Jogos como Candy Crush e Free Fire turbinam indústria de games no Brasil, que vai dobrar até 2028
Com entretenimento barato e acessível, games casuais, sociais e por aplicativos crescem sem se preocupar com crise
Com adesão massificada e acesso facilitado via celular, os jogos casuais e sociais, como Candy Crush e Free Fire, puxam o mercado e devem representar mais de 83,8% do faturamento nacional da indústria de games no Brasil nos próximos três anos.
O setor deve dobrar de tamanho no Brasil até 2028 e alcançar US$ 3,67 bilhões (R$ 21,5 bilhões pelo câmbio atual) em faturamento, com um crescimento médio anual de 16,3%. É o que mostra um novo relatório da PwC sobre esse mercado obtido pelo Globo.
— O segmento de games por PC e consoles tem um um mercado estabilizado em crescimento de 5% a 6% em média, que não é ruim. Mas o crescimento substancial mesmo está nos jogos de aplicativos. — explica Fernando Queiroz, sócio e líder do setor de tecnologia, mídia e telecomunicações (TMT) na PwC Brasil.
Segundo ele, a expectativa de desaceleração global não muda a projeção da consultoria. A avaliação de Queiroz é que o “entretenimento barato e acessível” torna o mercado de games casuais e sociais “relativamente blindado” em momentos de recessão.
Hoje, cerca de 75% da população brasileira joga no celular, ressalta o analista, enquanto o tempo médio diário de conexão à internet no país supera nove horas, uma das maiores médias do mundo. O custo de entrada baixo para esse tipo de jogo é baixo.
— É diferente de um ingresso de R$ 1.200 para um festival. Aqui, o acesso inicial ao game é gratuito — compara o analista da PwC.
Efeito da 'guerra tarifária'
Enquanto o segmento de jogos por aplicativo cresce a dois dígitos, os mercados tradicionais de consoles e PC enfrentam um ritmo mais lento.
A receita de videogames e e-sports no Brasil foi de US$ 1,7 bilhão em 2023, com um crescimento de 9,4%, quase metade da taxa do ano anterior. A expectativa é de que o segmento, que gerou US$ 629 milhões em receita em 2023, tenha um crescimento médio no período de 18,7%.
Com a “guerra tarifária” deflagrada por Donald Trump em escalada, o imparto para o setor que depende de equipamentos produzidos na China é monitorado com atenção pelo setor. A medida pode afetar diretamente o mercado de consoles, que tradicionalmente é mais sensível a variações de preço. Ainda assim, Queiroz reforça que o efeito sobre a indústria brasileira como um todo deve ser limitado, devido à dominância dos jogos casuais.
Em 2023, do total de US$ 1,7 bilhão de receita movimentado pelo setor no Brasil, US$ 667 milhões foram gerados por publicidade. Até 2028, a PwC estima que a receita de anúncios nos aplicativos de games cresça a uma taxa anual composta de 24,8% no Brasil, acima dos 15,4% globais. O crescimento tem sido puxado por novas formas de monetização com publicidade, ressalta o sócio da PwC:
— Antes, as propagandas rodavam no meio dos jogos. Mas isso era um incômodo para o usuário. Começou-se, então, a ser criado o que se chama de anúncio premiado. Ao assistir aquela propaganda, você tem o direito a ganhar uma vida, subir um nível, fortalecer um determinado personagem ou colocar uma roupa especial — exemplifica Queiroz, que avalia que a estratégia tem começado a atrair mais marcas.
Domínio do Ásia-Pacífico
O analista ressalta que essa adesão à publicidade em troca de vantagens nos jogos funciona principalmente em países emergentes, como o Brasil, em que o custo de uma assinatura de um game pode ser uma barreira para a população.
No cenário global, a Ásia-Pacífico lidera o mercado, com previsão de US$ 181,8 bilhões em receitas até 2028, mais da metade do faturamento global da indústria, mais de vinte vezes o projetado para a América Latina, de US$ 6,9 bilhões.
A região fica atrás do consolidado esperado para Europa, Oriente Médio e África (US$ 56,7 bilhões) e da expectativa da consultoria para América do Norte (US$ 88,7 bilhões).

