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Pesquisa resgata a memória do teatro pernambucano dos anos 1950

Em 'O Teatro no Recife dos anos 50 - Tentativas de reafirmação da modernidade', Leidson Ferraz traz registros da movimentação de grupos, produtores e críticos teatrais da época

"Arsênico e Alfazema", do TAP, em 1950"Arsênico e Alfazema", do TAP, em 1950 - Foto: Acervo TAP/Divulgação

Trazer à luz fatos relevantes sobre a história do teatro pernambucano tem sido a missão de vida do pesquisador e jornalista Leidson Ferraz. Autor da coleção "Memórias da cena pernambucana" e outras obras que enveredam pela historiografia dos nossos palcos, ele vem dedicando especial atenção à primeira metade do século 20.

O e-book "O Teatro no Recife dos anos 50 - Tentativas de reafirmação da modernidade", lançado recentemente em formato de DVD, fecha esse período trazendo registros de uma década pouco estudada, mas fundamental para o desenvolvimento das artes ciências em Pernambuco.

Os acontecimentos dos anos 1950 não são muito abordados nos poucos livros que tratam da história teatral pernambucana. Uma das explicações para esse descaso, segundo Leidson, pode ser o gosto da época pelas chanchadas, tipo de espetáculo comumente rejeitado pelos estudiosos por seu caráter popularesco. No entanto, foi neste momento que o teatro feito em Pernambuco começou a ganhar verdadeiro reconhecimento nacional.

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O Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP) fez sua primeira viagem para o Rio de Janeiro em 1953. Durante um mês inteiro, o grupo dirigido por Valdemar de Oliveira ficou em cartaz em um espaço carioca, o Teatro Regina, com quatro espetáculos: "Esquina perigosa", "A casa de Bernarda Alba", "Arsênico e alfazema" e "Sangue velho". Nos anos seguintes, a companhia também embarcou para Porto Alegre e São Paulo.

Um dos maiores legados da década para a cultura local foi a consolidação de Ariano Suassuna como dramaturgo. Sua obra mais famosa, "Auto da Compadecida", foi lançada com o título de "A Compadecida" em 1956, pelas mãos do Teatro Adolescente do Recife, de Clênio Wanderley. A estreia na Capital pernambucana não foi muito bem recebida pelo público e pela crítica, mas a consagração veio no ano seguinte, quando o espetáculo trouxe para casa a medalha de ouro do 1º Festival de Amadores Nacionais, no Rio de Janeiro.

Leidson Ferraz vem se dedicando a estudar a história do teatro pernambucano

Leidson Ferraz vem se dedicando a estudar a história do teatro pernambucano - Crédito: Léo Mota/Arquivo Folha



Além da circulação da produção teatral pernambucana por outras terras, os festivais floresceram localmente. Em 1958, o Recife foi sede da primeira edição do Festival Nacional de Teatros de Estudantes, que reuniu mais de 700 artistas de todo o Brasil. O evento de abertura chegou a contar com a presença do então presidente da república, Juscelino Kubitschek.

O trabalho da Imprensa foi o principal material de pesquisa de Leidson. A efervescente movimentação teatral dos anos 1950 era registrada nas páginas dos jornais da época e as produções discutidas em colunas periódicas. A Associação dos Cronistas Teatrais de Pernambuco, fundada em 1955, distribuía anualmente troféus aos destaques da cena.

Todo esse processo de ebulição vivido pelo teatro recifense está registrado, com riqueza de imagens e informações, ao longo de 600 páginas. Além do DVD, distribuído gratuitamente em diferentes instituições, o material pode ser baixado no site do Teatro de Santa Isabel.

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