Virtuosi traz de Portugal contratenor João Paulo para cantar em sua terra natal
Nascido em Garanhuns, jovem mora em Portugal há três anos; suas apresentações no mosteiro de Santa Maria de Alcobaça o levaram a cantar na França, Inglaterra e outros países da Europa
Morando em Portugal há três anos, o pernambucano João Paulo Ferreira retorna ao Brasil nesta sexa-feira (20) para uma apresentação exclusiva no X Virtuosi de Gravatá, que acontece a partir das 20h, na Igreja Matriz da cidade. Entre outras canções, o contratenor apresenta músicas que abordam o universo barroco, além de representar peças que se tornaram ícones para os “Castrati” – que em português significa “castrados”, como eram conhecidos os cantores da ópera dos séculos 17 e 18 cujo poderio vocal era resultado de uma castração feita na infância.
A prática marcou um dos períodos mais extravagantes da história da música e foi permitida pela igreja com o intuito de criar um vocal único, parecido ao de uma cantora, já que até meados de 1800, as mulheres eram proibidas de fazer shows e cantar em público. Em Garanhuns, João Paulo também apresenta peças de Antonio Vivaldi, do austríaco Franz Schubert e canções espanholas de Federico Garcia Lorca.
Natural de Garanhuns, aos 16 anos João fez sua primeira apresentação em um grupo musical chamado Gaia Málgama formado em sua cidade natal. Iniciou sua carreira internacional com o Nido Delas Artes (International Opera Tour), no México, Panamá, Costa Rica e Colômbia, desenvolvendo um repertório que vai do barroco a canções Brasileiras, Portuguesas, Judias, Mexicanas e Argentinas. Desenvolve intensa atividade em conjunto com o contratenor Luis Peças. Aclamado pelas suas interpretações, atua com frequência na França e Inglaterra.
4 perguntas para João Paulo Ferreira:
1. Poderia contar um pouco da sua trajetória, como saiu de Garanhuns para o mundo, parando em Portugal?
Há 11 anos que saí de Garanhuns para embarcar no mundo da música. Dei início aos meus estudos musicais em Aracaju, posteriormente em São Paulo e Curitiba. Diante dos trabalhos desenvolvidos, minha carreira internacional se deu em 2012 com o Nido Delas Artes (Internacional Opera Tour), no México, depois Panamá, Colômbia e Costa Rica pelo período de 2 anos. Em outubro de 2015 cheguei a Portugal pelo convite inesperado do contratenor português Luis Peças, onde realizamos diversos concertos pelo país formando o duo. E juntos, lançamos nosso primeiro disco, “enCanto".
Em dezembro do mesmo ano, mudei-me definitivamente para Portugal, mantendo uma parceria entre a direção geral do patrimônio Português e a prefeitura da cidade de Alcobaça que consiste na realização de momentos musicais dirigidos aos que diariamente visitam o mosteiro de Santa Maria de Alcobaça. Aclamado pelas minhas interpretações no mosteiro, fui convidado por diversos órgãos, o que já me levou a atuar em alguns países da Europa, principalmente na França e na Inglaterra. Em 2017, lancei o meu primeiro disco solo intitulado “Florescência” que inclui diversas canções desde o século XVI, com temas sefarditas e vilancicos do cancioneiro Português.
2. Como está se sentindo por poder voltar para casa e cantar?
Sinto uma felicidade imensa em cantar em casa depois de tanto tempo. Mostrar o trabalho que eu venho desenvolvendo ao longo desses anos. Será um momento único encontrar familiares e amigos me prestigiando, o que aumenta ainda mais a minha alegria.
3. Pode falar um pouco sobre as peças que você vai cantar e sua relação com elas?
O repertório foi selecionado com muita excelência, fazendo uma abordagem única ao universo Barroco e trazendo para minha voz peças que se tornaram ícones para os “Castrati”. Entre estas maravilhas do Esplendor do Barroco, posso citar “Si dolce e'l tormento” do compositor Italiano Monteverdi (1567-1643), uma peça que transmite uma ampla gama de emoções marcada por uma época de transição do Renascimento. Essa peça traz uma amostra significativa do auge da criação musical influenciada por esta “nova” maneira de fazer música. Também vou cantar “Generoso risvegliatti o core”, da Ópera Cleofide, do compositor Hasse (1699-1783), que se traduz em um deleite poético às coisas advindas do coração. Estas, entre outras, podem ser pontuadas como grandes momentos do concerto que trarei para o Virtuosi.
4. Qual dica você pode dar para os jovens pernambucanos que queiram tentar se profissionalizar na sua área fora do país?
Incrivelmente os jovens brasileiros possuem um talento ímpar em nível musical e se profissionalizam a ponto de enveredar-se ao mundo. E por que não ter este ímpeto de ir para fora do país e seguir uma carreira internacional? Porém o país possui profissionais de alta qualidade que fazem os músicos brilharem com maestria aqui mesmo e ganhando força a ponto de seguir carreira. Como dicas fundamentais, o jovem deve possuir uma gana incrível, ter força, coragem para se desbravar e atuar neste sonho.

