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Trama de "Garota do Momento" é valorizada por referências históricas e culturais

Com fluidez e de forma muito bem arquitetada, a autora Alessandra Poggi tem garantido o saudosismo do público mais maduro e também boas doses de informação e referências ao telespectador mais novo

"Garota do Momento", da Globo"Garota do Momento", da Globo - Foto: Divulgação

Ambientada no final dos anos 1950, “Garota do Momento” tem promovido uma verdadeira aula sobre cultura pop ao longo de sua exibição.

Com fluidez e de forma muito bem arquitetada, a autora Alessandra Poggi tem garantido o saudosismo do público mais maduro e também boas doses de informação e referências ao telespectador mais novo.

Abusando da metalinguagem, é muito criativa a representação dos primórdios da televisão no país com a emissora TV Ondas do Mar e seu bem-sucedido “Alfredo Honório Show”, típico programa de auditório comandado pelo personagem de Eduardo Sterblitch.

Com atenção especial para jingles, esquetes, concursos e quadros que abrilhantavam as produções da época e que ainda resistem na tevê contemporânea. Em cena, Sterblitch surge à vontade, em uma atuação delicada que combina bem com o clima de comédia romântica de seu núcleo.

De forma mais densa, e com ecos da trajetória da cantora Maysa, uma das grandes divas da música de fossa, a trama de Lígia, defendida por Paloma Duarte, é uma das mais instigantes da atual novela das seis.

Depois de abandonar a família para seguir o sonho de viver de sua arte, a personagem vai tentando consertar a relação com os filhos sem abrir mãos de seus desejos como mulher e profissional.

Enredo à frente de seu tempo, as cenas de Lígia abordam a postura subserviente que a sociedade esperava das esposas à época e discute a questão do desquite de forma objetiva.

Em um dos melhores papéis de sua carreira, Paloma brilha ao mostrar sua própria voz e empresta sua maturidade artística para uma personagem que decide pagar pelo preço de abrir mão de um casamento para seguir na carreira de cantora e compositora no machista universo musical.

Com a protagonista Beatriz, de Duda Santos, realizando a transição da carreira de modelo para atriz, “Garota do Momento” agora ilumina dois momentos importantes para as Artes Cênicas, o Teatro Experimental do Negro e a presença de pessoas pretas em papéis de destaque nas primeiras telenovelas.

Em sequências carregadas de emoção, a saudosa Ruth de Souza, interpretada por Eli Ferreira, chegou à trama para ajudar Beatriz a encontrar sua vocação.

Justa e bela homenagem da autora para uma das grandes atrizes do Brasil, a passagem de Ruth pela história potencializou exatamente o estilo revisionista da produção que, sem renegar as injustiças e o racismo, reimagina um passado mais igualitário.

Essa mesma tática também tem rendido cenas de alto teor emocional com a entrada de Silvero Pereira na pele de Érico, que ganha a vida nas noites da Lapa, o boêmio bairro carioca, como a transformista Verônica Queen. Com pesquisa bem realizada e excelente equilíbrio entre ficção e realidade, a volta ao passado promovida por “Garota do Momento” é, de fato, um chuá.

“Garota do Momento” – Globo – de segunda a sábado, às 18h20.

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