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Literatura

Poeta pernambucana é uma das sete autoras estreantes no Prêmio Oceanos

Livro "Minha raiva com uma poesia que só piora", da recifense Carol Braga, foi indicado ao Prêmio Oceanos, um dos maiores da literatura em língua portuguesa

A recifense Carol Braga está entre as sete escritoras estreantes indicadas ao Prêmio OceanosA recifense Carol Braga está entre as sete escritoras estreantes indicadas ao Prêmio Oceanos - Foto: Divulgação

A poeta recifense Carol Braga é uma das sete autoras estreantes indicadas à semifinal do Prêmio Oceanos, um dos maiores da literatura em língua portuguesa, com o livro “Minha raiva com uma poesia que só piora”. Ao todo, foram 65 selecionados. Foram avaliados 2.452 livros de autores de 17 diferentes nacionalidades lançados em sete países.

As 65 obras foram publicadas por 40 diferentes editoras - 25 do Brasil, 11 de Portugal, três de Moçambique e uma de Cabo Verde. Com apoio do Itaú Cultural, o Prêmio Oceanos abre espaço para livros de qualquer gênero. Este ano, a poesia liderou as inscrições, com 1.130 livros, o que corresponde a 46,1% das inscrições. Os romances somaram 743 obras (30,3%) e foram seguidos por contos, com 372 inscrições (15,2%); crônicas, com 156 (6,4%) e dramaturgia, com 51 obras (2,1%).

“Eu tô completamente maravilhada com a indicação do livro como semifinalista do Oceanos! É muito importante ter meu primeiro trabalho literário reconhecido, ainda mais por ser um livro que surge falado, surge da poesia da rua, surge do slam. E ao lado de tantas autoras e autores incríveis!”, comemora Carol, que publicou seu primeiro livro de poesias em dezembro de 2021, pela Editora Urutau em Portugal e no Brasil.

“Minha raiva com uma poesia que só piora”
A obra é dividida em três partes: I. Braba, II. Mestiça e III. Tempestuosa, com poemas que caminham pelo doloroso labirinto da imigração, da racialização, da mestiçagem, do “estar entre”, nas palavras dela. A primeira parte tem poemas que saíram diretamente das batalhas de poesia slam, inclusive o verso que deu nome ao livro, vindo do poema intitulado “vocês assistiram a final do europeu?”

(p.20): 

se querem que a minha voz soe baixinha, oprimida
ponderando antes de falar ou coisa parecida
devolvo minha raiva com uma poesia que só piora
queria poder ouvir vocês me chamando de zuca1 histérica agora!
só por eu re-ocupar esses espaços sem vender meu corpo para nenhum sinhô
sem dá de comer a fome da europa que devora tudo aquilo que é de fora
A segunda parte traz versos com reflexões sobre a racialização dos corpos latinoamericanos
e a terceira levanta temas como abuso sexual na infância e falta d’água. É possível ouvir a batida e a
influência da poesia falada.



“Este livro nasce de um lugar de legitimação da dor e da raiva da imigração. Também pode ser lido como um manifesto antirracista e anticolonial. Muitos dos poemas nasceram nas batalhas de slam”, explica a autora.

 

Trajetória
Carol Braga começou a participar de batalhas no ano de 2020, quando havia imigrado para Portugal para cursar doutorado em História Contemporânea. A orelha do livro é assinada por Lucerna do Moco, poeta natural do Huambo, em Angola, vice-campeão europeu de poetry slam em 2021.

A autora venceu o Festival Nacional de Poesia e Performance Portugal.SLAM! em 2021, tendo sido a primeira mulher a ganhar o campeonato português em sete edições. Por isso, teve uma vaga no Coupe du Munde de Poetry Slam (“Copa do Mundo de Poesia Slam”), que aconteceu no mês de maio de 2022, em Paris, na França. Na ocasião, foi a única poeta latinoamericana presente na competição.

Carol Braga teve o seu segundo livro de poesias publicado pela Editora Hecatombe em maio de 2022. “Insulto a decência” foi escrito em co-autoria com a poeta potiguar Ana Luiza Tinoco, a angolana Sóverónica e a paulistana Greta Rocha. Também tem textos publicados nas antologias “Volta para tua terra: Uma antologia antirracista/antifascista de poetas estrangeirxs em Portugal” (Urutau, 2021 e 2022); Antologia da Imigração Lusófona” (Kotter Editorial, 2020); “Potências Feministas: Letra e Voz” (Sesla, 2021), este último sobre a criação do coletivo “Slam das Minas Coimbra”, a primeira organização de poesia falada só de mulheres naquele país, da qual Carol é co-fundadora.

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