EUA não quer conversar sobre tarifaço, diz Amorim: "Desrespeito e intromissão"
Assessor internacional de Lula afirma que soberania do Brasil é "inegociável"
O assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou, nesta quarta-feira, que os Estados Unidos não querem conversar com o Brasil sobre o tarifaço, porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respeita a independência entre os poderes no país. Amorim afirmou que Lula não vai ceder e que a soberania nacional é inegociável.
— A soberania do Brasil é inegociável. Eles (os EUA) não querem negociar. Nunca vi esse nível de desrespeito e intromissão — disse Amorim, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.
Desde o dia 9 de julho último, as relações entre Brasil e EUA vêm se deteriorando. O presidente americano Donald Trump decidiu aplicar uma sobretaxa de 50% sobre parte dos produtos brasileiros exportados para aquele país, como café, carne, pescados e calçados, e praticamente condicionou uma negociação ao arquivamento do processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
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No próximo dia 2 de setembro, Bolsonaro começa a ser julgado por tentativa de golpe de Estado. Atualmente, o ex-presidente está em prisão domiciliar e o responsável pela medida, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, vem sofrendo sanções da Casa Branca, como o bloqueio de operações financeiras com empresas americanas.
Segundo Amorim, o tarifaço de Donald Trump deixa ainda mais fragilizado o sistema multilateral de comércio. Ele afirmou que a adoção de medidas protecionistas pelos EUA afeta o mundo todo.
— A ação unilateral de aumentar tarifas decreta o fim do sistema multilateral de comércio — disse.
Em resposta às críticas da oposição, que afirma que o governo não quer negociar, o principal conselheiro de política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou que o diálogo tem sido buscado sem sucesso. Celso Amorim lembrou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a marcar uma videoconferência com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, que foi cancelada sem explicação.

