"Suburbicon: bem-vindos ao paraíso" faz sátira dramática sobre racismo
Filme, que está em cartaz, usa o suspense para criar uma atmosfera de crítica social
O roteiro de "Suburbicon: bem-vindos ao paraíso" foi escrito pelos irmãos Joel e Ethan Coen, que colocaram no filme marcas de estilo recorrentes em suas obras: ironia, cinismo, pequenos crimes que levam a grandes tragédias, pessoas comuns que, por ganância ou estupidez, se tornam manchetes de jornais e estatísticas da violência, perfis psicológicos de gente ambígua e misteriosa. Os diretores, autores consagrados de Hollywood, já assinaram obras como "O Grande Lebowski" (1998) e "Onde os fracos não têm vez" (2007).
Mas o filme, que entrou nesta semana em cartaz no circuito nacional, é dirigido pelo ator George Clooney, que se baseia nessas características iniciais e facilmente reconhecíveis do cinema de Joel e Ethan para criar algo com seu próprio estilo. Clooney, que já dirigiu o ótimo "Tudo pelo poder" (2011), conta a história da família Lodge, composta por Gardner (Matt Damon), sua esposa Rose (Julianne Moore) e seu filho Nicky (Noah Jupe). Eles vivem com a irmã gêmea de Rose, Margaret (também interpretada por Moore).
A família Lodge mora em Suburbicon, um bairro criado para famílias ricas. O filme se passa nos anos 1950 e começa com um vídeo publicitário explicando que neste bairro suburbano de casas parecidas, jardins verdes e cercas brancas, as famílias irão encontrar tudo que precisam: hospitais, escolas, polícia. Comodidade e uma vida cotidiana agradável: um bairro de bons modos e regras de etiqueta. Tudo vai bem até que uma família negra se muda para lá, causando repulsa nos vizinhos, que a partir daí começam a revelar raiva e hipocrisia.
A certa altura, Rose e Margaret incentivam Nicky a ir brincar com o filho dessa família, o que gera espanto entre os vizinhos. Clooney conta uma história nos anos 1950, mas a conexão com o período atual é evidente: o racismo, a hipocrisia, a violência. À noite, a casa dos Lodge é invadida por dois bandidos que dopam a família. Eles usam uma dose extra de clorofórmio em Rose e ela morre. É através desses crimes, racismo e um tipo misterioso de homicídio, que Clooney começa a sugerir o que há de podre nos bastidores de um bairro de elite.
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Aos poucos, o filme se transforma de uma sátira dramática sobre classes sociais e crimes raciais em um thriller de suspense e mistério. É quando fica evidente a escrita dos irmãos Coen: a referência imediata é "Fargo: uma comédia de erros" (1996), longa vencedor do Oscar de melhor roteiro. Cada pequena decisão estúpida leva a uma tragédia gradualmente maior e mais intensa, no ritmo de um carrossel infernal. Outra referência é o clássico "Pacto de sangue" (1944), de Billy Wilder, na maneira como o cinema noir se insere nas brechas do roteiro.
Parece faltar a essência invisível e fascinante que transforma o cinema dos irmãos Coen em algo realmente especial. A trilha sonora é convencional demais para um filme que tem tanto estilo; os personagens parecem menos intrigantes com a progressão do filme, quando os mistérios do enredo se revelam; a história sobre o racismo aos poucos perde espaço - a impressão é que faltou uma conexão mais orgânica. Parece um filme que tem personalidade forte e um argumento fascinante, mas durante o percurso algumas peças não se encaixaram.
Cotação: bom

