Sáb, 20 de Dezembro

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Cultura

Por que é importante aprender o Teorema de Pitágoras, ao contrário do que pensa Felipe Neto

Influenciador reclamou de nunca ter usado a proposição; professor de matemática explica onde ela aparece

Felipe Neto Felipe Neto  - Foto: Reprodução/Instagram

Felipe Neto tem 34 anos e ainda não usou o Teorema de Pitágoras. Acha que o aprendizado é, até o momento, uma perda de tempo. A postagem no Twitter, no último fim de semana, em que reclama de ter decorrado a proposição à toa deu o que falar nas redes sociais, com diversos seguidores mostrando ao carioca por que o Teorema é importante e por que a discussão precisa ser voltada à medotologia do ensino e não ao conteúdo em si.

Seegundo o professor associado da Escola de Matemática da Unirio, Michel Cambrainha, existe uma grande necessidade dos alunos em ver utilidade prática em tudo que é ensinado em sala de aula, mas a função dos conteúdos nem sempre é serem aplicados no dia a dia.

— Nem tudo tem que ter uma utilidade óbvia. Quando se coloca um Teorema como o de Pitágoras na grade curricular, damos um exemplo de como a Humanidade estruturou e organizou o pensamento, afinal, é uma proposição que tem mais de sete mil anos e é consistente — diz o professor.
 

Num momento de terraplanismo e afins, reafirmar a ciência na escola torna-se, portanto, mais do que necessário para futuras gerações.

Na matemática, a proposição originalmente atribuída ao grego Pitágoras diz que, num triângulo retângulo (com ângulo de 90 graus), a soma do quadrado dos catetos (lados menores) é igual ao quadrado da hipotenusa (lado maior).

Hoje, historiadores já questionam a existência de um homem chamado Pitágoras e preferem colocar o Teorema na conta dos Pitagóricos, um grupo grego com estudos na área da matemática e filosofia. Em outros lugares do mundo, como Índia e China, sabe-se que havia práticas semelhantes ao teorema de Pitágoras na mesma época, mas, como a história acaba sendo eurocentrada, os gregos ficaram com os louros.

O fato de contextos históricos e sociais da matemática não serem ensinado nas escolas são, sim, passíveis de crítica, no olhar do professor da Unirio. Isso ajuda, inclusive, no desinteresse de pessoas como Felipe:

— A matemática é apresentada de forma meio mágica, mas as coisas sofrem um processo histórico-cultural, estão sujeitas a ações políticas. Se ela está a serviço de uma formação crítica, deixa de focar na fórmula e até de pensar nessa coisa da utilidade. Se a matemática se juntasse à filosofia na sala de aula, poderíamos discutir: só o que é útil é importante?

No entanto, é preciso cuidado na hora de distribuir a culpa por essas metologias arcaicas. Os professores, na ponta da cadeia, não podem ser responsabilizados sozinhos.

— Existe toda uma conjuntura que desfavorece isso: currículos mal elaborados, políticas que não valorizam o professor. Nada disso ajuda para que seja diferente — diz Cambrainha.

Mas para quem ainda quer saber onde está o Teorema de Pitágoras no dia a dia, o professor de Matemática avisa: na forma como esta matéria está sendo lida, por exemplo.

— Tudo que tem a ver com imagem e som digital tem a ver com trigonometria, que tem a ver com Teorema de Pitágoras. De arquivo de música a tomografia computadorizada — diz ele.

Na cartografia, topografia, construção civil, arquitetura, ou até mesmo na divisão de terras por uma pessoa do campo, que intuitivamente usa uma cerca, o Teorema está presente. Mas nem todo mundo vai, de fato, usá-lo:

— São as escolhas que fazemos na vida. Uma pessoa que segue em áreas ligadas à matemática sabe da utilidade de Pitágoras. Mas, ao conhecer o processo de evolução do pensamento, conseguimos avançar — diz o professor, que, no fim do ano passado, fez um vídeo para a universidade falando justamente sobre... o Teorema de Pitágoras.

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