Rapper Criolo passeia pelo samba no show que leva ao Baile Perfumado neste sábado
Cantor defende as músicas de seu novo disco "Espiral de Ilusão", em que mantém discurso afiado e sintético de outros trabalhos da carreira
Criolo, de imediato, estranhou: “Muita chuva no Recife?! E a previsão, como é que tá?” Recebeu como resposta que o clima frio não era passageiro. “Mas para o mês todo? Ah, mano... Vamo aquecer tudo então!” Neste sábado (8), às 22h. No Baile Perfumado. Eis a oportunidade em que o rapper poderá fazer valer suas palavras.
O repertório, no entanto, é de samba. Exclusivo, inclusive. Natural também aos desavisados um estranhamento imediato. O show faz parte da turnê de lançamento do disco "Espiral de Ilusão" (2017). Trabalho fruto de um desejo antigo do artista, que apesar de ter crescido sob a tutela do rap, garantiu ter vindo do berço a paixão pelo batuque.
Existe uma distância entre o Rap e o Samba. Criolo quem assegurou, mas com uma ressalva. “Apenas de como nasceram. O DNA de cada um. Mas só isso, cara. Porque, de resto... Eu não posso falar em nome do Rap. E do Samba... Ah, seria loucura. Mas do meu particular, do que eu vivi, ambos estão completamente juntos.”
Neste momento, é válido um recorte ao passado da vida do cantor. Kleber Cavalcanti Gomes nasceu e foi criado no bairro do Grajaú, na Zona Sul de São Paulo. Lá, se acostumou a ver o gosto musical de Dona Vilani, apaixonada por Ney Matogrosso e Raul Seixas - por quem era “desesperada”, mesclada a devoção de Seu Cleon pelos sambas cantados por Martinho da Vila, Elza Soares e Moreira da Silva.
“Meu pai é desesperado por Elza Soares. Ama Martinho da Vila loucamente. No dia que o conheceu, se emocionou muito. Então, a gente cresce neste ambiente”, disse.
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“Queira ou não, o rap é uma realidade, de luta”, escreveu Criolo na música "Tô Pra Ver", do disco "Ainda Há Tempo" (2006), relançado em 2016. E assim como proclama em outro trecho que do rap não é uma estrela, e sim uma arma, o compositor reafirma sua habilidade de cronista social - característica também própria do samba - em "Espiral de Ilusão".
Do carro-chefe do álbum, "Menino Mimado", é afiado e sintético: “Meus meninos são o que você teceu/Em resistência ao mundo que Deus deu”.
Como justificativa para a produção do trabalho, culpa o sentimento. “Você não é dono do sentir. Em outubro do ano passado veio muita coisa, de muito sentimento, e eu desaguei... desabafei minhas emoções.” Aliou a essa vontade o pedido a um amigo que levasse a sua casa um cavaquinho e disse: “Irmão, toca umas notas ai que vai vir coisa. E foi assim que aconteceu. Parece que dá um negócio aqui na gente, e que se a gente não colocar pra fora, meu... É muito pesado”.
Tratado como uma homenagem ao gênero, o álbum traz a matriz africana, o samba-canção, o repente e até o samba de breck. “Muita coisa a gente não sabia nem o nome do que era. Mas mano, tem samba de breck, mermão. Samba de Breck!” Além disso, no show, Criolo ainda canta três músicas inéditas, e sambas gravados em trabalhos anteriores, como “Linha de Frente” e “Fermento pra Massa”.
Serviço:
Show "Espiral de Ilusões", de Criolo
Baile Perfumado (Rua Carlos Gomes, 390, Prado)
Neste sábado (8), às 22h
R$ 40 (meia-entrada), R$ 50 + 1kg de alimento não perecível (social) e R$ 80 (inteira), à venda nas lojas Avesso, Redley, Passadisco e Vintage Store 29, além do site Sympla

