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Talentos de Pernambuco para o Brasil e o mundo afora

Artistas da música pernambucana fazem sucesso fora das nossas fronteiras, levando a outros públicos discos e turnês recentes, de ritmos que vão do rock ao funk, passando pela MPB

AlmérioAlmério - Foto: Anderson Stevens / Folha de Pernambuco

Faça uma busca no YouTube, tente criar uma playlist só com música pernambucana. A variedade de estilos e opções acaba sempre surpreendendo. O Estado vem se consolidando, já há bastante tempo, como um dos maiores e mais criativos celeiros artísticos do País e do mundo. A diversidade da produção engloba nomes consagrados como Lenine e Alceu Valença, passando pela galera do Movimento Mangue, do rock, do forró, do funk, do brega, do samba, da música clássica. A Folha de Pernambuco foi conversar com alguns dos artistas que estão se destacando nos últimos meses, ampliando suas atuações para o cenário nacional.

O título de Cantor Revelação da 29ª edição do Prêmio da Música Brasileira (PMB), o principal do Brasil, foi conquistado pelo caruaruense Almério, no último mês de agosto. A consagração reflete a força da trajetória do artista, mas também integra o currículo de outros pernambucanos como Johnny Hooker, que em 2015 recebeu o troféu de melhor cantor na categoria Canção Popular. Hooker está este mês em turnê pela Europa, fazendo shows em países como Espanha, Portugal e Alemanha.

Para Almério, 2018 está sendo um ano marcante, que trouxe a realização de diversos shows (os próximos serão no Rio e em Belo Horizonte) também a gravação de seu primeiro DVD, versão ao vivo do CD "Desempena". "Estou vivendo uma fase muito bonita na minha carreira. Além de ter lutado muito para que isso acontecesse, eu também sou grato aos encontros artísticos que tive ao longo da vida", contou o artista.



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A cantora Gerlane Lops, intérprete de MPB e destaque no segmento do samba, disse que Pernambuco tem se destacado pela diversidade de seus artistas. "Do pop ao samba, a gente agrada nacionalmente. E também recebe de braços abertos os artistas de fora, aqui em Pernambuco. Ao longo de mais de 20 anos de carreira, percebo um carinho e um respeito enormes pela música que fazemos, porque primamos pelo talento e pela qualidade", avaliou Gerlane, que convive com pessoas de vários estilos musicais.

"Eu construo minha carreira a partir de Pernambuco e gosto muito de sair pesquisando. Meu projeto é multicultural. Isso é muito importante, é vital. E eu levo isso comigo, quando viajo. Estou indo me apresentar no Rio, no fim de setembro, e apresento esse legado, faço essa troca de informações por onde passo". A cantora está focada em compilar um novo disco, que será lançado até dezembro.

"Do pop ao samba, a gente agrada nacionalmente. E também recebe de braços abertos os artistas de fora" - Crédito: Tiago Nunes/Divulgação


Almério concordou com Gerlane, afirmando que a cena pernambucana o inspira muito. "Os artistas têm uma inquietude que me emociona. É uma cena poderosa, muito rica, com cantores e compositores muito bons. Uma coisa meio que universal é que temos uma consciência coletiva do que está acontecendo aqui, da importância de se 'alimentar' uns aos outros. Isso leva a uma generosidade muito bacana, que só faz somar e que a gente não vê muito no restante do mercado da música, onde existe uma competição boba que atrapalha muito o andamento das coisas", apontou, citando nomes como Martins, Gabi da Pele Preta, Flaira Ferro, Paulo Neto, Juliano Holanda, Silva e Aninha Martins.

Como Almério, outros artistas independentes têm utilizado as redes sociais como forma de tornar seus trabalhos "mais conhecidos e mais palpáveis". Ele deu a receita: "hoje existem no Brasil milhares de festivais que têm permitido que eu viva da minha arte. O grande lance é mapear esses espaços e tentar permeá-los com um trabalho feito com qualidade e verdade". Quem também está aproveitando o filão da divulgação na internet e da gravação digital "caseira" é o cantor Paes, que em maio lançou seu segundo álbum, "Mundo Moderno", através das plataformas de streaming e de seu próprio selo, que faz a distribuição através de fitas cassete.

O disco vem obtendo muitas críticas positivas dos veículos especializados em música independente, e o artista tem se apresentado em várias cidades do Brasil e do exterior. "Estamos vivendo um momento muito diferente em relação ao mercado e à indústria fonográfica. Há muitas possibilidades novas. Você tem a oportunidade de ser escutado fora de seu lugar de origem e isso está acontecendo com artistas de vários estilos. A cada ciclo vêm surgindo mais trabalhos. Tem mais gente fazendo e ao mesmo tempo, é mais fácil de você divulgar", avaliou Paes

Paes utiliza as redes sociais para tornar seu trabalho conhecido numa dimensão mais ampla

Paes utiliza as redes sociais para tornar seu trabalho conhecido numa dimensão mais ampla - Crédito: Divulgação

   Sonhando cada vez mais alto

Pernambuco também está levando para o mundo novas referências em ritmos populares como o brega e o funk. O grupo MC Loma e as Gêmeas Lacração é o fenômeno de maior destaque nesse contexto, alcançando uma ascensão meteórica a partir do último mês de janeiro, quando lançaram via redes sociais o clipe da música "Envolvimento" (produzido de forma amadora no banheiro da casa da avó, em Jaboatão dos Guararapes).

Desde então, o trio formado pelas primas Mirella e Mariely Santos da Silva, de 18 anos, e Paloma Roberta Silva Santos, de 15, passou por muitas peripécias, que incluíram a realização de shows em todo o País (com destaque para a companhia de famosos como Anitta) e a suspensão da licença das apresentações, pelo fato de Loma, a mais nova das três, não estar cursando regularmente a escola.

Esta semana, mais uma faceta negativa da fama veio a público: elas acusaram o empresário Marcelo Fernandes, da produtora Start Music, de não repassar o devido valor dos cachês das apresentações. Fernandes negou o fato e destacou que se o trio quebrar o contrato, vai ter que pagar multa de R$ 3 milhões cada uma.



Outro menor de idade que vem ganhando fama nacional é o MC Bruninho, que já tem mais de 184 milhões de visualizações no YouTube apenas por conta da música "Jogo do Amor". Com aquilo que chama de "batidão romântico", Bruninho (que, na verdade, se chama Richardson e já teve planos, no passado, de ser jogador de futebol) conseguiu a proeza de arrancar elogios de Caetano Veloso no Instagram. "Tinha vontade de pedir que ouvissem MC Bruninho, com sua afinação deliciosa, em ‘Jogo do Amor’, mas acho que todo mundo já ouviu (e ouve). O eco de Olodum que há na batida também é delicioso. Grande faixa. Grande talento esse menino”, escreveu o cantor e compositor baiano.

Morando fora do Recife, Bruninho atualmente faz quatro shows a cada fim de semana, sempre no esquema matinê, não descuida dos estudos e ainda se dedica às aulas de inglês e violão. Ele contou à reportagem que está muito feliz com essa nova etapa da vida. "Minha rotina mudou muito, mas quero cada vez mais poder fazer o que gosto, que é cantar. É bom sentir que todos hoje me reconhecem por causa da minha música. Eu entro na casa de todos, desde crianças até adultos", relatou. O pequeno confessa que tem saudades do Recife, mas sempre que tem uma folga, vem visitar os amigos. "O ruim é só isso, ou melhor, de ruim não tem nada. Tudo pra mim é novidade", riu.

"Minha rotina mudou muito, mas quero cada vez mais poder fazer o que gosto, que é cantar. É bom sentir que todos hoje me reconhecem por causa da minha música" (MC Bruninho) - Crédito: Divulgação


Um terceiro astro é Dadá Boladão, que viu sua carreira decolar após ter suas músicas gravadas por cantoras como Solange Almeida e Ivete Sangalo. No início do ano, ele gravou um clipe luxuoso divulgado pelo KondZilla, o canal mais seguido do país, reforçando a visibilidade nacional que este tipo de ritmo vem alcançando. "Graças a Deus, o movimento brega funk vem crescendo muito, a partir do momento que a gente começou a encarar esse processo de maneira mais profissional, com foco", avaliou.

"Pernambuco é um celeiro de talentos. Estamos alcançando outros estados e levando nossa música cada vez mais alto. Hoje, faço shows em Maceió, Natal, João Pessoa, Fortaleza, pelo Nordeste todo. É muito gratificante para mim", comemorou, destacando que há poucos anos a banda não tinha estrutura para sequer sair do Recife.



O ano de 2017 foi o marco da virada na carreira de Dadá. "Minha vida mudou a partir do momento em que Solange gravou minha música 'Revoltada'", afirmou. "Depois que artistas do forró e outros ritmos começaram a gravar composições da gente, ganhamos cada vez mais destaque. Até os MCs de São Paulo e do Rio de Janeiro agora estão investindo nesse tipo de música que a gente faz aqui no Recife", acrescentou.

O funkeiro tem planos para alcançar sucesso no resto do Brasil e consolidar uma carreira permanente. "A música nunca vai sair de mim, quero viver de música para sempre. Há sete anos vivo de música, tudo o que conquistei devo a isso e sou muito grato, mas ainda tenho muitos projetos a conquistar. Eu sonho o mais alto possível", confessou Dadá.

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