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"Olhar Indiscreto" abusa de clichês e peca por excesso de informações para minissérie

Em temporada única, a obra já está disponível na Netflix

Olhar IndiscretoOlhar Indiscreto - Foto: Divulgação

               Há histórias capazes de causar no telespectador sensações antagônicas. “Olhar Indiscreto”, da Netflix, parece uma delas. A minissérie acompanha um grande acontecimento na vida de Miranda, papel de Débora Nascimento, uma voyeur compulsiva e também hacker extremamente habilidosa. De cara, o que se sabe sobre ela é que se trata de uma mulher que passa os dias observando, pela janela, a rotina da prostituta Cléo, vivida por Emanuelle Araújo, que mora no prédio em frente. Até que a garota de programa pede que a admiradora cuide de seu animal de estimação enquanto faz uma viagem com um cliente especial. É aí que a vida de Miranda passa por uma transformação radical, metendo-se em investigações e, principalmente, precisando defender pessoas e sua própria vida.

              Não falta suspense em “Olhar Indiscreto”. O problema, na verdade, começa exatamente aí: são apenas dez episódios em uma temporada que, aparentemente, se fecha sem uma sequência – tudo se resolve. E a cada resposta que o espectador tem com a trama, a impressão é de que são criadas mais uns três segredos para serem revelados depois. É como se tivessem jogado todos os elementos guardados para umas duas ou três levas de episódios ali, tornando difícil acompanhar tudo sem esquecer um ou outro detalhe. A própria produção parece perceber isso, tanto que o último episódio faz flashbacks de muitas situações, como se precisasse relembrar a trama para o telespectador.

              O excesso de cenas de sexo em “Olhar Indiscreto” também pode incomodar uma parcela mais pudica do público. Não são sequências vulgares ou malfeitas, longe disso. Mas quase todas parecem gratuitas, dispensáveis para a história. Aliás, curiosamente, nos momentos em que elas mais estão no contexto do suspense da minissérie é quando são deixadas de lado prematuramente.

              Tudo é feito pela ótica feminina, já que “Olhar Indiscreto” foi criada e escrita pela argentina Marcela Citterio e adaptada pela brasileira Camila Raffanti, com direção geral de Luciana Oliveira e direção de episódios de Fabrizia Pinto e Letícia Veiga. Considerando que os dois papéis aparentemente com mais destaque, à primeira vista, são de Débora e Emanuelle, trata-se de uma produção que carrega uma representatividade forte. Apesar de objetificar bastante as personagens nas cenas de sexo.

              O elenco mistura alguns rostos conhecidos das novelas com outros menos famosos e até uma estrela da televisão portuguesa – Ângelo Rodrigues já atuou em produções da TVI, RTP e da SIC, todas emissoras de Portugal. Mas a minissérie é, sem dúvidas, de Débora Nascimento. Com certeza, ela é a melhor surpresa de “Olhar Indiscreto”, com uma atuação segura e em uma personagem que parece ter tirado, completamente, a atriz de sua zona de conforto.

              Outro nome em quem vale a pena prestar mais atenção é Ingrid Klug. A atriz já deu expediente na Globo, na novela “O Tempo Não Para”, exibida entre 2018 e 2019. Em “Olhar Indiscreto”, ficam com ela os poucos momentos de humor, na pele de uma amiga e confidente de longa data de Miranda. Principalmente quando ela contracena com Sacha Bali, o guarda-costas Rafael da trama.

              O texto, muitas vezes, confunde a quem assiste e abusa de clichês comumente usados na teledramaturgia. Volta e meia, surgem informações como alguém que não é filho de quem imaginava ou pessoas que já se relacionaram, mas que, até então, o público não sabia. Certas horas, dá até para imaginar que pode existir, ali, influência de novelas mexicanas. Algumas cenas – principalmente quando envolvem atores de costas, parecem dubladas. Em muitos momentos, há tanta informação que fica complicado assimilar tudo, para tentar desvendar os mistérios que surgem.

              E impressiona a facilidade com que os personagens centrais – tanto os que parecem vilões quanto os que soam como heróis, conseguem tudo que querem e precisam para fugir de uma situação de perigo, investigar alguém ou mesmo prejudicar um desafeto. Dá para dizer que “Olhar Indiscreto” começa relativamente bem, atravessa uma fase bem confusa e cansativa entre o terceiro e o oitavo episódio e, no fim, consegue uma virada capaz de causar algum impacto. Mas sem deixar qualquer gancho para episódios futuros.

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