O sombrio das ações humanas é ressaltado em "O Crime da Gávea", no Cine PE
Filme, que será exibido nesta sexta-feira (30) dentro da programação do festival Cine PE, é baseado em um romance policial
Um homem chega em casa depois de uma longa e tumultuada jornada de trabalho e encontra sua mulher morta e sua filha ainda bebê dormindo no berço. É a primeira cena de "O Crime da Gávea", dirigido por André Warwar, escrito por Marcílio Moraes, que também é o autor do livro que inspirou o longa-metragem.
O filme integra a programação da 21ª edição do Cine PE - Festival Audiovisual e será exibido nesta sexta-feira (30), no Cinema São Luiz. Paulo (Ricardo Duque) e Elisa (Simone Spoladore) trabalham juntos e, ao mesmo tempo em que tentam resolver o crime, parecem também vítimas emocionais de suas próprias decisões.
Marcílio assina o roteiro e a produção do longa-metragem, além de ter escrito o romance no qual o filme é baseado. "Sou um cara de TV, estava na Globo há muito tempo. Quando saí, escrevi esse romance policial, um gênero que escrevo com certa facilidade", diz o autor.
"Pensei em criar um romance que ficasse redondo, harmônico. Queria desenvolver uma história que não fosse óbvia. Gosto do que é subjetivo, do fluxo de consciência, do que se passa dentro da cabeça do personagem. Construindo, com esses elementos, o crime, o marido da vítima, a investigação, os labirintos internos", explica.
Dentro das características do gênero policial, Marcílio se sentiu particularmente atraído pelo mistério. "É um gênero que trabalha diretamente com o mistério. E isso é muito rico. Tudo se conecta com nossa própria vida, que também é um mistério", diz o autor. "Vai além do 'quem fez o quê', 'quem matou'. É uma lição de amor, de vida e morte. Caminhar tentando elucidar o mistério. Pode ser um filme simples, um crime, ciúme, o assassino, ou pode se tornar mais complexo, envolver questões psicanalíticas. O romance policial sempre esteve ligado a categorias psicanalíticas", ressalta.
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Enquanto busca o assassino, Paulo inicia um processo de luto que envolve loucura e raiva, remorso e angústia. Além dos mecanismos do romance policial, o autor recorre à psicologia e aos tumultos internos. "Gosto da narrativa subjetiva, o que na literatura se chama fluxo de consciência. O primeiro conto que escrevi, aos 20 anos, já tinha esse fluxo", diz Marcílio.
"Gosto da vida interna mais pujante do que a externa. O bom do fluxo de consciência é que você trabalha nossas ambiguidades. Somos ambíguos, ninguém é uma coisa só. Somos contraditórios, tanto dentro da cabeça do personagem quanto no que nos constitui. É preciso habilidade para atingir harmonia, criar uma narrativa que seja instigante e que segure o espectador", detalha.
Trajetória
Este é o primeiro trabalho do autor no cinema. "Comecei com literatura, escrevi alguns contos, e depois fui para o teatro e finalmente para a TV, onde estou há 30 e tantos anos", diz Marcílio.
"Sempre tive vontade de fazer cinema, mas não pude por uma série de circunstâncias. Quando saí da Globo, antes de ir para a Record, resolvi voltar à literatura e escrevi o romance 'O Crime da Gávea'. Como minha formação é visual, achei que era propício transformar em filme. Resolvi produzir, comecei com dinheiro próprio. Depois conseguimos apoio. Acabei me envolvendo muito mais do que tinha planejado no princípio. Ia só escrever, depois comecei a produzir, e acabei assumindo o filme todo", detalha.

