Cúpula do Mercosul: com pedido de visita de Cristina Kirchner, Lula vai a Buenos Aires para discutir
Agenda será marcada por temas econômicos, como ampliação da lista de exceções e novos acordos comerciais
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca nesta quarta-feira (2) para Buenos Aires, onde participa da Cúpula do Mercosul, marcada para hoje e quinta-feira. Segundo interlocutores, Lula discutirá com os sócios os pedidos de flexibilização do bloco, defenderá a democracia, a integração regional e o aumento do comércio e dos investimentos do bloco com outros parceiros internacionais.
Será a primeira visita de Lula à Argentina desde que Javier Milei assumiu a presidência do país vizinho. Os dois líderes são desafetos. Fotografias juntos, apenas em situação protocolar, como quando estiveram na Cúpula do G20 (grupo que reúne as maiores economias do planeta), no Rio. Chamado pelo mandatário argentino de "corrupto", "comunista" e "dinossauro idiota", Lula sempre esperou um pedido de desculpas que nunca aconteceu.
Por outro lado, segundo auxiliares, Lula aguarda o aval da Justiça argentina para visitar a ex-presidente Cristina Kirchner, em prisão domiciliar e condenada por corrupção. Se a resposta ao pedido da defesa de Cristina for positiva, o encontro será preparado, dizem esses interlocutores.
Diante do clima entre Lula e Milei, não haverá espaço para discussões políticas no Mercosul, conforme adiantou ao GLOBO o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. A agenda da reunião de presidentes será mais econômica, com destaque para a flexibilização da Tarifa Externa Comum (TEC), pedida pela Argentina para permitir que os sócios do bloco negociem acordos comerciais com outros parceiros.
O Brasil concordou em aumentar a lista de exceções à TEC — usada no intercâmbio de bens com países que não fazem parte da união aduaneira — em 50 itens. Com isso, será possível mexer livremente, subindo ou descendo as alíquotas de importação, de 150 posições tarifárias.
Mas o Brasil fez algumas exigências para acolher o pedido. Uma delas é não permitir que produtos brasileiros cujas vendas representem mais de 20% do total importado pelo sócio solicitante.
A entrada da Bolívia no bloco e o interesse de outros países, entre os quais Panamá, El Salvador, Canadá e Indonésia, em se aproximar comercialmente do Mercosul também farão parte da agenda. Existe a expectativa de ser anunciado o fechado um acordo com a Associação Europeia de Comércio Livre (Efta), formada por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça.
— Há duas cúpulas (do Mercosul) por ano. Há momentos em que é especificamente (a agenda do) Mercosul e há momentos em que há espaço para coisas políticas. Desta vez, da própria forma como foi organizado pela presidência argentina, vai ser um período muito curto. O presidente Lula vai chegar no dia 2. No dia 3, ele participará da reunião com os presidentes, marcada para às 11h, e embarcará de volta às 13h — disse Vieira.
Lula receberá das mãos de Milei a presidência pro tempore do Mercosul. A partir de então, o Brasil ficará à frente do bloco durante o segundo semestre deste ano.
Uma visita de Lula à ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, não está previsto na agenda do Itamaraty. No entanto, de acordo com o jornal "El Clarin", a defesa de Cristina, que está em prisão domiciliar, pediu autorização para receber Lula em sua residência.
Bilateral entre Haddad e ministro argentino
Se os dois presidentes não trocam palavras, o mesmo não ocorre entre membros das equipes dos dois governos. De acordo com interlocutores, Mauro Vieira tem uma boa relação com Gerardo Werthein, chanceler argentino.
Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, terá um encontro bilateral com sua contraparte argentina, Luis Caputo. Haddad e Caputo têm diferentes visões sobre a condução das economias de seus países: enquanto o governo Milei promove uma agenda ultraliberal de ajuste fiscal e desmonte do Estado, o Brasil tem apostado em crescimento com responsabilidade social e fortalecimento de políticas públicas.
Além da agenda com Caputo, Haddad também se reunirá com ministros da economia e presidentes dos Bancos Centrais do Mercosul.
A ida à Argentina marca o início de uma semana intensa para o ministro da Fazenda. De Buenos Aires, Haddad seguirá para o Rio de Janeiro, onde participará da Cúpula do Brics. Na quinta-feira, ele terá reuniões bilaterais com os ministros das Finanças da China, Lan Fo’an, e da Rússia, Anton Siluanov. Estão previstas também conversas com representantes do Egito e dos Emirados Árabes Unidos.
A movimentação do ministro ocorre poucos dias após um revés político no Congresso. O decreto que aumentava a alíquota do IOF foi derrubado por ampla maioria na Câmara e confirmado em votação simbólica no Senado.

