Sáb, 06 de Dezembro

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CINEMA PERNAMBUCANO

Produtora de "O Agente Secreto" fala sobre possibilidade de representar o Brasil no Oscar

Francesa radicada no Recife, Emilie Lesclaux lembra como se tornou produtora de filmes e conta como é trabalhar com o marido Kleber Mendonça Filho

Emilie Lesclaux, produtora de 'O agente secreto', ao lado de cartaz com o ator Wagner Moura Emilie Lesclaux, produtora de 'O agente secreto', ao lado de cartaz com o ator Wagner Moura  - Foto: Divulgação/Kleber Mendonça Filho

Filme brasileiro mais aguardado do ano, "O Agente Secreto" fez sua estreia em grande estilo no Festival de Cannes, em maio, de onde saiu com raros dois prêmios na mostra competitiva principal: melhor direção para Kleber Mendonça Filho e melhor ator para Wagner Moura.

Como diretor e roteirista e protagonista da trama, é natural que Kleber e Wagner, respectivamente, sejam os nomes sob os holofotes. Nas últimas semanas, foram os dois que se destacaram em entrevistas, sessões de fotos e aparições na mídia internacional a partir de exibições do longa nos festivais de Telluride, nos Estados Unidos, e Toronto, no Canadá.

Mas um terceiro nome, com uma função mais silenciosa, quase como uma 'agente secreta', foi de importância fundamental no desenvolvimento da obra: Emilie Lesclaux.

Produtora francesa radicada no Brasil, Emilie, de 45 anos, é cofundadora da CinemaScópio Produções, companhia que abriu com o sócio e companheiro, Kleber Mendonça Filho, com quem tem dois filhos gêmeos, Tomás e Martin, de 11 anos.
 



Na empresa, foi responsável por produzir os projetos do parceiro, dos curtas cultuados como “Recife frio” (2004) e “Eletrodoméstica” (2005) aos longas de sucesso como “Aquarius” (2016) e “ Bacurau” (2019).

Hoje, chegam aos cinemas dois filmes produzidos por Emilie: o documentário “Seu Cavalcanti”, de Leonardo Lacca; e o drama “Dormir de olhos abertos”, da diretora alemã Nele Wohlatz, filmado no Recife. Ontem, ela apresentou “O agente secreto” em duas pré-estreias no Recife, e amanhã acompanha o longa na abertura do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

A ligação com as telonas vem de longe.

— Sempre fui muito cinéfila desde criança, ia muito ao cinema na França com minha mãe. Comecei a desenvolver a vontade de trabalhar com cinema, mas não sabia exatamente o que queria fazer, pensei que poderia escrever. Quando comecei a fazer os filmes com o Kleber, eu fazia um pouco de tudo, ajudava na montagem. Mas eu tenho este lado muito da organização. Precisávamos de alguém para montar financeiramente os projetos, captar recursos e inscrever em editais, e eu fui essa pessoa — conta Emilie. — Foi muito orgânico, sem um plano de carreira. É um trabalho que eu gosto, apesar de difícil, com muita pressão. Acho que ser produtora também corresponde à minha personalidade, de não querer estar necessariamente no primeiro plano, mas com o prazer muito grande de ver os filmes acontecendo.

Mas como uma jovem de vinte e poucos anos de Bordeaux veio parar na capital pernambucana no início dos anos 2000?
— Eu gostava muito de Humanas, mas não sabia exatamente o que queria fazer. Então escolhi estudar Ciências Políticas, que é uma formação mais ampla, que te permite fazer muitas coisas. No final de 2002, eu vim trabalhar no consulado da França para o Nordeste, no Recife. Eu trabalhava muito com cooperação cultural, tinha vários projetos de cinema. Foi como conheci o Kleber, que era programador de uma sala de cinema (na Fundação Joaquim Nabuco). Fazíamos retrospectivas de cinema francês, fomos nos conhecendo e eu acabei ficando.

Pragmatismo
A harmonia e o companheirismo são elementos importantes no casamento real e profissional de Emilie e Kleber. A produtora conta que o trabalho no audiovisual é algo que demanda tanto, e que muitas vezes avança para a vida pessoal. Por isso, é importante estar ao lado de alguém que entende e divide esta realidade.

— Não acho que o cinema de Kleber existiria sem Emilie. Eles são como um duo, uma dupla de ataque, uma banda afinada no trabalho e na vida, como poucas vezes vi. E é bonito ver. Ela é uma pessoa que alia muita sensibilidade, com o pragmatismo que convém ao produtor de cinema — aponta Wagner Moura. — Tenho muita admiração por Emilie, que se tornou uma amiga muito querida e com quem quero seguir trabalhando.

Na trilha do Oscar
Na próxima segunda-feira, dia 15, a Academia Brasileira de Cinema anuncia o longa que representará o Brasil na corrida por uma indicação ao Oscar de melhor filme internacional. “O agente secreto” está na disputa pela vaga ao lado de outros cinco produções: “Baby”, de Marcelo Caetano, “Kasa branca”, de Luciano Vidigal, “Manas”, de Marianna Brennand, “O último azul”, de Gabriel Mascaro, e “Oeste outra vez”, de Erico Rassi.

Com grande visibilidade internacional após os prêmios em Cannes e exibições em Telluride e Toronto, unido ao fato de já possuir uma distribuidora nos Estados Unidos — a Neon, atual vencedora do Oscar de melhor filme com “Anora” (2024)—, “O agente secreto” desponta como o favorito à vaga e aquele com mais bagagem para reproduzir o fenômeno de “ Ainda estou aqui” (2024), de Walter Salles. Emilie não dá a vaga como garantida e valoriza seus “concorrentes”, mas também diz que a equipe do filme já está preparada para a responsabilidade.

— Vamos aonde o filme nos levar. Uma coisa muito importante é que temos uma distribuidora forte nos Estados Unidos, que vem desenvolvendo há alguns anos um trabalho de grande sucesso nessa chamada temporada de premiações, com estratégias muito diferenciadas — destaca a produtora. — A Neon está apostando muito no filme, temos dito trocas muito colaborativas. É difícil saber o que pode acontecer, mas estamos fazendo o que eles estão organizando para nós.

A agenda é mesmo puxada. A produtora falou ao GLOBO via Zoom diretamente de Los Angeles, onde apresentou o filme para membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográfica e do Globo de Ouro. Nas próximas semanas, o longa tem exibições nos festivais de Nova York e Londres, e numa série de eventos pelo Brasil, como o Festival Olhar do Norte, o Maranhão na Tela, o Cine Ceará, o CineBH e o Festival do Rio. A estreia nacional será dia 6 de novembro.

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