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Dona da cervejaria Corona, mulher mais rica do México traça sucessão para sua fortuna de US$ 8 bi

Maria Asunción Aramburuzabala enfrentou uma crise há três décadas

Cerveja CoronaCerveja Corona - Foto: Divulgação

María Asunción Aramburuzabala enfrentou uma crise há três décadas, quando seu pai faleceu antes de finalizar os planos para transferir uma das maiores fortunas da América Latina. Ela teve que conciliar a criação de dois filhos pequenos com as batalhas na salas de reuniões, enquanto oportunistas buscavam garantir uma parte da herança da executiva vinda do Grupo Modelo, a cervejaria Corona, fundada há um século.

Agora, ao se aproximar da idade que seu pai tinha quando faleceu, a bilionária mexicana de 62 anos está garantindo que a história não se repita. À medida que ela se afasta das tarefas do dia a dia, María Asunción contratou executivos com décadas de experiência em finanças para ajudá-la a dirigir a empresa da família, a Tresalia Capital.

Sua fortuna disparou sob sua direção, atingindo US$ 8,2 bilhões, tornando-a a segunda mulher mais rica da América Latina, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg, que avaliou seu patrimônio líquido pela primeira vez.

Há três anos, ela contratou Rodolfo Pérez, vindo do Goldman Sachs Group, para sucedê-la como CEO da Tresalia, enquanto ela continuava na presidência. Durante a pandemia, incorporou o veterano do Credit Suisse, Antonio González Anaya, como diretor de pesquisa, e, no ano passado, acrescentou Bruce Zimmerman, ex-diretor de investimentos do escritório familiar de Ray Dalio, como novo CIO.

Essas contratações de alto nível abrem caminho para que ela transfira seu patrimônio para a próxima geração, ao mesmo tempo em que os ajuda seus descendentes a evitarem as pressões que ela enfrentou após a morte do pai.

Uma pesquisa recente com 317 clientes de family officies do UBS Group revelou que quase metade ainda não possui um plano de sucessão, muitas vezes porque os beneficiários não o consideram prioridade. Mas esse não é o caso da bilionária comumente conhecida como “Mariasun”.

"Não quero ser aquele típico líder que faz tudo isso e, então, você sabe, de repente surge um vazio e tudo vai muito mal”, declarou Mariasun em uma entrevista a um podcast em 2021. “Parte da minha missão é que a transição seja super bem-sucedida.”

Seus filhos, Pablo e Santiago Zapata Aramburuzabala, têm agora cerca de 30 anos, uma idade semelhante à de sua mãe quando assumiu o comando do império familiar. Mas, ao contrário dela, eles têm tempo para conquistar seu lugar no mundo dos negócios antes de dirigir a Tresalia.

Em fevereiro, Pablo e Pérez, diretor-geral da Tresalia, juntaram-se a Santiago no conselho de administração da filial espanhola da empresa de fitness Barry’s Bootcamp, que captou capital adicional sem revelar a fonte. Pablo, o mais velho, também é diretor-geral da Tresalia e ajuda a supervisionar a divisão de private equity, segundo seu perfil no LinkedIn.

— Não se trata de um pequeno escritório familiar, mas sim de uma pequena empresa de gestão de investimentos — afirma Christina Wing, cofundadora da Wingspan Legacy Partners, firma consultora para famílias ultrarricas. — Se as pessoas que ela contratou se encaixam em sua estratégia, a configuração é perfeita.

María Asunción preferiu não fazer comentários para este artigo, assim como seu filho Pablo. Santiago não respondeu a um pedido de comentário.

“Mundo desabou”
María Asunción se tornou o centro das atenções quando seu pai, Pablo, morreu de câncer em 1995, aos 63 anos. Por não ter um filho homem como herdeiro, sua morte deixou um vazio de liderança em uma cultura empresarial tradicionalmente dominada por homens.

“O mundo desabou sobre nós”, declarou ao New York Times em 2002. “Amigos, inimigos, namorados... todos queriam o controle. Menos de um mês após a morte do meu pai, começaram a aparecer pessoas dizendo que ele os havia deixado responsáveis e que iam cuidar das coisas por nós.”

O que estava em jogo era a participação familiar no Grupo Modelo, a cervejaria com sede na Cidade do México que o avô de Mariasun cofundou em 1925. A empresa cresceu rapidamente, adquirindo concorrentes e lançando novas marcas. Em 1979, lançou a Corona no mercado dos Estados Unidos, onde se tornou a cerveja importada mais vendida.

A Anheuser-Busch, fabricante da Budweiser, começou a comprar ações do Grupo Modelo nos anos 90 até alcançar cerca de metade da empresa. María Asunción demonstrou rapidamente sua habilidade como negociadora e liderou as conversas para vender essa participação. Em 1996, ano em que fundou a Tresalia, foi nomeada vice-presidente do Grupo Modelo.

Após a aquisição da Anheuser-Busch pela InBev, o grupo combinado comprou os 50% restantes do Grupo Modelo em 2013, transação pela qual pagou cerca de US$ 20 bilhões. Ela ajudou a convencer os acionistas a aceitar a oferta melhorada da Anheuser-Busch InBev SA.

Embora não se saiba o percentual exato que sua família possuía, foi um dos três principais grupos beneficiados. A empresária usou parte dos ganhos para comprar ações da AB InBev e ingressou no conselho da empresa junto com Valentín Díez Morodo, outro descendente dos fundadores. No total, a família Aramburuzabala recebeu pelo menos US$ 3 bilhões com a venda, segundo o índice de riqueza da Bloomberg.

Três aliadas
Formada em Contabilidade por uma das universidades mais prestigiadas do México, Mariasun faz parte de um grupo crescente de mulheres ultrarricas que fundaram family offices, embora poucas com tanta trajetória.

A Tresalia — acrônimo de Tres Aliadas, em referência à sua mãe, sua irmã e ela mesma — tem investido ao longo dos anos em empresas como Grupo Televisa SAB, a marca Tory Burch e a operadora de centros de dados Kio Networks, das quais depois se desfez.

Ela também tem mantido proximidade com o setor de consumo, investindo na Kraft Heinz e no negócio de café, junto a outros acionistas bilionários da AB InBev, como Alejandro Santo Domingo, chefe da família mais rica da Colômbia.

Ela deixou o conselho da AB InBev em 2023, após uma década como diretora. Também renunciou ao seu cargo na Coty no início deste ano, ficando sem posições em empresas listadas em Bolsa.

Hoje, dedica mais tempo aos seus passatempos: viagens, fotografia de animais e mergulho em águas profundas, paixão que transmitiu aos filhos, que se definem como exploradores oceânicos.

"Não sei se é porque meu pai morreu jovem ou porque as mulheres da nossa família também não vivem muito”, disse ela no podcast. “Mas as coisas que você quer fazer, tem que fazê-las o mais rápido possível.”

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