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SÃO JOÃO

São João 2025: conheça a origem das tradicionais roupas juninas e adaptações ao longo do tempo

Especialistas falam sobre transformações, diversidade e reproduções dos trajes típicos

No Brasil, os trajes estampados, principalmente nas festas do interior do Nordeste, são 'a cara' dos arraiais e quadrilhas tradicionaiNo Brasil, os trajes estampados, principalmente nas festas do interior do Nordeste, são 'a cara' dos arraiais e quadrilhas tradicionai - Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

Nas festas juninas tradicionais não podem faltar milho cozido, paçoca, canjica, pamonha, forró pé de serra, além das tradicionais roupas quadriculadas e coloridas, ornamentadas com babados, fitas, laços e rendas. Mas você sabe a origem dessa estética tão característica do São João?  

Fusão de culturas e crenças
No Brasil, os trajes estampados, principalmente nas festas do interior do Nordeste, são 'a cara' dos arraiais e quadrilhas tradicionais.

O figurino típico da época tem origem em um processo de transformação cultural a partir de um conjunto de valores, crenças, comportamentos e práticas, em que influências europeias, práticas religiosas e expressões regionais brasileiras se fundem. 

Inicialmente, o intuito das festas juninas era celebrar os santos populares, principalmente São João e Santo Antônio. De acordo com os relatos do padre Fernão Cardim, jesuíta do século XVI, inserido no contexto rural ligado ao ciclo da colheita, eram realizados cortejos como parte de uma estratégia de catequização das aldeias indígenas, durante o Brasil Colônia, com a finalidade de aproximar o ensino religioso dos povos originários. 

Estereótipo
Os trajes típicos dos homens - calça, camisa quadriculada, colete e chapéu de palha - reforçam a figura estereotipada do trabalhador rural europeu, posteriormente adaptada ao sertanejo brasileiro. Por outro lado, as mulheres vestem saias rodadas, vestidos estampados, laços no cabelo, rendas e babados. 

''A tradição das vestimentas de São João, na verdade, vem de uma mistura de influências (...) Originalmente, está ligada ao contexto rural. Por isso, essa estética caipira, com o uso do xadrez, do jeans, do chapéu de palha e dos vestidos mais rodados. É uma representação - ainda que romantizada - da vida no campo'', explica Paulo Medeiros, coordenador de Moda do centro universitário UniFBV Wyden. 

Renovação "do xadrez"
As roupas juninas se estabeleceram como símbolos da cultura popular, mas também adaptando-se a novos contextos e significados, tendo seus elementos reinterpretados ao longo dos anos. 

''Hoje, a moda para o São João acompanha movimentos mais amplos como sustentabilidade, reaproveitamento de tecidos e uma forte valorização da identidade regional'', destaca Paulo Medeiros.  

Nesse sentido, as tradicionais peças de renda, crochê, chita, bordados e aplicações manuais permanecem nos trajes, agora, combinadas com camisas jeans, saias estampadas ou acessórios como chapéus, lenços, flores e brincos. Segundo o especialista, essa repaginação surge como proposta urbana e releitura contemporânea. 

''É possível montar um look com o que já se tem em casa, repensando o uso das peças, customizando com retalhos, e compondo produções que dialogam com o espírito junino sem a necessidade de comprar algo novo (...) A gente não precisa se prender ao 'fantasiado''', exemplifica o profissional. 

Ainda que aconteça uma modernização nos estilos de roupas para o São João, refletindo a diversidade de corpos, estilos e identidades, provocando o fim da reprodução dos trajes típicos, a professora do curso de Moda da Wyden, Sabrina Nascimento, alerta que é preciso não deixar as transformações acabarem com as tradições da festa junina.  

''As festividades e roupas juninas mexem com a memória afetiva e de pertencimento cultural dos nordestinos. Essas releituras revelam não apenas a criatividade dos criadores locais, mas também uma demanda crescente por individualização e representatividade nas peças, mesmo dentro de contextos culturais marcadamente coletivos como o São João. Contudo, é importante que, mesmo com essas transformações, a essência da tradição não se perca'', conclui Sabrina. 

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