Dólar fecha abaixo de R$ 5,40 pela primeira vez em mais de um ano
Dados de inflação nos EUA lido como positivos enfraqueceram moeda globalmente
O dólar comercial encerrou em forte queda de 1,06%, a R$ 5,385, o menor valor desde junho de 2024, pressionado por dados de inflação nos Estados Unidos. A moeda já recua 12,85% no ano.
Por aqui, os números mais benignos do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também trouxeram fôlego para o real e para a Bolsa de Valores. O índice Ibovespa subia 1,68%, a 137.896 pontos próximo às 16h45.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos marcou avanço mensal de 0,2% em julho, em linha com o consenso do mercado reunido pela agência Bloomberg. Já o anual ficou em 2,7%, marginalmente abaixo da expectativa de 2,8%.
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— (O dado) “escanteou” o receio de uma surpresa altista da inflação. Porque a gente viu na última leitura de inflação alguns sinais amarelos que poderiam nos trazer contornos de que as tarifas do (presidente dos EUA, Donald) Trump poderiam trazer pressão adicional de maneira crescente, ao passo que entramos nesse segundo semestre. Não foi o caso, o dado veio em linha com o esperado — explica Matheus Spiess, estrategista da Empiricus.
O CPI de julho aumentou as projeções do mercado para que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) corte os juros nos EUA já em setembro, o que tende a tornar a renda fixa americana menos atrativa e redirecionar parte dos investimentos para outros mercados. Isso, por sua vez, enfraqueceu o dólar globalmente.
O índice DXY, que mede a força da moeda americana frente a uma cesta de outras seis divisas, cedia 0,46%, a 98,07 pontos, por volta das 16h44.
Além disso, Spiess também destaca que o real pode ser uma das moedas mais beneficiadas deste movimento de corte de juro nos EUA, uma vez que a Selic segue elevada. Este diferencial entre as taxas tende a favorecer a operação de carry trade, em que o investidor toma dinheiro emprestado num país onde os juros são baixos e aplica em outro no qual a taxa é elevada. Portanto, aumentando a circulação de dólar no Brasil e pressionando o valor da moeda americana diante da brasileira.
— O carry (trade) está muito alto, o juro real brasileiro está muito alto. (...) Se você corta juros nos Estados Unidos, você tem mais folga para cortar juros para cá, sem que haja pressão de câmbio. Então, você tem uma dinâmica mais positiva para a moeda brasileira.
Para Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, os números “indicam efeitos modestos das tarifas comerciais” na inflação.
— O mercado interpretou o dado de forma benigna, (...) indicando que o Fed pode manter sua postura cautelosa, mas corroborando a expectativa de cortes de juros a partir de setembro, o que alimenta o otimismo com ativos de risco pela atratividade relativa e a expectativa de um ambiente de negócios mais dinâmico. A leitura sugere que a inflação está desacelerando de maneira gradual, sem justificar uma mudança radical na política monetária, mas afastando parte dos temores de um cenário de estagflação.

