Um stand up em formato de livro
Bruna Louise, atriz, humorista e youtuber brasileira, lança seu primeiro livro pela BUZZ Editora
O início traz a sensação de que Bruna Louise nem desejava escrever e, de fato, ela admite isso contando que foi convencida pelo publisher a preencher as 157 páginas publicadas pela editora Buzz. Além disso, outros elementos que parecem estar enchendo linguiça, ao longo do livro, são algumas piadas visuais com fotos e diagramação diferentes, mas que não acrescentam em muita coisa. Por exemplo, já próximo à introdução, onde cada página foi colocada com apenas uma linha escrita, para fazer “vento” ao abrir e fechar rápido.
Após a primeira parte, o leitor sente que a autora se empolgou e começou a escrever com mais entusiasmo. Várias situações despertam a empatia, porque são experiências vivenciadas por Louise, pelas quais muitas pessoas também já passaram. Um ponto problemático ocorrre quando a humorista transforma partes do livro em um palco para falar das próprias “noias”, das manias, do mundo dela. E foge da proposta de escrever para as mulheres sobre mulheres.
Alguns capítulos viram divagações pessoais, tanto que até parecem abranger parte do universo feminino, mas se perdem no universo de Louise. A escrita bem-humorada, no entanto, se adequa à proposta, e é possível ter a impressão de que se tem uma longa conversa íntima com a escritora.
Em muitos tópicos, ela destaca situações mostrando o quanto são erradas ou, ao menos, com reclamações sobre o desconforto de passar por elas. Como ser considerada fora do peso ideal ou como, para a mulher, é quase sempre mais difícil se vestir para todas as ocasiões, o tanto que a sociedade cobra das mulheres determinados comportamentos. A autora tenta empoderar as mulheres e fazê-las perceberem que não precisam se esforçar para agradar ninguém que não a si mesmas.
Apesar dessas desconstruções expondo problemas e preconceitos contra o feminino, em outros momentos, o pensamento de Louise é similar ao de várias meninas/mulheres que estão presas a padrões sociais e, às vezes, nem possuem consciência sobre isso, ou até sabem, mas têm dificuldade em romper com eles. São detalhes inofensivos, mas se analisados com calma, desatam em pequenas repressões: deixar de ir a uma festa por não saber o que usar ou ter de vestir determinada roupa para agradar outras pessoas. Há trechos no livro em que a autora, mesmo irritada com as circunstâncias, ainda está presa a elas.