"Seu Cavalcanti": Leonardo Lacca, diretor assistente de "O Agente Secreto", faz filme sobre o avô
Misturando ficção e documentário, o longa-metragem acompanha o cotidiano de um pernambucano com mais de 90 anos
Preparador de elenco e diretor assistente de “O Agente Secreto”, filme escolhido para representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar, Leonardo Lacca está acostumado a trabalhar com atores do quilate de Wagner Moura e Sônia Braga. A nenhum deles dedicou tanto tempo quanto ao protagonista de “Seu Cavalcanti”, seu avô, que dá nome ao segundo longa-metragem dirigido pelo pernambucano, já em cartaz nos cinemas.
Entre registros documentais e cenas ficcionais, o filme acompanha o homem com mais de 90 anos e uma saúde de dar inveja aos mais novos. A obra é resultado de 20 anos de trabalho de Lacca, que começou a filmar Seu Cavalcanti em 2003, quando teve acesso a uma câmera emprestada da universidade.
“Era uma coisa meio mágica ter uma câmera em casa, porque naquela época o acesso não era tão fácil. Meu avô era a pessoa que estava sempre comigo em casa. Então, acabou virando cobaia. Com o tempo, cheguei à conclusão de que ele foi meu primeiro ator. Apesar de não ser profissional, aceitava esse convite de forma lúdica e com muita naturalidade”, relembrou o diretor, em entrevista à Folha de Pernambuco.
Leia também
• Oscar: Que países já ganharam prêmio de Filme Internacional dois anos seguidos?
• Quais os principais rivais de ''O Agente Secreto'' na disputa de melhor filme internacional no Oscar
• "O Agente Secreto" mistura suspense e sátira política em um filme com potencial para Oscar
Seu Cavalcanti se transformaria em figura presente nos trabalhos do neto, participando das figurações de filmes como “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, e “Animal Político”, de Tião. Essas participações, somadas aos registros documentais caseiros, cenas fictícias e dublagens deram aos irmãos Luiz e Ricardo Pretti um extenso material a ser trabalhado durante o processo de montagem, que durou cerca de dez anos, entre Recife, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
“O filme foi sendo escrito na ilha de edição. Em um processo tão longo e sem prazo específico, a troca entre a gente [diretor e editores] precisava ser constante. Houve uma abertura mútua. Não tinha como ser diferente, já que é um filme tão pessoal”, apontou o cineasta.
O protagonista do filme morreu no início de 2016, antes dele estar concluído. O luto foi incorporado ao longo, mas não de uma maneira óbvia. “Um amigo disse que eu deveria filmar o enterro, mas neguei, porque esse é um filme sobre a vida. Depois que meu avô morreu, foi difícil voltar às imagens, mas a gente encontrou na montagem uma forma de comunicar ao espectador sobre a morte dele falando do aniversário. É a celebração da vida marcando a passagem de uma pessoa”, detalha.
A temática do envelhecimento surge como pano de fundo de “Seu Cavalcanti”, mas com uma abordagem que difere de muitas representações que costumamos ver nas telas. “O cinema brasileiro já tem uma história com esse corpo idoso, mas muitas vezes no lugar de solidão, melancolia, depressão. E a última coisa que eu poderia falar sobre o meu avô é que ele era sozinho. Ele era muito sociável, cheio de vida e saúde. Isso, para mim, foi um dos motivos de ter feito o filme: o fascínio pela figura dele e pela forma como lidava com a vida”, contou.
O longa-metragem tem entre os produtores o casal Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho. Além das filhas de Seu Cavalcanti, Tereza Cavalcanti e Isabel Novaes, o elenco conta ainda com as participações de Maeve Jinkings e a potiguar Tânia Maria, um dos destaques de “O Agente Secreto” e que já foi apontada pela revista Variety como possível candidata ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2026.

