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"Trainspotting" têm sequência lançada depois de duas décadas

Sequência do icônico filme traz os personagens do original, que ainda mantêm incertezas em suas vidas

Spud (Ewen Bremner), Renton (Ewan McGregor), Simon (Jonny Lee Miller) e Begbie (Robert Carlyle) se reencontramSpud (Ewen Bremner), Renton (Ewan McGregor), Simon (Jonny Lee Miller) e Begbie (Robert Carlyle) se reencontram - Foto: Divulgação

 

Depois de 20 anos é lançada a sequência de “Trainspotting - Sem Limites” (1996), de Danny Boyle. O original é o tipo de filme que visto em retrospectiva parece expandir seus personagens e ideais para além dos limites da imagem, comentando a identidade cultural e política dos garotos e garotas sem rumos definidos dos anos 1990. O espírito do longa parece contido na narração inicial de Mark Renton (Ewan McGregor), “Choose Life” (“Escolha a vida”), um testemunho que ironiza as possibilidades limitadas da juventude de vinte e tantos anos.

Nesta sequência, Renton volta para casa depois do casamento falido e reencontra os amigos que traiu no filme anterior. Ele tenta remendar tragédias do passado, não apenas a traição com gente que ele conhecia desde criança, como também as relações familiares. Há um interessante movimento dramático na jornada de Renton, uma complexa relação de sentimentos expressos no retorno para casa, no abraço com o pai, na ausência da mãe, nos segredos de seu antigo quarto que apenas ele conhece, além da forma como tenta se reconectar com sua própria existência.

Parece ser a nostalgia pelo tempo perdido o que guia as primeiras cenas. A reapresentação de Spud (Ewen Bremner), um viciado que tenta retomar a vida e enfrenta as peculiaridades do Horário de Verão, é suficientemente engraçada e lírica para encantar os fãs do filme original e apresentar o personagem aos novos espectadores.

 Já Simon (Jonny Lee Miller) e Begbie (Robert Carlyle) refletem um incômodo deste filme: parecem reduzidos à caricatura - são representados exclusivamente pelos rótulos trambiqueiro e brigão. O ponto alto do elenco é realmente McGregor, que parece confortável ao retomar o personagem.
A estrutura do filme ressalta esse interesse pelo passado, reprisando certas passagens importantes do longa original como forma de destacar alguma repercussão no período atual - por exemplo, as ações de Renton e Simon que geraram vítimas imprevistas.

Nessas lembranças parece especial a forma como Boyle monta cenas, retalhos editados que seguem o fluxo imprevisível da memória, um ritmo alucinado de imagens que surgem ao rever um velho conhecido ou um lugar importante.
Aos poucos, a impressão é que enquanto no filme original toda irreverência corrosiva parecia registrar um instantâneo do cotidiano de jovens adultos, perspectivas instigantes sobre crises e incertezas, esse retorno parece apenas um esboço comum sobre adultos com vidas sem rumo. Há algumas piadas e situações interessantes, mas a potência do filme anterior - um relato mais vago e impressionista composto por cenas curtas e em certo sentido aleatórias sobre crises de uma geração - parece domesticada em uma estrutura mais convencional de narração.

 

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