Incerteza no comércio global pode gerar ''graves consequências negativas'', alerta OMC
Em nota, a diretora-geral do organismo internacional, Ngozi Okonjo-Iweala, diz que volume de negócios pode cair entre 0,2% e 1,5% neste ano
A incerteza causada pelas tarifas dos Estados Unidos ameaça gerar "graves consequências negativas" para o comércio global, com quedas de volume entre 0,2% e 1,5% em 2025, alertou a Organização Mundial do Comércio (OMC) nesta quarta-feira.
Este mês, o presidente americano, Donald Trump, impôs tarifas alfandegárias de pelo menos 10% sobre as importações de bens de todo o mundo, juntamente com taxas de 25% sobre o aço, o alumínio e os automóveis.
Leia também
• Bolsas da Europa fecham em alta, mas incertezas sobre tarifas fazem ASML cair 5%
• China convoca reunião informal do Conselho de Segurança da ONU para falar de tarifas, diz agência
Na semana passada, concedeu uma pausa de 90 dias na cobrança das tarifas para dar espaço à negociação com dezenas de países, exceto a China, à qual impôs tarifas adicionais de 145%.
"Estou profundamente preocupada com a incerteza em torno da política comercial, particularmente o impasse entre os Estados Unidos e a China", disse Ngozi Okonjo-Iweala, diretora-geral da OMC.
"A incerteza persistente ameaça frear o crescimento mundial, com graves consequências para o mundo, especialmente para as economias mais vulneráveis", acrescentou, em nota.
No começo do ano, a OMC previa uma expansão do comércio mundial em 2025 e 2026, com um aumento do comércio de mercadorias em linha com o PIB mundial e um crescimento ainda maior no setor de serviços.
Mas os economistas da organização reavaliaram a situação após o 'tarifaço' de Trump.
"Nas condições atuais", isto é, levando em conta a suspensão das tarifas anunciadas por Trump, "o volume do comércio mundial de mercadorias deveria diminuir 0,20% em 2025", antes de mostrar uma "modesta recuperação" de 2,5% em 2026, afirmou a OMC.
Mas a organização também enfatiza que "há grandes riscos de deterioração, como a aplicação de tarifas recíprocas e efeitos colaterais mais amplos da incerteza em termos políticos, o que poderia levar a um declínio ainda mais acentuado — de 1,5% — no comércio global de mercadorias e prejudicar os países menos desenvolvidos voltados para a exportação".
Espera-se que o declínio seja particularmente acentuado na América do Norte, onde as exportações devem cair 12,6%, disse a OMC.
Okonjo-Iweala também assinalou que o "forte declínio previsto do comércio bilateral entre os Estados Unidos e a China" poderia ter "consequências de maior alcance".
Embora as transações entre os dois países representem apenas 3% do comércio mundial de mercadorias, a chefe da OMC alertou que uma "dissociação" destas duas grandes economias" poderia levar a "uma fragmentação mais ampla da economia mundial", organizada "em dois blocos isolados, em função de linhas geopolíticas".
Neste cenário, "nossas estimativas sugerem que o PIB mundial diminuiria quase 7% no longo prazo" até 2040, afirmou.

