriormente, na escola Flor do Méier, estudou teoria, solfejo e violão clássico por dois anos.

O estudo técnico, no entanto, não ofuscou a vocação para sambista, afinal, cresceu entre eles, pois seu pai, músico amador, frequentava as rodas de samba de raiz da época.

Suas primeiras gravações foram com Candeia, que considerava seu padrinho musical. No LP “Roda de Samba”, tocou cavaquinho, antes de tornar o banjo sua cativa marca registrada.

Aos 15 anos, Arlindo foi estudar em Barbacena (MG), na escola preparatória de Cadetes do Ar. A música não saía dele: fez parte do coral da escola e ganhou os festivais de música em Barbacena e Poços de Caldas.

De volta ao ninho
Após deixar a Aeronáutica, Arlindo volta ao Rio e passa a frequentar o Cacique de Ramos. Batia ponto por lá às quartas-feiras, conhecendo figuras como Beto Sem Braço, Sombrinha e Zeca Pagodinho, e suas músicas começaram a ser gravadas pelos grandes do samba brasileiro.

Com a saída de Jorge Aragão, foi convidado a integrar o Fundo de Quintal, onde permaneceu por 12 anos. Nesse período, compôs músicas como “Só pra Contrariar” e “O show tem que continuar”, que lhe acompanharam durante toda a carreira. Em 1993, segue carreira solo. 

Arlindo gravou nove álbuns, recebeu cinco indicações ao Grammy Latino e conquistou o Prêmio da Música Brasileira, em 2015, como “Melhor Cantor de Samba”. Também premiado no Carnaval do Rio de Janeiro, ganhou o Estandarte de Ouro: em 2006, com o Melhor Samba do Grupo Especial, pela Império Serrano (“O Império do Divino”); em 2012, com o Melhor Samba do Grupo A, também pela Império (“Dona Ivone Lara: O Enredo do Meu Samba”); e em 2013, com o Melhor Samba do Grupo Especial, dessa vez com a Vila Isabel (“A Vila Canta o Brasil, Celeiro do Mundo – Água no Feijão que Chegou Mais Um”).

Em 2017, um AVC tira Arlindo de cena. O músico deixa de se apresentar e passa a ter seu quadro de saúde acompanhado atentamente por todo o País.

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