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Superação dá o tom do filme 'Uma razão para viver'

Longa-metragem, que está em cartaz no cinema, é baseado na história real de Robin Cavendish, que foi acometido pela poliomelite, na década de 1960, e conseguiu transpor os muros do hospital

Andrew Garfield vive o personagem principalAndrew Garfield vive o personagem principal - Foto: Diamond Films/Divulgação

É sempre difícil falar sobre deficiências (se é que podem ser chamadas assim). Mesmo que o tema já tenha sido tratado em filmes similares - recentemente, "Como eu era antes de você" e "A teoria de tudo" -, é peculiar como "Uma razão para viver", que estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, não se torna repetitivo.

Sim, já conhecemos a história de um jovem homem que, com a vida pela frente, se vê tolhido por uma limitação - é o conto da vida de milhares. O que torna essas histórias interessantes, contudo, é como cada uma delas toma seu próprio caminho, como cada um tem sua própria experiência, seu próprio jeito de lidar com as limitações que um acidente, uma doença, uma paralisia lhe proporciona.

E a história de Robin Cavendish (Andrew Garfield), diagnosticado com poliomielite aos 28 anos de idade, na década de 1960, certamente é interessante. Paralisado do pescoço para baixo e incapaz de respirar sem a ajuda de aparelhos, Robin - apoiado por sua esposa, Diana (Claire Foy) - decide fugir do hospital para tentar uma vida sem tantas restrições. 

Em uma época em que as pessoas com deficiência física eram prisioneiras de hospitais, Cavendish foi pioneiro em se utilizar de um modelo inicial de cadeira de rodas para promover, acima de tudo, a liberdade e os direitos daqueles com necessidades especiais. "Eu não quero só sobreviver, eu quero viver de verdade", demanda Robin. E é daí que o filme parte: das inseguranças, das tentativas, da superação de Robin e Diana a cada limite que lhes é imposto.

A direção de Andy Serkis (estreante no ramo) é delicada, com cenas filmadas do ponto de vista de Robin para que o público possa sentir, em certa medida, sua emoção - a primeira vez que sai do hospital, por exemplo, ainda sobre uma cama, e como o ar puro, as árvores e o céu lhe comovem.

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"Uma razão para viver" não seria o mesmo sem as performances de Andrew Garfield e Claire Foy, que entram nos personagens e garantem ao filme uma chance ao Oscar (afinal, ele é o que pode-se chamar de "isca de prêmios"). Garfield aposta nas expressões faciais: angústia, amor e frustração são algumas das emoções que ele é capaz de trazer apenas com um movimento de boca, um brilho no olhar.

Foy não fica para trás: traz consigo outra camada para Diana, personagem que acaba reduzida ao estereótipo de parceira de uma pessoa com deficiência que esquece a própria vida, os próprios sonhos e desejos, em detrimento da outra. "Meu amor, minha vida", ela e Robin declaram um para o outro, mas suas vidas para além um do outro - que, evidentemente, não são inexistentes - acabam por não ser exploradas na narrativa.

Seria errôneo afirmar que o filme não trata de questões importantes com a força que deveria - sua história fala por si só. Contudo, a narrativa parece se repetir em suas situações e acontecimentos: quando os maiores desafios parecem vencidos e os personagens já se encontram em certa comodidade com a situação, o longa começa a dar pulos temporais, passando rapidamente por cada fase da vida de Robin - um acidente em casa que provoca um susto, uma tentativa de viagem para outro país - sem lhes dar muita significação.

É compreensível, no entanto, que isso se dê pelo cunho mais biográfico da obra, que procura atentar para os principais e mais emocionantes acontecimentos da vida de Robin. Seria impossível, afinal, englobar tudo em um filme de duas horas.

Cotação: Bom

 

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