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Poema de João Cabral inspira espetáculo de Déborah Colker

Retrato de pobreza, problemas ambientais e desigualdade social, agora, transformado em movimento através dos corpos de 13 bailarinos

O Cão sem plumas, espetáculo de Déborah ColkerO Cão sem plumas, espetáculo de Déborah Colker - Foto: Divulgação

Após dois anos de produção, três excursões por municípios pernambucanos e uma apresentação em um palco flutuante no rio, em frente ao Marco Zero, Déborah Colker apresenta ao público o mais novo espetáculo de sua companhia de dança. “O cão sem plumas”, inspirado no poema homônimo de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), terá estreia internacional no Teatro Guararapes (Centro de Convenções), em Olinda, nos dias 3 e 4 de junho. Nos versos da obra literária, o autor descreve as mazelas humanas e naturais que seguem o curso do Capibaribe.

Um retrato de pobreza, problemas ambientais e desigualdade social, agora, transformado em movimento através dos corpos de 13 bailarinos. A última passagem da renomada coreógrafa carioca por Pernambuco, para a pesquisa da montagem, ocorreu em novembro do ano passado. Na ocasião, ela e sua equipe realizaram uma residência artística em seis cidades do Estado. “De lá para cá, mudou tanta coisa no que eu vinha trabalhando”, informa. “Foi uma viagem muito reveladora. A gente esteve perto não só da geografia, mas das pessoas que vivem a realidade desse rio. Já tinha um espetáculo quase pronto. Mas, quando voltei para o Rio de Janeiro, comecei em mexer em quase tudo”, conta.

Outras referências foram agregadas à poesia de João Cabral neste espetáculo. A partir das ideias do geógrafo Josué de Castro e da musicalidade do movimento Manguebeat, Déborah evoca a figura do caranguejo em cena. “É impressionante ver como os bailarinos, todos cobertos de lama, conseguiram construir um ‘corpo bicho-homem’ para representar a vida no mangue”, avalia. A diretora aponta ainda outras fontes de inspiração, como maracatu, coco, samba, kuduro e outras danças populares.

Um importante aliado da coreógrafa nesta empreitada artística foi o cineasta Cláudio Assis. Diretor de filmes como “Amarelo Manga” (2002) e “Big Jato” (2014), ele acompanhou a carioca em todas as viagens, filmando as ações de sua companhia em território pernambucano. As imagens serão projetadas em cena, dialogando com os corpos dos artistas. “Há momentos em que os bailarinos parecem sair da tela para os palcos. O espectador não sabe onde começa a dança e acaba o cinema. Está tudo unido. Uma coisa alimenta a outra e, ao mesmo tempo, podem existir sozinhas”, adianta. Outros pernambucanos também participam do projeto. O fotógrafo Cafi fez o registro de toda a jornada. Já Jorge Du Peixe e Lirinha estão na trilha sonora, ao lado do carioca Berna Ceppas.

Mesmo partindo de uma temática local, “Cão sem plumas” é uma obra feita para conversar com o mundo. “O Capibaribe junta-se a outros. Ele pode ser o Ganges, o Tâmisa, o Amazonas, e todas as pessoas que vivem às margens desses rios, saqueadas e esquecidas pela sociedade”, defende. “Para mim, o espetáculo é sobre aquilo que é inconcebível. É inconcebível ver a destruição da natureza, das crianças, de tudo aquilo que tem força de vida”, completa.

Serviço:
Espetáculo “Cão sem plumas”
3 de junho, às 21h; e 4 de junho, às 20h
Teatro Guararapes (Centro de Convenções de Pernambuco - Av. Prof. Andrade Bezerra, Salgadinho)
Preços: R$ 120 (plateia 1), R$ 100 (plateia 2), R$ 80 (plateia 3) e R$ 50 (balcão)
Informações: (81) 3182-8020

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