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Descarbonização

Brasil, protagonista da transição energética

Entre as renováveis que mais se destacam na matriz energética brasileira estão a biomassa da cana (16,7%), a hidráulica (11,6%) e a lenha e o carvão vegetal (8,5%)

Brasil, protagonista da transição energéticaBrasil, protagonista da transição energética - Foto: Ricardo Botelho/MME

O Brasil, país em que 50% da energia disponibilizada vem de fontes renováveis, destaca-se como protagonista na transição energética (mudança das formas atuais de produção de energia para formas descarbonizadas), enquanto o mundo enfrenta o desafio de descarbonizar a matriz que é predominantemente composta por combustíveis fósseis.

Quando queimados, esses combustíveis liberam dióxido de carbono ( CO) na atmosfera, ocasionando uma série de malefícios, como o superaquecimento do planeta e, como consequência, a geração de fenômenos climáticos severos. 

Entre as renováveis que mais se destacam na matriz energética brasileira estão a biomassa da cana (16,7%), a hidráulica (11,6%) e a lenha e o carvão vegetal (8,5%).

O licor preto (subproduto da indústria de papel e celulose, resultante do processo de cozimento da madeira para extração da celulose) e outras renováveis representam 8,1%; a eólica, 2,9%; e a solar, 2,2%, segundo o Balanço Energético Nacional 2025, ano-base 2024, divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Em 2023, a participação das fontes renováveis correspondia a 49,1%. Já em 2022, esse percentual era de 47,2%.

PNTE
Desde 2023, o Brasil dispõe de uma Política Nacional de Transição Energética (PNTE), contendo diretrizes que norteiam a estratégia energética do país para o enfrentamento das mudanças climáticas.

De acordo com o professor titular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Rômulo Menezes, o Brasil se destaca mundialmente por ter uma matriz com uma grande participação de energias renováveis. 

“A gente tem um percentual alto de geração de energia a partir de biomassa, de energia solar, de eólica, e de hidrelétrica. Então tudo isso coloca o Brasil em uma posição de bastante destaque mundialmente, principalmente em relação às economias da América do Norte, Europa, Japão, que usam uma quantidade de fósseis muito maior em comparação com o Brasil”, afirmou.  

Além de ser uma potência no desenvolvimento das fontes renováveis, o Brasil também estará no centro das discussões que permeiam a agenda climática mundial. Em novembro deste ano, a cidade de Belém, capital do Pará, sedia a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30).  

Segundo o presidente da consultoria independente em agronegócio Datagro, Plínio Nastari, o Brasil se apresenta na COP30 com uma matriz elétrica “extremamente renovável”, com 93% de fontes renováveis, além de um código florestal que é o mais rigoroso do mundo para controle do uso da terra. 

“Nessa COP da implementação, o que se espera é que os biocombustíveis tenham destaque por eles permitirem exatamente implementação imediata, sem alteração de frota, sem construção de uma nova infraestrutura de distribuição, uma estratégia que é replicável, porque ela não encontra uma barreira técnica para a implementação”, explicou. 

No âmbito de investimentos, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê um montante de R$ 600 bilhões de 2024 a 2034, em transmissão e geração de energia no país. 

Solar e eólica 
Impulsionadas pelas condições favoráveis da Região Nordeste e pelo investimento contínuo, as fontes eólica e solar despontam como aliadas na transição energética brasileira. 

Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), até julho de 2025, o Brasil alcançou a marca de 35,165 GW de capacidade instalada em fase de operação e teste. Isso representa mais de 1.143 parques eólicos, com um total de 11.999 aerogeradores espalhados por 12 estados brasileiros. A concentração se dá especialmente na região Nordeste. 

“O setor eólico brasileiro tem avançado de forma consistente na adoção de inovações tecnológicas e operacionais voltadas à eficiência dos empreendimentos, sobretudo os de grande porte”, destacou a presidente-executiva da ABEEólica, Elbia Gannoum. 

Potência
De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), em 2024, foram adicionados na matriz energética 14,3 gigawatts (GW). Com isso, o país atingiu 52,2 GW de potência operacional de fonte solar acumulada. 

No ano passado, os investimentos no setor avançaram 30%, em comparação com 2023. No total, foram investidos R$ 54,9 bilhões em energia solar. O valor foi destinado a pequenas instalações para consumo próprio em telhados, fachadas e pequenos terrenos, grandes usinas, entre outros. 

“Na Região Nordeste, tem havido uma expansão enorme das fontes de energia solar e eólica. Há alguns outros locais do Brasil com implantação de parques eólicos também, mas a região de destaque para essas fontes é o Nordeste brasileiro”, enfatizou Rômulo Menezes. 

Outra alternativa em ascensão para reduzir as emissões de CO é a geração de hidrogênio verde (HV). Por meio de variados processos, o país deve se destacar como um grande produtor e fornecedor deste tipo de tecnologia.

Toda a cadeia de valor do hidrogênio verde, da geração à exportação, segundo a consultoria Mckinsey, pode movimentar US$ 200 bilhões no Brasil até 2040. 

Ainda em nível nacional, R$ 188,7 bilhões já foram anunciados  para projetos de hidrogênio verde. Os dados são do mais recente estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Deste total, R$ 77,3 bilhões, que correspondem a seis projetos, deveriam ter a decisão final de investimento tomada neste ano.

Pernambuco
Em Pernambuco, são realizados diversos projetos de pesquisa para o desenvolvimento do hidrogênio verde, tanto em escala piloto quanto industrial, no Complexo Industrial Portuário de Suape, no município de Ipojuca, Litoral Sul. 

O professor Rômulo esclarece que há, no estado, uma rede de pesquisa financiada pela Facepe (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco) em energias renováveis e descarbonização.

“São 15 instituições de Pernambuco, todas as principais universidades, institutos de pesquisa e o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). O Senai montou um grande laboratório de pesquisa em energias renováveis, incluindo hidrogênio verde no Complexo Portuário de Suape”, acrescentou.
 
Ainda de acordo com a avaliação do professor, o estado está avançando na produção de hidrogênio verde, com pesquisas e desenvolvimento tecnológico.

“O Brasil é visto como um país com um grande potencial para fornecer hidrogênio verde para atender a demanda mundial”, reiterou.  

Segundo o professor da UFPE, apesar de semelhantes, os termos energia limpa e energia renovável não são sinônimos. As renováveis são aquelas que, à medida que as fontes são utilizadas, não se esgotam e se regeneram naturalmente.

Já a energia limpa se refere aos tipos que não emitem ou emitem pouco CO para a atmosfera. 

“Toda forma de energia tem seus impactos, mas a humanidade precisa de energia, isso é indiscutível, tanto para a saúde como para o transporte, a moradia, para tudo. No momento que a humanidade escolhe ter energia, então escolhe causar impactos ao meio ambiente”, disse. 

Rômulo Menezes acredita que, com a necessidade do uso da energia, a humanidade precisa escolher as formas de captura que sejam menos sujas, que causem menor impacto ambiental e que sejam viáveis economicamente. 

“É nessa fronteira que reside o avanço das formas de energia. É necessário ser economicamente viável e ter o menor impacto ambiental e socioeconômico. Nessa frente, a expansão da geração de energias dos países vai avançando”, finalizou.

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