A hora certa para abrir uma empresa
Pernambuco registrou crescimento de 30% na formalização de empresas em 2020 e 2021, já em plena pandemia. Com o desemprego em alta, empreender foi a saída para muitos. Mas para ter sucesso, é preciso saber aproveitar o momento e as oportunidades
Um cenário que pode ser visto como paradoxo, mas que é uma realidade: você imagina, mesmo no momento de pandemia, com os impactos econômicos existentes, abrir uma empresa? Empreendedores decidiram mergulhar em novos negócios, mesmo diante do momento adverso, muitas vezes por necessitar de uma nova fonte de renda. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a partir dos dados da Junta Comercial de Pernambuco (Jucepe), Pernambuco registrou um crescimento de 30% no número de formalizações de empresas, considerando 2020 e 2021, período de pandemia.
“Enquanto você vive uma crise com os efeitos que a pandemia trouxe, tanto sanitários como econômicos, houve um aumento no número de formalizações. Isso a princípio parece um contrassenso. Mas, com as altas taxas de desemprego, com a inflação alta, com empresas sufocadas por dificuldade de acesso ao crédito, algumas pessoas vão em busca de novos negócios pela sobrevivência, por necessidade”, explicou Leonardo Carolino, gerente do Sebrae na Região Metropolitana do Recife (RMR).
Muitos foram os mercados que surgiram na pandemia, mas o Sebrae destaca novos negócios, sobretudo, nos ramos de alimentação, moda, beleza e acessórios. Os sócios do bar Seu Spetto Prime, em Candeias, Jaboatão dos Guararapes, enxergaram esse momento como oportunidade e necessidade. O sócio-proprietário Rosemberg Lima e mais outros dois estavam sem trabalhar, pois a pandemia atingiu o setor de eventos, no qual eles atuavam. Foi assim que surgiu a ideia de abrir o empreendimento.
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“A falta de trabalho e ocupação fez a gente criar a ideia de abrirmos o bar. Era ocupar a mente e ter alguma renda. Vimos que tinha um nicho para atuar e começamos a estudar a região de Candeias. Apostamos na novidade de ser ao ar livre e seguimos em frente”, contou Rosemberg. O Seu Spetto abriu em abril de 2021 e, de lá para cá, já houve expansão no próprio local e no número de funcionários. Em breve, eles vão ampliar, incluindo novo espaço de bar no formato 360° e lounge.
Pesquisa de mercado
O economista da Búzios Consultoria, Rafael Ramos, orienta que, independente do negócio, o empreendedor precisa fazer um estudo de mercado para saber ‘onde está pisando’. Ou seja, conhecer profundamente o ramo em que vai atuar. “A pesquisa de mercado vai guiar a pessoa sobre o negócio que quer abrir, e o Sebrae é indicado para dar essas orientações. Então o estudo vai poder dizer quem é o principal consumidor, se esse consumidor é digital ou tradicional, vai sugerir visitar o local do empreendimento, entre outros aspectos”, indicou Rafael.
Segundo Leonardo Carolino, não existe fórmula matemática para um negócio, mas sim uma conjunção de fatores que tornam esse momento único. “Para quem está começando, a orientação é ter propósito e fazer aquilo que gosta. Ficar de olho nas tendências para antecipar desejos e necessidades dos clientes também é muito importante. Além disso, acompanhar as mudanças tecnológicas é essencial para saber onde as gerações que utilizam seu negócio estão indo”, comentou o gerente do Sebrae.
Raissa Vasconcelos, proprietária do Pitaya Pet, mercado de alimentação natural para pet, conseguiu abrir um negócio na pandemia, unindo o que gosta muito. A marca começou em uma cozinha há um ano e no último mês abriu loja física no bairro da Torre, Zona Norte do Recife. Raissa é advogada e trabalhava em um escritório. Quando chegou a pandemia, ela foi demitida. A necessidade foi a motivação básica para ela começar um novo negócio.
Raissa Vasconcelos iniciou a Pitaya Pet para vender comida saudável para animais. Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco“Vi que esse mercado de pet cresceu na pandemia e é muito promissor, além de eu amar e viver o universo dos animais. Então encontrei um nicho de vender comida saudável de verdade, feita por um chefe de cozinha. Comecei apenas com on-line e agora abri loja física para ter mais visibilidade e oferecer opção mais rápida para o cliente”, contou Raissa, ao comentar que oferece alimentos, como salmão, carne de panela e franguinho, além de dieta personalizada.
A empreendedora Fabiana Nascimento, juntamente com a sócia Adriana Santos, abriu um salão de beleza, depois de estudar o perfil do consumidor que gostariam de atrair. Há um ano, as duas inauguraram o Hannas Salon, na Galeria Capunga, no Derby. “Vimos que as pessoas gostariam de ter um ambiente mais tranquilo, mais aconchegante, com menos fluxo e que pudessem se sentir acolhidas. Trabalhávamos em outro salão e percebemos que elas sentiam falta disso. Foi aí que abrimos nosso próprio empreendimento”, contou Fabiana.
Fabiana Nascimento estudou o perfil dos consumidores para abrir o salão Hannas Salon. Foto: Ed Machado/Folha de PernambucoToda a pesquisa de mercado é fundamental, pois muitas empresas fecham, mesmo antes de completarem cinco anos de existência. De acordo com a pesquisa Sobrevivência de Empresas de 2020, realizada com base em dados da Receita Federal e com levantamento de campo, a taxa de mortalidade, em até cinco anos, no setor de microempreendedores individuais (MEI) é de 29%. Já as microempresas têm taxa, após cinco anos, de 21,6% e as de pequeno porte, de 17%.
Canal digital ativo
Hoje, qualquer pessoa que possua um canal digital ativo (seja o WhatsApp, Instagram, Facebook, etc) consegue gerar negócios por ele, mesmo que não seja um empresa com grande estrutura. “É importante desmistificar que, para gerar negócios através da internet, as empresas precisam ter um grande site, um e-commerce ou uma grande plataforma. Qualquer canal digital, seja qual for, pode gerar negócios”, explicou o sócio-fundador da Jogga Digital, startup voltada ao marketing digital, Raul Cantarelli.
A artesã Solange Prestrelo costura há muitos anos e seu principal ramo era fazer vestidos de festas e noivas. Quando a pandemia chegou, junto com o cancelamento dos eventos, Solange decidiu empreender em roupas infantis. Ela criou a empresa Dona Maroquinha, um ateliê que está disponível no Instagram. No perfil da empresa, são feitas postagens das roupas e lançamentos de coleções.
Solange Prestrelo apostou em roupas infantis e nos canais digitais, e criou a Dona Maroquinha. Foto: Divulgação“Eu tinha esse projeto em mente e decidi colocá-lo em prática, junto com minha nora, em maio de 2021. Nós fazemos roupinhas infantis e nos comunicamos com nossos clientes via redes sociais, fazendo sob encomenda. Fazemos entrega para área metropolitana do Recife e até já enviamos para o Piauí, Maranhão, porque a internet é bem aberta”, disse Solange.
Para Raul Cantarelli, é fundamental olhar essas ferramentas digitais como geração de negócio e não só de conteúdo. “O importante é olhar a jornada completa. Fazer o conteúdo, conseguindo despertar interesse nas pessoas para continuar a conversa e gerar a venda”, indicou o especialista.


