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ALTA NOS PREÇOS

Café, chocolate, azeite e agora... Nutella. Preços disparam em mais um "queridinho" dos consumidores

Geadas afetam produção de avelãs na Turquia, responsável por 65% do fornecimento global

Café, chocolate, azeite e agora... Nutella. Preços disparam em mais um "queridinho" dos consumidoresCafé, chocolate, azeite e agora... Nutella. Preços disparam em mais um "queridinho" dos consumidores - Foto: reprodução

Primeiro foi o azeite, depois o cacau e o café. Agora, um novo aperto na oferta ameaça outro prazer gastronômico — as avelãs que entram na composição da cremosa Nutella. Os preços no atacado na Turquia, responsável por cerca de 65% da produção mundial de avelãs, saltaram aproximadamente 30% desde abril, após a pior geada de primavera em mais de uma década. E a tendência é que continuem subindo, segundo dados da empresa de inteligência agrícola Expana.

“As flutuações na oferta e nos preços da Turquia reverberam por todo o mercado”, afirmou o Conselho Internacional de Nozes e Frutas Secas, uma entidade que representa o setor. Há alguma oferta alternativa por parte de produtores menores, como Itália, Estados Unidos e Chile, “mas não o suficiente para compensar totalmente a dominância da Turquia”.

Alguns agricultores turcos perderam entre 50% e 100% de sua colheita, de acordo com o Conselho Nacional da Avelã da Turquia. O país responde por cerca de 65% da produção global de avelãs.

Isso pode ser uma má notícia para o maior comprador mundial: a italiana Ferrero SpA, que é responsável pela aquisição de cerca de um quarto da colheita turca para fabricar produtos como os bombons Ferrero Rocher e a Nutella. Avelãs compõem 13% dos ingredientes do creme, cuja produção atinge milhões de potes por ano.

Eventos climáticos como a geada “podem ter impacto” sobre a produção turca, afirmou a fabricante de doces em nota, acrescentando, no entanto, que não espera interrupções no fornecimento, mencionando fontes alternativas da Itália, Chile e Estados Unidos.

Esse é mais um lembrete de quão vulnerável continua sendo o suprimento global de alimentos — desde produtos como Nutella até itens essenciais como trigo — às mudanças climáticas. Os preços do café e do cacau dispararam — impulsionados por eventos climáticos imprevisíveis. Os estoques de azeite foram afetados por ondas de calor cada vez mais intensas no sul da Europa. O Brasil, um dos maiores exportadores agrícolas do planeta, enfrentou no ano passado a pior seca de sua história.

Preços das avelãs turcas disparam após geada afetar a colheita
"Nos últimos anos, especialmente devido às mudanças climáticas, as temperaturas têm sido elevadas durante os meses de inverno e as árvores frutíferas estão despertando mais cedo. Por isso, geadas no início da primavera, que antes quase não eram discutidas, passaram a representar um grande risco para a fruticultura" declarou o presidente da Associação de Engenheiros Agrônomos do país.

Alguns agricultores que cultivam avelãs nas altitudes mais elevadas perderam entre 50% e 100% de sua produção, segundo Cem Senocak, que preside o Conselho Nacional da Avelã.

Custo político
Os danos às lavouras de avelãs também podem trazer problemas políticos para o presidente Recep Tayyip Erdogan.

Cerca de 450 mil famílias dependem do cultivo de avelãs para seu sustento, concentradas nas províncias do Mar Negro, no norte da Turquia — uma região considerada bastião de apoio a Erdogan, que é natural da área.

O próprio presidente costuma anunciar, todos os anos, o preço que o conselho estatal de grãos pagará aos produtores.Porém, com preços considerados "decepcionantes" isso acabou acarretando em perda de votos.

A onda de frio fora de época também pode pressionar os preços dos alimentos de forma mais ampla na Turquia, alertou o banco central em seu último relatório de inflação, dificultando os esforços para conter o crescimento de 35% nos preços.

De olho no lucro
Ainda assim, alguns investidores estão buscando maneiras de lucrar com a escassez. A gestora finlandesa Evli informou que adicionou à sua carteira Emerging Frontier a empresa turca de processamento de avelãs Balsu Gida Sanayi ve Ticaret AS, prevendo que os preços no atacado da noz possam quintuplicar no próximo ano, com base em uma análise dos impactos de geadas anteriores e do avanço de infestações por pragas.

O principal grupo exportador da Turquia já reduziu sua estimativa para a colheita deste ano, que ocorre entre agosto e setembro, em 20%, para 609 mil toneladas

"Simplesmente não há de onde tirar essas avelãs que faltam em grande escala até a colheita do próximo ano, em agosto de 2026" escrevereu a Burton Flynn e Ivan Nechunaev, consultores do fundo, em um post de blog no mês passado.

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