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Criada por Paulo Vieira, "Pablo e Luisão" estreia no Globoplay com histórias absurdas da família

"Relação do meu pai e do melhor amigo dele descamba em projetos furados que atormentam a nossa família", diz humorista sobre causos inusitados que marcaram sua vida

Pablo & Ilusão, no GloboplayPablo & Ilusão, no Globoplay - Foto: Reprodução/Instagram

O brasiliense Pablo Xavier e o goiano Luís Silva se encontraram certa vez em Tocantins, viraram amigos e passaram a vender salgadinhos juntos.

Levam a vida com alegria e sem qualquer deslumbre. Mas foi só quando entenderam de verdade que suas histórias seriam tema da série “Pablo e Luisão” — que estreia no Globoplay na próxima quinta-feira (22) — que perceberam a oportunidade óbvia de dar ainda mais destaque à lanchonete que mantêm na rodoviária de Palmas, capital do estado.

Decidiram, então, batizar o estabelecimento com o nome da produção.

Apesar da vida simples, esses comerciantes são fonte de histórias das mais inimagináveis — como a vez em que montaram uma cerca com restos de orelhões, que acabou se tornando um problema para o bairro ao dar choque em quem passava pela rua.

Filho de ninguém menos que o próprio Luisão, o humorista Paulo Vieira viu nesses dois personagens um manancial de situações divertidas e começou a compartilhá-las em seu perfil no X.

O sucesso foi tanto que as historietas inspiraram a criação da série, com Otávio Muller no papel de Pablo e Ailton Graça como Luisão.

"A relação do meu pai e do melhor amigo dele descamba para um monte de projeto furado e isso acabou por atormentar a nossa família" comenta Paulo, também narrador da série.

"E eu estava lá presenciando tudo: sempre fui muito esse observador da minha família. Nunca fui o protagonista"

Absurdos
Com direção artística de Luis Felipe Sá e direção de João Gomez, a série conta com 16 episódios, cada um dedicado a um dos “absurdos” já vividos pelos amigos, especialmente nos anos 2000.

A tal cerca elétrica é apenas um dos casos, em meio a um conjunto que inclui: a tentativa frustrada de formar uma dupla sertaneja; um falso padre (vivido por Miguel Falabella) que aplica trambiques na população local; uma caça quase mortal de jacarés no Rio Tocantins; e um galo de estimação que bicava as partes íntimas das pessoas (motivo pelo qual ganhou o nome de “Pica-Pau”).

Segundo o humorista, o que deixar o público de boca aberta é, justamente, o que é pura verdade.

Otávio Muller — que afirma ter sido um dos responsáveis por ajudar no “que era praticamente inevitável: o Paulo vir para a Globo” — conta que, com enredos tão inusitados, era quase impossível para a equipe manter a seriedade.

Ele diz até que alguns profissionais chegavam a se afastar do set para não atrapalhar as filmagens com o riso.

"Não ria assim lendo um texto desde “Tapas e beijos”. Isso tem muito tempo. Morria de rir a ponto de acordar a minha companheira, que já estava dormindo na cama" lembra o ator.

"Me senti muito honrado quando fui chamado (para o papel). Mais ainda porque sou um cara branco, criado na Zona Sul do Rio e, de repente, eu estava em Palmas, com toda essa cultura e todo esse Brasil me abraçando"

Amizade rara
Lembrada até como similar à amizade de Pablo e Luís, a união do ator com Ailton Graça em uma produção, aliás, foi vista como uma glória. São amigos próximos de longa data:

"Em cena, ou em tudo o que a gente faz, Otávio e eu criamos uma liberdade de palpitar muito no trabalho um do outro. Isso é coisa rara. A gente palpita mesmo: “Puxa assim”, “vai por esse lado”, “muda o tom”. Às vezes, eu mesmo ligo para pedir conselhos de outros trabalhos também" diz Ailton.

"Se tivesse como, dava um beijo na boca dele agora"

Ao lado de Otávio e Ailton, o elenco conta ainda com Dira Paes, no papel da mãe do comediante, Conceição, e as crianças Yves Miguel e João Pedro Martins, que interpretam o próprio Paulo e seu irmão, Neto, respectivamente.

"De alguma maneira, devo ter espelhado neles (as crianças) o meu desejo de ter sido um ator mirim. Porque eu sofri muito quando era criança, por não ter sido. Sempre fiquei me questionando: se eu fosse ator mirim, seria filho de quem? Não tinha exatamente uma família para me encaixar quando assistia TV" observa Paulo.

Paulo Vieira afirma que criar “Pablo e Luisão” foi como voltar ao “quarto da infância e adolescência”, ao lado do irmão José Vitório Neto, que o ajudou a relembrar várias histórias, e da família, que revive esses casos em almoços de domingo. Momentos, aliás, sempre regados a muitos sorrisos.

"Herdei o humor da minha família. Vejo a comédia como óculos que coloco e tiro, é uma maneira minha de olhar a vida. E esses óculos me foram dados pela minha família, tenho certeza" diz ele.

"A gente pode olhar o mundo sempre como uma tragédia ou uma comédia. E as duas visões são verdadeiras, mas acho que os pobres tendem a escolher a comédia, porque ela é o drama destilado. Sabe a coisa do destilado que não tem mais água, e vira um destilado puro? Quando os mais pobres não têm mais lágrima para chorar, aí eles sorriem"

O humorista se lembra bem dos tempos mais difíceis em família, naquela ainda jovem cidade de Palmas (fundada em 1989) no início deste século.

Conta que, na época, não gostava de frequentar lugares como o shopping center, porque não se sentia à vontade.

Apesar disso, seus pais, Luís e Conceição, faziam questão de levá-lo para assistir a mostras de teatro sempre que possível.

Esses momentos, além de quebrarem a rotina, acabaram despertando ainda mais o gosto pelo ofício de contar histórias.

Argumento infalível
Até chegar à produção da série, Paulo precisou convencer muita gente de que uma história sobre sua família valia mesmo ser transformada em uma produção audiovisual.

O que ajudou, no entanto, foi a força dos próprios contos, que já haviam conquistado fãs quando ainda eram contados em texto no seu microblog.

"A rede social ajudou porque os números falavam por si. Tinha um argumento infalível: a série já tinha público. Quando o Pablo e o Luisão bombaram na internet, toda vez que eu começava a escrever, a gente ia parar nos assuntos mais comentados do Brasil e até do mundo. O próprio público começou a marcar o Globoplay" se recorda.

De acordo com Tatiana Costa, diretora de Gestão de Conteúdos Digitais & Canais Pagos da Globo, histórias mais pessoalizadas como as contadas na série são uma aposta que permanecerá por muito tempo:

"Queremos contar histórias que se conectem com o público brasileiro, que representem a pluralidade da nossa cultura, da nossa sociedade, e que tenham o poder de emocionar, entreter e informar. Projetos autorais como “Pablo e Luisão” são especialmente valiosos nesse contexto, porque carregam autenticidade e verdade. Apostar em narrativas pessoais é um caminho que queremos seguir cada vez mais" afirma.

Seja como for, as histórias reais de Pablo e Luís não têm previsão de acabar.

Otávio Muller e Ailton Graça contam que, quando estiveram em Palmas, a dupla original estava à procura de um espaço para montar um ferro-velho. “Isso tem tudo para dar errado”, pensou Ailton.

Veremos.

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