Energia limpa no mapa do Brasil
O Brasil é apontado como uma potência mundial na geração de energia a partir de fontes renováveis, com 84% de sua matriz elétrica oriunda de sistemas sustentáveis
Grande território com enorme disponibilidade de recursos naturais, o Brasil é uma referência em energias renováveis. As fontes de energia são diversas, advindas do sol, vento, água e cana-de-açúcar, por exemplo. O cuidado com esses recursos é de extrema importância para o País crescer como um produtor, consumidor e exportador energético.
“Na área de sustentabilidade, o Brasil é uma potência mundial. A matriz de energia elétrica no Brasil é composta por 84% de fontes renováveis e limpas, enquanto a média mundial é de 25%. A principal fonte é a hidráulica, e também tem a biomassa que tem grande participação e é importantíssima, principalmente derivada da cana-de-açúcar, com participação muito efetiva”, disse Anísio Coelho, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) e presidente do conselho temático de Meio Ambiente da federação.
Globalmente, o mundo vive um período de transição energética, em função das mudanças climáticas. Durante todo o século 19, a economia era praticamente toda movida a combustíveis fósseis, que contribuem para a elevação dos gases de efeito estufa na atmosfera. Na avaliação de Anísio, “estamos vivendo fenômenos climáticos cada vez mais graves e frequentes. Isso gera um custo econômico e social grande, por isso a humanidade vai ter que mudar sua matriz energética. Nessa transição, as nações estão procurando fontes de energia limpas e renováveis, e, nesse sentido, o Brasil é um exemplo para o mundo”.
Crise hídrica
Este ano, muito se ouviu falar no agravamento da crise hídrica. Os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que são responsáveis por cerca de 70% da geração hídrica do Brasil, alcançaram níveis baixíssimos. Por isso, o País precisou acionar usinas térmicas, mais caras e mais poluentes, para a geração de energia. Com isso, o governo brasileiro criou bandeira tarifária Escassez Hídrica – que entrou em vigor no dia 1° de setembro deste ano –, no valor extra de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos, encarecendo a conta dos consumidores brasileiros.
“As regiões Sudeste e Centro-Oeste estão vivendo a maior estiagem dos últimos 91 anos. Por isso o Operador Nacional do Sistema Elétrico foi obrigado a liberar as termelétricas a gás natural, combustível fóssil, além de liberar as termelétricas a óleo diesel, fóssil e caro”, explicou o vice-presidente da Fiepe.
Sistema robusto
“Nessa crise de 2021, a região Nordeste forneceu energia para o Sudeste de julho a novembro, predominantemente a hidráulica a partir das usinas do Rio São Francisco, a solar e a eólica. Isso mostra a robustez do sistema elétrico brasileiro, que é interligado, podendo ter transferência de energia para outra região”, contou o diretor de engenharia da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), Reive Barros.
O cenário mostrou como o Nordeste é importante na geração eólica e solar. Ele explica que essas fontes estão predominantemente no Nordeste, principalmente a eólica, levando impacto socioeconômico aos locais onde os projetos são instalados. “Elas elevam o Índice de Desenvolvimento Humano nas cidades por vários fatores, como o arrendamento das terras em que o proprietário recebe renda e as famílias ganham melhores condições”, ressaltou.
A matriz elétrica
Atualmente, o País tem uma capacidade instalada de 186 gigawatts, dividida entre as fontes de energia. Para daqui a 10 anos, a projeção é chegar a 236 gigawatts, sendo 80% composta por fontes renováveis. “O Brasil tem um planejamento decenal da matriz elétrica, feito pela equipe do Ministério de Minas e Energia. Esse plano faz uma análise macroeconômica do crescimento do País e estuda as condições desse crescimento. A projeção para os próximos 10 anos é de o Brasil crescer, em média, 2,9% ao ano no Produto Interno Bruto (PIB). Para isso vai ser preciso agregar 50 gigawatts na matriz elétrica brasileira”, explanou Reive Barros.
Recursos naturais dão destaque ao Brasil. Foto: Tatiana Leart/Chesf
No Brasil, há atributos importantes que dão segurança para os interessados investirem no setor de energia. “O primeiro é que temos regras claras e transparentes de estabilidade regulatória e jurídica. O segundo é que temos contratos de longo prazo. O terceiro é que temos garantia de recebíveis, ou seja, se o agente gerador assina o contrato, ele tem garantia de receber o que tem no leilão. E, por último, o Brasil tem previsibilidade, pois os leilões são anunciados com três anos de antecedência”, disse Reive Barros.
Na avaliação de Luiz Otávio Koblitz, presidente da empresa Koblitz, para o mercado da energia atuar de forma mais limpa, é preciso que o mundo busque fontes de energia renováveis, que não comprometam o meio ambiente. “O Brasil é um país muito sustentável, graças às hidrelétricas que são renováveis, somadas à eólica, solar e biomassa, que geram sua própria energia e para fora. É fundamental que o mundo busque sustentabilidade, sem produzir gases do efeito estufa”, disse.
A empresa tem como objetivo a prestação de serviços, consultoria, prospecção e participação em outras sociedades com o foco na geração de energia elétrica a partir das fontes renováveis.
Hidrogênio verde
Na transição energética que o planeta está passando, o Brasil também vislumbra explorar, de maneira estruturante, o hidrogênio verde a partir de 2030. Há projetos que estão sendo estudados para o Complexo Industrial Portuário de Suape, em Pernambuco, e para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará.
Produção de etanol. Foto: Divulgação
“O hidrogênio é como se fosse um vetor energético. Para gerar, ele precisa de uma fonte de energia para separar o hidrogênio (H2) do oxigênio (O2) que existem na água (H2O). O hidrogênio verde é chamado assim porque a fonte que vai ser utilizada para fazer essa eletrólise é uma fonte renovável, como a eólica e a solar”, explicou Anísio Coelho.
“Está se estudando para daqui a alguns anos o Brasil exportar para a Europa o hidrogênio para fazer a transição energética eliminando o carvão, por exemplo. É o Brasil sendo vislumbrado para uma nova commodity”, destacou Reive Barros.
E há ainda mais alternativas para esse novo ambiente do hidrogênio. “Enquanto muitos países buscam maneiras de desenvolver a produção de hidrogênio verde, a partir da eletrólise da água com energia elétrica renovável, em muitos casos eólica e fotovoltaica, que são energias intermitentes, outros países como o Brasil podem utilizar a extraordinária máquina biológica que é a cana-de-açúcar, que produz etanol e biometano fáceis e práticos de produzir, armazenar e distribuir de forma econômica, eficiente, e segura”, disse Plínio Nastari, presidente da Datagro.


